Vayne
Sempre era maravilhoso desfrutar da amizade de Flynn. Os dois passavam horas brincando até o pôr do sol, onde costumavam subir escondidos numa árvore para assistir toda a cena do tempo passando, até que as estrelas começassem a brilhar no céu.
Flynn esticou uma rosa para Vayne. Ela a pegou com delicadeza e sentiu o cheiro, doce e perfumado do jeito que ela gostava. Às vezes ele era muito doce com ela, talvez doce até demais para o gosto da moça, mas não deixava isso transparecer. O que de fato Vayne queria era viver milhares de aventuras, ser uma guerreira como o pai. Mas sua mãe a desencorajara, tirara toda a esperança da menina de se tornar um dia o que tanto deseja.
"Mulheres cuidam dos maridos, elas não guerreiam, pelo menos não as demacianas". Naquela noite, Vayne se controlara para não debater com a mãe do porquê a princesa Luxanna podia participar de guerras e ela não. A resposta seria óbvia demais: “você tem poderes, por acaso?”. Bufou pra si mesma.
A contragosto, pendurou a flor em seu cabelo, com medo de desapontar seu amigo por ter dado a espécie favorita dela e demonstrar desgosto.
— Você está espetacular esta noite, Vayne
Ela não sabia o porquê, mas algo estava diferente naquela noite, tudo parecia estar... estranho. Flynn parecia mais velho, se dera conta que já estava se tornando um homem barbado. E por lei, ela estava se tornando uma mulher, o que significava...
Vayne mandou os pensamentos para longe, fechando completamente seu semblante.
– Eu disse algo errado? – perguntou Flynn com os olhos transparecendo medo
Sorriu para tentar acalmá-lo e pareceu funcionar, pois segurou sua mão com mais delicadeza.
Algo brilhou em seu olhar e Vayne se concentrou nas constelações acima de sua cabeça. Daria de tudo para que uma estrela cadente caísse na cabeça do melhor amigo.
Foi então que ela ouviu. Parecia que fora a única a ter ouvido, mas era de se assustar que seu amigo não tivesse escutado os gritos.
– Você não ouviu? – perguntou intrigada
– Acho que estou tão nervoso que só consigo ouvir as batidas aceleradas do meu coração e...
Ela rosnou.
– Flynn, eu estou falando sério, eu ouvi gritos, alguém pode estar em perigo
– Minha querida, eu não escutei absolutamente nada. Acho que essa sua cabecinha que fica inventando histórias por aí pra você se tornar a grande guerreira e blá-blá-blá.
Ela estava agora mesmo se questionando como um dia se tornaram amigos e também tentando encontrar o objeto mais próximo para atirar na cara dele. O mais próximo era um galho, mas o dano poderia ser imenso, preferiu apenas oferecer uma careta, ganhando um riso em troca.
Sem olhar pra trás, Vayne mergulhou na noite em busca da origem dos gritos. Era sempre assim, sem despedidas.
Ao passar pela vila, ninguém parecia ter escutado além dela. Teria sido engano? Flynn estaria certo? Ela estava tão ansiosa e sonhando alto que dera agora para escutar coisas?
Um grito ecoou da direção leste.
Seus passos se tornaram mais firmes e caminhou por aquela direção. Só então se dera conta que estava fazendo o caminho de casa. Um frio no estômago a atingiu com força e ela podia ter jurado que sentiu gosto de sangue.
Passando pela tenda de frutas, Astera a olhara com curiosidade, diretamente para a flor em seu cabelo e oferecera um sorriso ambicioso. Era muito tarde para uma moça da idade dela estar àquela hora sozinha, deveriam estar pensando o pior dela. Mas nada disso importava. Como eles não ouviam os gritos agonizantes?
Foi então que tudo aconteceu rápido demais. Como se um lenço mágico fosse retirado de cima da vila, todos estavam com os rostos horrorizados, fechando as tendas e correndo para suas casas. Agora os gritos eram piores e o coração da menina não conseguia se acalmar.
Quando Vayne se deu conta, já estava aos pés da escada de sua casa. Os gritos vinham de lá.
