Capítulo 1

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Capítulo 1

Eu juro que estou no inferno, somente no inferno eu teria tantas vozes em minha mente me dando dor de cabeça. Era uma dor horrível que latejava e fazia arder os meus olhos a ponto de eu não conseguir abri-los. Mas acho que não estou no inferno realmente, pois em todos os mitos e histórias que eu já li o inferno é um lugar quente e horripilante onde os pelos da nuca se eriçam com os sons das vozes rasgantes que gritam de desespero e eu não sentia esse queimar. A dor em minha cabeça era constante, mas não era uma dor tão ruim assim, era até aceitável, e meu corpo estava quente, mas não queimava, era confortável. Tentei me desconectar de tudo ao meu redor, tentei me afundar no conforto de meu corpo dormente, mas elas insistiam em invadir minha paz. Por que estão falando? Do que estão falando? Era irritante, simplesmente irritante. Tentei dormir de novo.

- Como eles estão? - Perguntou uma voz que eu conhecia, mas não identificava o dono.

- Estão na mesma. Os dois ainda estão em coma. Já se passaram duas semanas e nenhum deles acordou.

Eles? Quem eram eles? Ah, eu realmente estou enlouquecendo.

As vozes ainda demoraram um pouco para sumirem, eu tive que ouvi-las, ainda que não entendesse nada, até que sumiram me deixando saborear o prazer do silêncio. Fiquei assim por mais algum tempo, talvez alguns minutos ou horas, mas poderiam ter sido dias. Ainda que estivesse confortável, comecei a me incomodar e sentir vontade de me levantar. Tinha pleno medo do desconhecido. Mas acabei abrindo os olhos e a princípio me assustei, pois não vi absolutamente nada.

Meu coração acelerou dentro do peito, eu era capaz até mesmo de sentir meu sangue passando veloz pelas minhas veias. Senti dor, como se eu fosse morrer, não sei se era a primeira vez ou a segunda, mas eu ia morrer. Minha boca abriu e eu queria gritar, mas não tive forças, o grito ficou preso em mim e apenas o desespero emanava de meus poros. Um desespero que parecia tomar forma na minha frente, uma forma grande e volumosa, quase como uma pessoa. Se eu estreitasse um pouco os olhos e forçasse a vista perceberia que era uma pessoa.

Um velho de barba branca que me segurava e falava algo que eu não conseguia ouvir. Eu só me concentrava em tentar ficar acordado, mesmo que eu não respirasse, eu queria ficar acordado. Mesmo que nada fizesse sentido, eu queria ficar acordado. Mesmo que fosse assustador, eu queria ficar acordado. Porque quando ele olhou para mim, quando tocou em minha testa e sorriu com seus olhos azul feito o oceano banhado pelo sol eu senti que tudo se acalmava e que ao lado dele era seguro, eu queria ficar ali.

- Vai ficar tudo bem. - Eu consegui ouvir.

Apesar de sentir um medo enorme dentro de mim eu sabia que tudo ficaria bem, pois ele tinha me dito isso e eu acreditei nele. Sabia que deveria confiar nele, era como se ele me conhecesse há muito tempo, mesmo que eu o conheça há apenas alguns minutos. Consegui detectar em seus olhos um pouco de preocupação, desespero, afeto e mais ainda amor. Um amor que eu não conseguia compreender, eu não o conhecia, afinal nunca o vi antes. Ele não deveria me amar, quem eu sou para ele? Ninguém além de um homem qualquer, ele não deveria nem mesmo me tratar daquele jeito.

Não deveria ser assim?

Achei que sim, mas antes de eu desmaiar, antes de voltar a dormir eu ouvi a voz dele novamente, era baixa e chorosa próxima ao meu ouvido como que só para eu ouvir.

- Você ficará bem, Severus.

Severus.

Ali eu soube que aquele era meu nome e que eu tinha alguém, talvez um amigo, um velho amigo. Minha dor no peito estava diminuindo enquanto aquele velho recitava algo que eu não entendia. Aos poucos eu me senti indo novamente para aquele lugar confortável. Pousei minha cabeça em algo macio e deixei meus olhos fecharem, mas antes de eu me desligar desse lugar eu os abri e o vi.

Ele estava deitado em uma cama próximo a mim, sua face era linda, tinha uma palidez saudável contrastando com seus cabelos negros rebeldes apontando para todos os lados. Eu não sabia quem ele era e não reconhecia seu rosto. Tentei marcar algo daquele menino para não me esquecer de que ele estava ali, mas a única coisa que eu consegui gravar antes de sumir foi a cicatriz em forma de raio em sua testa suada. Desmaiei ouvindo o velho chamar o meu nome.

Severus.

Conhecendo o desconhecido (Snarry)Onde histórias criam vida. Descubra agora