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Desembarcamos em uma pista de pouso improvisada, na parte rural de Okayama, quase 8:00 da manhã. A casa ficava,literalmente, no meio do nada, era rústica, feita completamente de uma madeira escura e provavelmente cara, mas sua decoração na parte interior era bem moderna, contrastando com sua aparência antiga por fora. A cara de Hanse. Jake parecia estar de luto, tão sério que para quem o conhecesse e o visse de longe com seus óculos escuros e cachecol em tom vinho que ele roubou do avião diria que era outra pessoa, de preferência um hétero que havia acabado de descobrir que sua esposa o trai com o vizinho da frente há mais de três anos.

Sunghoon não parecia muito diferente, tudo bem que o clima de enterro pra ele já era costume, mas já tava começando a doer até em mim, ver minhas gays tristes também me deixa mal, poxa. Pouco antes de pousarmos, ele se grudou em mim e não saiu mais de perto, tanto que mesmo após termos chegado na casa de Hanse - a qual ficaríamos por, aproximadamente, menos de uma semana - , ele ainda continuou no meu encalço.

- Vem cá gay, conta pro tio, o que aconteceu pra você 'tá jururu desse jeito? - Pergunto depois de chegarmos, ninguém tinha bagagem mesmo então sem preocupações quanto desfazer as malas. Estávamos na cozinha, Bisco tinha acabado de disparar em direção a sala para explorar a casa e uma aranha bem pequena, dourada e com patas tão finas quanto minha paciência descia pela parede para conhecer os envasores de sua propriedade. Aposto que deixaram ela aí só de pena, porque a casa estava um brinco, viu? Entendo a pessoa que fez essa boa ação, eu também sempre tive pena de esmagar as coitadas dessas aranhazinhas de graça assim.

- Estou preocupado com meu pai, Sun. Você sabe como ele ficou da última vez, não sabe? - A careta de desgosto que fiz foi inevitável. Claro que sabia, da última vez que Sunghoon resolveu dar perdido em todo mundo e sumir por três dias, o velho passou cada mínimo segundo que tinha me infernizando e insistindo que eu sabia porque sabia onde estava "aquele irresponsável" do seu filho.

- Infelizmente sei sim, mas quando voltarmos você se resolve com ele, poxa. O tio Woojin é chato pra caralho, sai de ré, até lá ele já vai estar preocupado demais pra te infernizar. Ele 'tá bem de saúde, o pai da Takara vai dar o jeito dele lá com os nossos pais e nós não teremos formas de contato com eles por um bom tempo, tudo certo. Você tem que ficar um pouco longe desse povo tóxico, vai fazer bem. - Respondi indo até a geladeira para pegar água e olhei brevemente na direção em que a aranha estava antes, percebendo que a mesma não estava mais lá. Triste vida.

- O povo tóxico é minha família, eles que me bancam, então assim, - o Park deu uma risadinha irônica - não.

- Mas que gay abusada, só por isso agora vou esfregar na sua cara que você não tem outra alternativa há menos que queira morrer. - Empinei meu nariz e bebi um pouco da água em meu copo.

- Vou é dar um soco nesse seu nariz de rinoplastia aí. Se eu morrer, pode apostar que eu te levo junto. - Quando eu estava prontíssimo para responder essa salafrariedade, um estrondo e um grito soaram em algum canto da casa. Puta que pariu, ninguém tem um dia de paz aqui.

- Puta que me pariu, é o Jake! - Sunghoon mal terminou de falar e já saiu correndo na direção em que o estrondo foi escutado, então larguei meu copo em cima do balcão antes de segui-lo.

O Park parecia perseguir algum fio invisível, corria em uma direção tão exata que nem a cruz persegue Satanás, e antes que eu me desse conta ele parou, absolutamente do nada. Bati contra as costas do mesmo, xingando-o baixinho antes de olhar a minha frente, e sinceramente, que porra é essa meu véi?

Takara e Niki estavam agarrados no chão, e o Shin por algum motivo estava embolado junto naquilo com eles também. Os dois gêmeos falavam coisas em japonês que eu não entendia,  mas Jay que havia acabado de brotar ali parecia ter entendido muito bem quando olhou para os dois e depois me encarou com aqueles olhos naturalmente de plástico em tom esverdeado arregalados.