– Papai? Mamãe?
A única resposta que obteve fora um eco, mas não de sua voz, notara. Um arrepio percorreu por sua espinha. Algo estava muito errado.
Quando chegou já sem fôlego e correndo na porta do quarto de seus pais, a porta estava aberta e um rastro de sangue ia em direção a cama.
Com as pernas trêmulas, conseguiu levantar o olhar e se deparou com a cena que ficaria registrada para sempre em sua mente. Senhor e senhora Shaune estavam mortos em sua cama, com os olhos arregalados e as bocas abertas em sorrisos ferozes. Lágrimas de puro terror e dor surgiram nos olhos da filha que seria órfã de agora em diante.
Uma sombra na janela chamou sua atenção.
Seu olhar seguiu cuidadosamente, ao mesmo tempo em que pensava como fugir ou atacar se necessário.
Uma mulher de pele rosa, seios fartos, completamente nua e com chifres na cabeça estava sentada e sorrindo para onde o casal jazia morto.
– Não é uma das cenas mais apetitosas? – disse com uma voz que não parecia nada humana
Vayne não teria medo! Mataria com muito prazer se ela fosse a culpada.
– Como disse?
Ela riu em resposta.
A demônia, deduziu Vayne, se levantou e se aproximou da cama.
– Ah, paixão, pode relaxar...
A vista de Vayne ficou turva e ela perdeu a noção de onde estava pisando, parecia flutuar.
– Vocês humanos são tão patéticos – cuspiu – Veja só, basta botar os olhos em uma mulher e ela conseguirá arrancar dos homens tudo que quiser... se as coisas forem tão fáceis assim, me tornarei rainha! – riu com escárnio
“Ah, criança, seus pais... eram deliciosos, se isso ajudar a te acalmar. Acho que você ainda não tem muito do que eu desfrutar, então...”.
Como se algo se partisse, o mundo voltara a normal e Vayne estava de volta ao seu mundo.
– Você... você os matou?
Era uma pergunta tola, ela sabia, mas precisava ouví-la falar.
– Com muito prazer, mas você tinha quer ver, eles imploraram – sorriu
Os olhos amarelos dela pareciam delinear o corpo todo de Vayne, seus pés pareciam ter enraizados no chão. Pura agonia circundava seu corpo. Mal tinha acabado de completar dezesseis anos e perdera sua família assim, de repente.
Diante da agonia da menina, a demônia em sua frente ampliou seu sorriso.
"Por quê?" ela sussurrava, tremendo, sem reação, sem saber exatamente o que fazer.
"Tenho uma pergunta melhor: por que não antes?". O quarto parecia estar mais escuro conforme a demônia ampliava seu olhar, deslizando pelo corpo da menina diante de si sem parar. Aqueles terríveis olhos brilharam com diversão e essa foi a gota d'água para Vayne.
Apontando um dedo em direção a mulher misteriosa, prometeu:
"Um dia a encontrarei, matarei você e terei o mesmo sorriso que estampa agora em seu rosto. Matarei todos os seus iguais!".
Ela sorriu com as presas aparecendo, como se para saltar a qualquer momento no pescoço da inocente.
"Ah, docinho, eu a esperarei com muito prazer. Mas cuidado, pode ser que eu te cace antes", riu sombriamente, causando mais um arrepio em Vayne. "Evelynn, guarde bem esse nome, garota".
E então partiu, se tornando completamente invisível aos olhos dela.
Diante da cama com o que restara de seus pais, Vayne se ajoelhou, chorou impiedosamente e repetiu a promessa até que adormecesse.
No dia seguinte, quando acordou, sabia o que tinha que fazer. Evelynn deveria morrer e todos de sua espécie deveriam apodrecer no inferno!
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Doce Vingança: Evelynn e Vayne
RomanceAos dezesseis anos de idade, Vayne se deparou com os pais mortos diante da cama, seus corpos ensanguentados e uma mulher com chifres e um sorriso completamente frio. Diante da agonia de Vayne, a demônia em sua frente só ampliava o seu sorriso. "Por...