Balanço meu coração além do limite
E meu rosto está dando sinais
Procure e você há de encontrar
(Counting Stars, OneRepublic)
Perdi a conta de quantos beijos depositei nas bochechas arredondadas. Davi sorria alto e com toda a sua inocente sinceridade.
Coloquei-o de volta ao chão me sentindo relaxada apenas por tê-lo em meus braços.
Virei-me para a porta de saída da sala dos Nely. Só então notei Jasmim nos observando.
Era a primeira vez que a via desde que cheguei em casa, ontem à noite. Imaginei que o fato de eu estar saindo para o trabalho seria um bom motivo para implicar comigo, dizendo que os odiava e por isso não passava muito tempo com eles.
Respirei fundo e caminhei até a porta a seu lado. Não desviei o olhar do seu.
Ela parecia tensa a cada passo meu. Eu estranhei a ausência do autoritarismo arrogante e da intensidade de sua postura corporal, agora decaída.
Seu olhar trêmulo me dizia algo. Parecia temeroso. Não poderia estar com medo de mim; eu jamais a machucaria fisicamente. Então, algo externo a incomodava — talvez uma conta que queria minha contribuição no pagamento.
Quando estava a dois passos dela, foi quando percebi o real motivo.
Era dia 25 de setembro. Meu aniversário.
Pisquei, repentinamente confusa. Questionei-me se ela estava hesitando para me parabenizar.
Provavelmente, Cairo a lembrou da data antes de sair. Não o vi, mas soube que foi sozinho a uma consulta médica, alegando que não era velho e podia se cuidar sem nenhuma companhia. Assim que eu chegasse do trabalho, conversaria com ele a respeito disso. Eu imaginava que ele não gostaria de me incomodar, ou desregular meu turno, mas entre o trabalho e Cairo, meu avô era prioridade. Eu poderia ter combinado com algum colega para me substituir, e então ter o levado ao consultório.
Ele sequer me disse que estava se sentindo mal.
— O que quer, Jasmim? Saia da minha frente porque não posso me atrasar.
Incrivelmente, não me respondeu de imediato devolvendo a grosseria.
Diminui o passo.
Continuamos a nos encarar até Jasmim decidir falar.
— Tenha cuidado no trabalho.
E, dizendo isso, deu-me as costas e caminhou em direção a Davi, agora pulando no sofá.
A seriedade em meu rosto perdeu a firmeza. Uma parte em minha alma, dedicada à minha mãe, doeu. Jasmim e eu; mãe e filha: brigávamos com veemência, mas aquele era o máximo de carinho que conseguíamos expressar.
Continuei a caminhar. Não a permiti ver a consternação que dilacerava minha expressão facial.
— Terei — foi o que consegui responder.
Eu já havia tirado a moto da garagem há alguns minutos. Então, desnorteada, apenas saí para o jardim na calçada.
Em pé e cabisbaixa, refleti por um momento.
O que teria mudado em nossa relação se Jasmim tivesse me protegido, acolhido e amado quando mais precisei? Se cuidasse de mim como cuida de Davi, mesmo enfrentando seus dilemas emocionais?
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Teu Paradoxo Sou Eu
FantasyNely prefere erguer a arma para criminosos do que conviver com a própria família. A policial autêntica trabalha arduamente para conquistar a independência, seguindo o legado do pai. Nesse processo, a disciplina a conduz: deixou de fantasiar com a vi...