Não é adorável, estar completamente sozinha?
Coração feito de vidro, e a mente feita de pedra.(Lovely, Billie Eilish)
Somente Lopel nos aguardava no escritório. Nenhum sinal da pessoa que nos ajudaria. Olhei em volta antes de mirar o lobo ancião. Mais sério do que o habitual. Assim como Bertore, ele parecia desconfortável — mais do que o filho, e eu me questionava se pelos mesmos motivos.
Lopel se levantou e caminhou para a frente da mesa. Para a minha surpresa, vestia roupas cotidianas. Sem terno ou farda militar. Eu sabia que, de modo diferente dos outros dias em que lidei com o Ancião ou com o militar lupino, estava prestes a lidar com o chefe da família Gaeli.
Os olhos sempre em escuridão azulada se fixaram em mim.
— Como estás, menina Pérola?
Suprimi um suspiro.
— Não se preocupe com formalidades. Quero saber o que vai me dizer.
Lopel não se abalou. Estava adaptado a meu comportamento arredio nos últimos dias. Eles podiam pensar qualquer coisa de mim. Ser educada é cansativo quando se está morta por dentro.
Ele ofereceu um olhar rápido para Bertore.
— Meu filho mencionou a ti sobre ela. — Uma afirmação, não uma pergunta. Como ele sabia? Droga... Nos ouviu no corredor? Será que também ouviu quando respirei aliviada nos braços do filho dele? — Agora, tudo depende dela.
— Dela quem?
— Liris. A minha Suprema Beta.
Franzi o cenho imediatamente.
Lopel fora o primeiro Supremo antes de passar o cargo para o filho e tornar-se Ancião, junto à companheira. Bertore agora governava junto à irmã, a Suprema Beta. Eu não havia pensado na possibilidade de o primeiro ter tido uma Beta. Achei que bastasse ter a sua companheira auxiliando e ocupando o cargo de... Qual título mesmo Ebela me dissera? Luna Suprema?
— Liris é sua irmã, também? — Indiquei Bertore com o queixo. — É um padrão que as Betas sejam as irmãs?
— Sempre esperta, menina. Em nossa cultura lupina, sim. — O seu sorriso não alcançou os olhos. — Eu, Liris, Tório e Xandre fomos gerados por minha Mãe Anara. Ao mesmo tempo. Estás sendo coerente em nos considerar irmãos.
Levei a mão ao pescoço e massageei a lateral. Era absurda a compreensão do que me dizia. Ele e Xandre eram Filhos de Anara, no sentido mais literal possível. Sem metáforas. Filhos da Deusa. E tinham uma irmã. E Tório, o Beta de Xandre, também estava incluso. Como eu não havia raciocinado isso antes? Era um absurdo quase óbvio. Sendo assim, será que eles podiam ser considerados deuses como a Mãe?
Respirei fundo. Bertore havia mencionado algo do tipo antes, mas somente ao ouvir de Lopel o entendimento se assentou.
Xandre era mais velho do que Bertore. Possuía a mesma idade de Lopel.
Eu havia transado várias vezes com um deus.
Um deus estava com o meu pequeno irmão.
Sentei-me na poltrona próxima. Bertore se sentou no pequeno sofá de couro à direita.
— Só vocês? Tem mais algum? — Foi a única pergunta das muitas que circundavam meus pensamentos que saiu.
— Somos os únicos — respondeu rispidamente, sem vontade de oferecer mais informações.
— Se Anara os mandou para cá há tanto tempo... Por que não estão juntos? Por que a sua Beta não vive aqui? Ela também se tornou Anciã?
— Este não é o foco. — Um rosnado arrepiante foi ouvido entre suas palavras. — Liris será o canal de conversação entre nós e os leões. Se ela estiver disposta a ajudar.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Teu Paradoxo Sou Eu
FantasyNely prefere erguer a arma para criminosos do que conviver com a própria família. A policial autêntica trabalha arduamente para conquistar a independência, seguindo o legado do pai. Nesse processo, a disciplina a conduz: deixou de fantasiar com a vi...