Eu te coloquei no topo
Eu te assumi tão orgulhosa e abertamente
E quando os tempos eram difíceis
Eu me certifiquei de te manter perto de mim(Call Out My Name, The Weeknd)
Não parei de o observar. Assim como aconteceu no início daquele sonho, agora eu via seu olhar azulado, aparentemente humano. Mas eu sabia que a qualquer momento poderia tornar-se animalesco e assustador, pois eu o vira se transmutar no sonho, e havia visto seus olhos de lobo antes de eu ficar inconsciente na noite anterior. Uma curta ondulação de seus cabelos castanho-claros caía exatamente sobre o mesmo local na testa. E, percebi assustada, que embora o homem parecesse calmo, era letal.
A desordem em minha mente se intensificou. Fiquei em alerta diante de sua postura imponente.
Ele estivera próximo a mim ao me carregar nos braços, de acordo com o relato de Cairo. Era o comandante daquela organização sobrenatural a qual Cairo estava inserido. De seu título, eu só me recordava da palavra Alfa.
A realidade me acertou no rosto: um homem que podia se transformar em lobo; era o alfa de uma matilha, assim como acontecia no mundo animal, contudo, tratava-se de um homo sapiens que liderava seres racionais que se transfiguravam em animal irracional, em todo o mundo.
Não fazia um dia desde que apontei a arma contra sua cabeça. Eu havia atirado para o matar, mas a outra loba adentrou seu caminho. A Beta.
Se ele devia ser protegido, então era o primeiro no poder. Inferi, portanto, que eu atirei no ombro da segunda em comando, de acordo com a suposta hierarquia que os termos alfa e beta sugeriam.
Não me permiti pensar nisso ou preocupar-me com o estado de saúde em que ela estaria: não quando eu me sentia nauseada e ameaçada por cada respiração do sujeito.
Ele me trouxe no colo, mas não se deu o trabalho de retirar minha arma carregada do coldre. Deixou-a comigo, como um desafio para ousar a sacar. Como se ela não pudesse o ferir.
Eu a testaria contra seu corpo se fosse necessário. Eu sentia que seria.
A sua serenidade debochava da desordem que pairava sobre o quarto. Ele continuava a me afrontar com os olhos quando, tranquilamente, acenou para Cairo, dando uma ordem silenciosa com a cabeça.
Preparei-me para o que fariam a seguir, pondo-me com os pés firmes no chão e as pernas levemente flexionadas, a mão sobre o cabo da arma, pronta para o atacar.
Para meu espanto, Cairo permaneceu calado, e ergueu a mão, com a palma para cima.
— Não há motivo para temer. Está segura com o Supremo. — Cairo tentou me apaziguar quando eu percebi que o ambiente a nosso redor estava ficando estranho.
— Fala como se eu confiasse em sua palavra!
O quarto passou a ter uma aparência desfocada, opaca e distorcia-se. Ele se desfez, e, em segundos, estávamos em outro local. Uma sala. Uma sala de reuniões extensa. Fomos transportados pela magia de Cairo. Eu ainda encarava, bastante assustada, sua mão estendida. O que mais ele podia fazer com ela? Com um pensamento?
Percebendo o temor em meu rosto, ele lamentou:
— Eu... Pérola, eu jamais a machucaria.
Não disfarcei o susto em meu timbre quando falei, estridente:
— Me machuca há muito tempo, mas só me dei conta agora.
Ignorei a mágoa que recaiu sobre ele, assim como ignorei o ódio latejando em minhas veias.
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Teu Paradoxo Sou Eu
FantasyNely prefere erguer a arma para criminosos do que conviver com a própria família. A policial autêntica trabalha arduamente para conquistar a independência, seguindo o legado do pai. Nesse processo, a disciplina a conduz: deixou de fantasiar com a vi...