Capítulo 7

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Capítulo 7

Estava começando a chover no imenso jardim que eu via pela janela. A água caia fina e devagar, apenas uma garoa que molhava o cabelo dos meninos e das meninas que agora corriam para dentro do castelo. Deveria ser onde eu estava agora. O castelo de Hogwarts, um castelo que morei anos de minha vida e da qual não me lembro nada.

Não importa.

Pelo reflexo do vidro eu via os elfos arrumarem minhas coisas, as poucas que eu tinha, em minha mala pequena. Eu iria sair dali, iria para um outro lugar que eu não conhecia e não fazia a menor idéia de onde era. Nem sei por que estava indo, só senti que deveria confiar no que o velho estava me dizendo e deveria ir para esse lugar. Pelo que eu soube é um lugar no meio do nada, sem ninguém, sem nada. Não conseguia ver a lógica disso, mas ele disse que eu ficaria bem e eu acreditei. Estava rezando para que não fosse tolice minha acreditar nas palavras dele, mesmo tendo que ignorar minha intuição que me dizia que o sorriso no rosto dele era um sinal de perigo. Ele estava aprontando alguma coisa, mesmo não o conhecendo eu sabia disso, sentia dentro de mim que eu já passara por coisas assim. Uma pessoa não teria a sensação de djavu se não tivesse vivido uma coisa dessas ainda.

- Senhor Snape, sua carruagem o espera.

O elfo que me avisou estava carregando minha mala que era do seu tamanho e parecia feliz por isso. Mais um que me achava o herói do mundo. Eu nunca fiz nada. Sempre foi o outro eu, será que ninguém percebia isso? Encaminhei-me para a carruagem sem olhar ao redor. Não sentia vontade. Aquele lugar não era meu, era dele. O elfo colocou minhas coisas no chão com uma certa dificuldade e depois correu para abrir a porta que ficava acima da altura que suas mãos conseguiam chegar. Revirei os olhos e abri a porta eu mesmo para o grande espanto do elfo que arregalou os olhos para mim. Tentei afastar essa visão horrenda e entrei na carruagem escura fechando a porta em seguida. Sentei-me no confortável banco acolchoado e esperei que começasse a grande viagem de várias horas.

Depois de alguns minutos minha cabeça já estava começando a rodar, mesmo não conseguindo ver nada dentro da carruagem, eu sabia que estava rodando. O balanço me deixou enjoado e deitei minha cabeça em um travesseiro confortável e cheiroso. O cheiro era doce e leve, um cheiro que me fazia sentir sono. Acabei dormindo enquanto sentia aquele cheiro e tentava me lembrar porque ele era tão familiar.

Quando acordei, a carruagem já não balançava mais, parecia que estávamos em uma estrada plana. Esfreguei meus olhos e arrisquei abri-los. Estava claro, devo ter dormido durante muitas horas. Fechei os olhos novamente tentando me desgrudar daqueles poucos fios de sono que ainda me prendiam ao mundo inconsciente. Era tentador continuar ali, deixar que meu corpo relaxasse, que minha cabeça continuasse a sentir o prazer do travesseiro macio e cheiroso. Mas, aos poucos, minha racionalidade voltou para mim e percebi, talvez tarde demais, que aquilo não era um travesseiro, era uma perna.

Levantei-me rápido demais para meu próprio bem e minha cabeça voltou a rodar.

- Ah! – Gemi e fechei os olhos um momento para depois abrir e olhar para os olhos verdes dele. – O que faz aqui?

- O mesmo que o senhor. – Ele disse sem tirar os olhos de uma revista estranha que ele lia de ponta cabeça. Havia uma luz dentro da carruagem forte o bastante para que pudesse ler o título. O Pasquim. Eu me lembrava dessa revista. – Tudo bem com o senhor, professor?

Eu não respondi.

- O senhor estava tremendo ontem à noite. – Ele começou a explicar. – O senhor dormiu o dia e a noite inteira, já é de manhã.

Ele deve ter entendido minha expressão de quem não estava entendendo nada porque continuou a explicar.

- O senhor tomou uma poção antes de entrar na carruagem e sentiu uma forte vertigem que o fez desmaiar. Depois o senhor dormiu quase o caminho todo.

Ele sorriu de lado e eu senti vontade de bater nele, eu estava morrendo de vergonha, mas felizmente meu outro eu sabia controlar os sentimentos e não corei.

- Por que não me disse que estava aqui, ou não me acordou quando comecei a dormir na sua perna?

- Porque o senhor não estava bem, precisava descansar, e eu não me incomodo de o senhor dormir nas minhas pernas.

Ele sorriu e o sorriso dele me deixou um pouco incomodado, era diferente dos que eu tinha visto até o momento, era seguro, era profundo, não era o sorriso do Harry Potter que eu conheci quando eu acordei na ala hospitalar. Não precisei olhar por muito tempo, logo a carruagem parou e ele saiu me fazendo sinal para segui-lo. Como se fosse um imã minha curiosidade me levou para o lado de fora e eu me vi do lado dele e na frente de uma bela casa de estilo antigo com um jardim maltratado e janelas sujas de pó. Uma casa que ninguém deveria entrar há muito tempo.

- Seja bem vindo. – Ele disse antes de abrir o portão enferrujado e entrar.

Harry Potter era uma figura que ainda me deixava intrigado e o cheiro dele ainda estava impregnado em mim me deixando louco de vontade de senti-lo novamente

Eu estava realmente louco, ou ficando e era culpa dele.

Conhecendo o desconhecido (Snarry)Onde histórias criam vida. Descubra agora