Capítulo 17

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Pov Severus Snape

- Severus, está tudo bem? Você está nesse banheiro faz tempo.

Eu ouvia as batidas da mão de Harry na porta, ouvia sua voz me chamando, mas meu cérebro não processava o sentido de suas palavras, tudo parecia apenas letras soltas no ar. Era tudo muito estranho.

- Já estou saindo.

Mentira. Minha boca só formulara aquela frase, pois inconscientemente eu sabia que Harry acabaria arrombando a porta e eu não queria que ele me encontrasse da forma que eu estava naquele momento. Seria muito ruim explicar o motivo de estar nu sentado no chão gelado com as pernas dobradas e abraçadas pelos meus braços trêmulos.

Eu realmente não queria que ele me visse daquela forma, como um fraco, uma pessoa precisando de ajuda, mas a verdade é que eu estava completamente vulnerável. As imagens da noite fatídica ainda passavam em minha cabeça com muita intensidade e eu sabia que o motivo de serem tão reais era exatamente por que eram reais, eram lembranças da minha vida.

Fechando os olhos eu me lembrei do momento em que Harry, em seu êxtase completo, abriu os olhos e me encarou intensamente. Preciso citar que prendi minha respiração naquele momento, pois jamais esperei me ver dentro de seus olhos, parecia que estávamos treinando oclumência, mas era diferente, pois eu não estava lendo a mente dele, eu estava vivendo aquele momento, vivendo como Severus Snape. Eu me via com Harry em um quarto suntuoso em Hogwarts, meu quarto. Nossos corpos se movimentavam freneticamente embaixo do lençol, o corpo de Harry suava em minhas mãos e sua boca gemia em meu ouvido.

Eu sabia que estava vivendo um momento do passado, pois o Harry em meus braços era ligeiramente mais novo e menos receoso, parecia que fazíamos isso há muito tempo, parecia que nos encaixávamos perfeitamente como se tivéssemos ensaiado por muito tempo a nossa dança.

Não posso dizer que não foi excitante olhá-lo naquele estado, em qualquer momento em que eu estivesse, ver o rosto cheio de prazer de Harry seria perfeito.

Mas a perfeição nunca dura.

Outras lembranças me roubaram aquele momento prazeroso. Mais uma vez eu estava vendo as lembranças antigas de Severus Snape. Sim, Severus Snape, pois mesmo que eu esteja me lembrando, é difícil dizer que sou ele. Meus olhos estavam duros enquanto encarava a figura a minha frente, mas por dentro eu sentia repulsa e vontade de desviar o olhar. O homem reptileno sorria maleficamente para mim dizendo que tinha um presente para me dar. Eu sorri, pois Severus Snape sorriu naquele momento, e segui a passos largos e devagar até uma cela no fundo das masmorras. Havia comensais ali, nojentos e asquerosos. Eu não era como eles, eu tinha classe e postura, mesmo não controlando meu corpo, mesmo apenas vendo todas as lembranças pela mente de Severus Snape, eu sabia que era superior a eles, mas na hora de torturar a trouxa que estava aprisionada, na hora de fazê-la gritar para que os comensais espectadores rissem, naquela hora eu era pior do que eles.

Somente após muito gritar consegui voltar a mim mesmo e me encontrei no chão enrolado no lençol, ensopado de suor e com um Harry preocupado me sacudindo. Fora difícil contar uma mentira para ele, seus olhos preocupados eram verdadeiros demais para que eu conseguisse mentir para eles. Era como se me cobrassem a verdade. Mas eu não podia. Uma boa enxaqueca fora mais que suficiente para convencer o menino de que estava tudo bem.

Ele só não sabia que isso iria piorar.

Não posso dizer as coisas só pioraram, houve certa melhora em alguns aspectos. Após nossa primeira noite, primeira para mim pelo menos, consegui desprender a magia dentro de mim, tive muito mais facilidade em executar os feitiços básicos. Harry me deu minha antiga varinha e consegui ter muito progresso com ela.

Mas nossas noites juntos não eram das melhores, o prazer que o sexo me dava não impedia de eu sentir tremores após olhar nos olhos de Harry e lembrar de mais e mais coisas.

Tudo estava voltando finalmente e eu deveria me sentir bem com isso, feliz até mesmo, eu voltaria a ser eu, mas por algum motivo eu não estava confortável com essa situação e só conseguia parar de pensar em como eu seria daqui pra frente quando Harry me beijava afastando todos os males de mim.

Era bom demais ficar com Harry, sentir seu corpo tremer sob mim, olhar em seus olhos puros, ver seu sorriso. Mas a culpa que eu sentia por ser como sou era demais para aguentar. Por isso eu tomei uma decisão importante e que mais uma vez magoaria Harry, assim como em seu quinto ano. Como fora difícil dizer adeus para ele daquela vez, sei que será mais difícil agora. Tentando segurar as emoções que antes eu não permitiria existir, eu me levantei do chão do banheiro e me vesti respirando fundo. Após alguns minutos sai e me dirigi à cozinha, Harry estava ali, de costas, preparando o jantar. Como eu queria poder esquecer tudo e simplesmente ficar naquela casa com ele. Mas meu passado recém adquirido não permitia, minha consciência não permitia. Eu podia ser o que ele queria, mas não era o que ele merecia.

Doeu olhar em seus olhos quando me aproximei, mais ainda quando apaguei o fogo e o puxei para mim colando nossos corpos. Eu sei que foi egoísmo, mas o queria mais uma vez, queria me esgueirar por sua pele e me aprofundar em seu corpo. Eu queria poder senti-lo antes do fim. Desta vez, quando Harry gritou meu nome e me olhou após seu gozo se espalhar por nós, eu não vi. Não havia mais lembranças faltando, eu estava completo ao mesmo tempo que estava quebrado. A verdade as vezes é nossa pior inimiga, e nesses meses em que fiquei com Harry nessa casa antiga, ela teve pelo menos a decência de me mostrar que eu não podia ficar com ele, eu não era digno.

Algumas horas depois eu ainda olhava para o menino nu que dormia tranquilamente agarrado à um travesseiro, era difícil me distanciar, mas eu precisava. Com dor no peito e me sentindo mais estranho do que jamais senti, deixei a carta escrita a poucos minutos, em cima do travesseiro onde eu deveria estar deitado e sai não olhando para trás.

Conhecendo o desconhecido (Snarry)Onde histórias criam vida. Descubra agora