Fechei a porta, como se pudesse o aprisionar até que me desse as respostas.
Bertore se afastou e enrijeceu a postura.
— Esse não devia ser o seu foco. Não está feliz que Liris aceitou negociar?
Fiz uma expressão de nojo. Primeiramente, porque meu irmão não era uma transação comercial. E, em segundo, porque Bertore utilizou a mesma estratégia de Lopel para fugir de assunto.
— Não me diga no que eu devo pensar. Essa não foi a minha pergunta, Gaeli.
Um sorriso malicioso tomou o seu rosto quando me ouviu pronunciar o seu sobrenome.
Bertore assentiu devagar, sopesando a situação.
— Posso explicar um pouco da história das alcateias. No meu quarto. Com uísque na mão.
Lambi os lábios. Pensei na proposta.
— Aceito, mas com uma condição: mantenha as suas duas cobras longe de mim. Ou eu as corto ao meio.
Ergui o dedo para o seu rosto. Bertore o mordeu e me envolveu com os braços enquanto nos transportava para os lençóis pretos.
☾
— Existe uma razão para a volta de Liris ser temida. Há uma longa história.
Bertore bebericou a bebida. Sentado à escrivaninha, eu sabia que ele se deliciava com a visão de meu corpo deitado em sua cama. Recusei álcool, assim como mantinha distância física dele. Os segredos eram densos no ar da casa desde que eu havia chegado. Eu não era estúpida e reconhecia a existência deles. Não me acalmaria enquanto não descobrisse a história das alcateias.
— Estou aqui para ouvir.
Ele riu e se recostou contra a cadeira acolchoada.
— Você já sabe que Anara é a Deusa Soberana do mundo sobrenatural. Ela possui filhos, gerados diretamente por Ela, e criaturas que são frutos de sua magia. É a criadora dos lobos, leões e feiticeiros. E, quando os seus quatro filhos completaram cento e cinquenta anos, foram mandados para cá, o mundo até então totalmente humano, onde formaríamos uma alcateia e viveríamos regidos pelas leis da Mãe.
Assenti devagar. Leões, lobos e feiticeiros coexistindo em uma única alcateia.
Bertore prosseguiu.
— A Alcateia de Anara reunia toda a raça, porque, até então, apesar das diferenças, éramos uma só. Mas elas logo foram percebidas. Diferenças físicas. Diferenças culturais que iam se formando em um mesmo ambiente. — Ele passou a mão no cabelo. — Entende aonde quero chegar?
Suspirei.
— Sim. A coexistência pacífica estava sendo abalada... Desculpe, mas isso soa tão familiar aos humanos. Foi aí que entrou a "ambição" mencionada por Lopel, vinda dos leões?
Bertore me examinou por um momento, então afastou o rosto. Parecia relembrar algo desagradável.
— Os feiticeiros eram neutros nas questões políticas e religiosas. — Cairo. A raça de meu avô. Como era doloroso reconhecer isso. — Já os leões interpretavam os ensinamentos de Anara de outra forma.
— Em que exatamente discordavam?
Ele respondeu rapidamente.
— Nas leis divinas.
Sentei na cama e cruzei as pernas. Balancei a mão no ar.
— Espere. Você assumiu o cargo de Supremo Alfa recentemente. Nessa época, o seu pai governava todas as raças?
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Teu Paradoxo Sou Eu
FantasyNely prefere erguer a arma para criminosos do que conviver com a própria família. A policial autêntica trabalha arduamente para conquistar a independência, seguindo o legado do pai. Nesse processo, a disciplina a conduz: deixou de fantasiar com a vi...