Niki 'tava puto, muito puto, tão puto que só a expressão que ele tinha já fazia qualquer um ajoelhar e implorar pela integridade do cu. Ai papai, é hoje que a jiripoca pia.

- E eu realmente espero que não seja pra mim. -

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- Você não tá falando sério! - Jungwon exclamou, segurando o cigarro entre o indicador e o médio e afastando o objeto de seus lábios enquanto ria. - Realmente quer que eu adoçe Takara pra você só porque ela foi lerda ao ponto não ter se tocado antes que você e Niki tavam se pegando fora do desafio, desde o dia do jogo?

- Para de rir, capeta! Como pode você ter essa carinha de anjo e ser tão venenoso assim, sinceramente. - Sunoo bufou irritado. Sabia que o Yang só estava o provocando por diversão, mas ainda sim ele sempre caía no jogo do mesmo, se irritando além da conta. - Devia ter falado pro Jay te trocar por um pônei enquanto podia.

- Jay não se sentiria confortável de montar em um pônei, ele tem muita pena dos animalzinhos. - O Yang falou antes de bater levemente com o indicador em seu cigarro, deixando as cinzas caírem. Estavam do lado de fora da casa, e em sua outra mão, girou uma pequena faca entre os dedos, observando o alvo que estava há alguns metros de si e localizando sua mira na parte central do mesmo. Posicionou o objeto cortante com sua  ponta na direção da tábua de madeira e se posicionou com um pé á frente de seu corpo, apoiando todo o seu peso sobre a perna que estava atrás de si.  Ergueu seu braço e tomou um pequeno impulso, antes de soltar a faca e arremessá-la com precisão, longo vendo a mesma se enterrar no pedaço de madeira e sorrir vitorioso. - Direto no alvo.

- Já você não tem consideração nenhuma com o pobre gado, né? Por que monta no coitado todo dia. - Graças a seu reflexo, a única coisa que escutou foi o zumbido da faca voando rente ao seu ouvido, pois se afastou á tempo de não ser atingido pelo objeto cortante que foi lançado por Jungwon. - Se calou é porque consente. - mais uma faca voadora passou raspando ao seu lado, antes de o mesmo correr para dentro da casa as risos.

- Você sabe muito bem o que realmente acontece. - Mais uma faca voou e se fincou na madeira da porta, mas Sunoo a fechou bem a tempo.

- Jura que você ainda dá trela pro Sunoo? - Jay misteriosamente apareceu no local, rindo soprado antes de rodear a cintura de Jungwon com seus braços.

- De onde você saiu, e há quanto tempo 'tava escutando? - Jungwon ignorou a pergunta do mais velho e devolveu o cigarro á seus lábios, tragando um pouco antes de virar seu rosto para encarar o Park.

- Acabei de voltar junto com Heesung e Hanse, já que eles precisavam resolver algumas coisas e me arrastaram junto, e estou escutando há tempo suficiente.

- Hm, e o que seriam essas coisas? - A fumaça escapava lentamente entre seus lábios.

- Segredo. - Quando viu que Jungwon entre-abriu seus lábios e iria protestar por não saber do que se tratava, Jay imediatamente o calou, colando seus lábios com calma. Ele provavelmente nunca se acostumaria com aquele gosto de nicotina misturada com menta presente nos lábios do mais novo, era refrescante e sereno, como uma noite de outono. - Sem mais perguntas por agora, okay?

Jungwon, mesmo contragosto, concordou com um maneio de cabeça, logo abraçando o pescoço do Park e selando seus lábios novamente enquanto as mãos do maior o puxavam e apertavam sua cintura, causando as famosas borboletas em seu estômago.

Ao mordiscar o lábio inferior do mais velho, Jungwon pensou brevemente: mesmo que consumisse todas as drogas do mundo, nenhuma delas lhe traria as sensações que Jay Park o fazia ter.

𝐈&𝐜𝐫𝐞𝐝𝐢𝐛𝐥𝐞.(hiatus)Onde histórias criam vida. Descubra agora