Capítulo 10

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Capítulo 10

Severus Snape

Para mim não era um novo lar, era um lar. Ao meu ver, eu nunca tive um lugar que eu lembrava ser um lar, poderia ser o lar dele, mas não meu. Quando desci da carruagem, por algum motivo quis voltar e me enfiar na escuridão que era seu interior. A casa que o menino apontava era repugnante, algo estranho, diferente do que eu gostava.

- O que acha?

Harry aproximou-se sorrateiramente então só pude perceber que ele estava tão perto quando o magnetismo do corpo dele me fez sentir vontade de me aproximar.

Eu olhei para baixo e vi sua cara de menino me olhando de uma forma estranha quase tentadora.

- Não acho nada, vamos entrar logo.

- Tudo bem. O senhor é quem manda.

Ele deu meia volta e abriu a porta velha, ela rangeu um pouco, mas finalmente abriu por completo. Ele entrou primeiro, eu o segui sentindo o elfo carregar as malas atrás de mim. O ar da casa era carregado, muito abafado e quente pelos anos em que ficou fechada.

Eu tirei minha capa e coloquei devidamente dobrada no encosto de uma cadeira e olhei o restante da casa. O elfo que estava atrás de mim trouxe todas as malas e colocou no canto do que parecia ser uma grande sala de estar com duas poltronas ao lado de um grande sofá que estava na frente de uma belíssima e malcuidada lareira. No canto havia uma escada que daria provavelmente para os quartos, do lado direito tinha um corredor cumprido que daria na grande e clara cozinha. No meio do corredor havia três portas. Uma delas era do banheiro, a outra era de um pequeno escritório com muitos livros e a outra era de um quarto de hospedes.

Harry mostrava todos os cômodos com um sorriso no rosto, era totalmente diferente do menino que conheci na ala hospitalar de Hogwarts. Ele parecia ter se transformado totalmente depois que eu o mandei embora da ala. Fiquei me perguntando se aquilo era resultado do que eu havia falado, ou o modo como havia falado, mas me dei conta de que ele apenas deveria ter esquecido todo o episódio, talvez ele tenha voltado a ser quem ele era, ele deveria ser sempre assim, afinal todos gostavam dele e não havia como não gostar dele quando ele vinha em sua direção com aquele sorriso aberto, os olhos verdes brilhantes, cabelos arrepiados, bochechas vermelhas e um magnetismo envolvente. Ele era tentador e eu me condenava por querer estar cada vez mais perto dele.

- Professor? – Ele chamou baixinho segurando minha mão

Minha pele parecia queimar com o toque dele. Seus dedos roçavam em minha pele como brasa, meus pelos arrepiaram e eu agradeci que usava sempre aquele sobretudo cobrindo-me os braços e as costas, caso contrário ele saberia naquele momento que eu estava lutando desesperadamente contra a vontade de apertar sua pequenina mão contra meu rosto.

Ele exigia uma resposta, mas eu não conseguia fazer nada além de olhar para seu rosto e seus lindos olhos verdes. De repente, como uma praga, sua pequenina mão ergueu-se até encostar em minha bochecha feito lanças infernais feitas pela própria luxúria. Sem que eu pudesse ter controle minha mão parou em cima da dele apertando-a como se fosse uma pedra preciosa, como se fossem as esmeraldas de seus olhos. Meu Deus, eu o quero tanto! Lutando fortemente contra meus desejos eu larguei sua mão e me virei para a janela olhando a carruagem que ainda estava parada em frente à antiga casa.

- De quem é essa casa?

- Do professor Dumbledore

- E por que estamos aqui?

- Pensei que o diretor já havia explicado. O senhor está aqui porque perdeu sua memória e a magia que tinha dentro de você e o manipulador do Dumbledore acha que por algum motivo estranho e incompreensível eu conseguirei ajudá-lo.

- Como você poderá me ajudar?

- Eu já disse que não sei, professor – Harry suspirou alto e eu percebi a frustração dele – Eu não sei o que Dumbledore quer de mim.

- Você não pode me ajudar. E pare de me chamar de professor. Eu não sou seu professor, ele era. Eu sou apenas alguém.

Aquelas palavras vieram do fundo da minha mente, como se não fosse eu quem disse aquilo. Como se fosse ele dizendo aquilo, sentindo aquilo. Eu estava confuso. Minha mente rodava constantemente. Meus sentimentos me deixavam estranhos e eu me senti vulnerável, eu precisava de um tempo sozinho, um tempo só meu.

Me virei novamente e me deparei com seus olhos preocupados. Foi extremamente estranho quando eu me senti deslizar dentro dos olhos dele e me vi em sua mente.

Era bagunçado e confuso, havia muitas imagens passando ao meu redor, a maioria era de mim, não exatamente eu, não o que eu sou agora. Eu não faria Harry chorar como parece que já fiz, ou sentir raiva como já o fiz sentir. Apesar do ódio que o vi sentir por mim eu vi também o amor. Um amor que ele não deveria sentir por mim, eu não merecia seu amor, eu não mereço nem ao menos a sua atenção, muito menos sua preocupação demonstrada com tanta clareza em sua memória

- Chega – Eu disse.

Agora eu estava caindo quando me vi retornar para aquela sala antiga. Tentei respirar lentamente e reorganizar minha mente. Os olhos dele estavam pregados em mim. Eu não suportei

- Com licença

Eu não consegui ficar no mesmo lugar que ele, era extremamente irritante e doloroso. Irritante porque surpreendentemente eu queria beijá-lo, torturante porque eu não o mereço.

Sem saber aonde ir subi as escadas e entrei no que parecia ser o quarto de um grande gênio com vários desenhos e livros. Deixei meu corpo cair em cima da cama empoeirada e fechei meus olhos. Eu não podia fazer mais nada além de tentar esquecer tudo aquilo, me condenar por amá-lo e aceitar que a partir daquele momento aquela casa seria minha nova moradia. Minha e dele.

Conhecendo o desconhecido (Snarry)Onde histórias criam vida. Descubra agora