Ebela olhou preocupada para o companheiro. Sentado à ponta da mesa de jantar, Lopel segurou a mão dela, que estava à sua direita.
Eu havia chegado há poucos minutos. Sentei-me em silêncio, assim como todos estavam.
A seriedade que estampei era gélida e distante. Estava acostumada a usá-la quando os pensamentos me corroíam e precisava de quietude para ouvir a cada um.
Isbel, sentada à minha direita, quebrou o silêncio ao cochichar para a mãe, Belena, a seu lado. A Suprema Beta pareceu mais interessada em observar a rigidez no rosto do pai.
Eu me concentrei, disposta a ignorar a presença de Bertore à minha esquerda, na outra ponta da mesa. A meu lado.
Tinha a sensação de que me olhava.
Ele deveria imitar a irmã.
Segurei um suspiro baixo que acabaria com a indiferença em meu rosto.
Depois da conversa inacabada com Rabela, havia me certificado de tomar um banho longo, com excesso de sabonetes e óleos corporais. O único intuito era tirar o cheiro de Rainha de mim para que passasse despercebido por Bertore. Não estava convicta de que consegui enganar o faro do Supremo Alfa. E os seus olhos percorrendo por minha pele eram um indicativo negativo.
Passei a língua entre os lábios e ergui o queixo em uma tentativa de parecer entediada. Então, fingindo distração, voltei-me para ele.
Merda.
Bertore observava minha boca.
Descaradamente.
— Aqui em cima — sussurrei, e ele subiu sem pressa o olhar ao meu.
Repuxei o canto da boca.
A mesma que esteve insanamente em contato com a maciez da dele.
Meu sorriso provocador perdeu, aos poucos, a firmeza. Porque Rabela não sabia que eu havia o beijado. Assim como eu não sabia quantas vezes Bertore havia a deitado em sua cama.
A rigidez em minha face agora era genuína. Voltei-a para o outro lado da mesa.
Mas, assim que vi Lopel fechar lentamente os olhos, senti a mão de Bertore recaindo sobre a nudez da minha coxa esquerda. O short dava bastante espaço para a sua palma quente explorar.
Mais uma vez, olhei para ele.
O seu cinismo era o reflexo perfeito do meu. Fingimos tédio juntos.
Então, deixei que a repousasse em mim.
Quando retornei a concentração a Lopel, percebi que Croix me observava da outra extensão da mesa, ao lado de Ebela massageando com o polegar o dorso da mão do Ancião.
Ergui a sobrancelha para o loiro.
Ele desviou a atenção de mim.
— Preciso mesmo ficar aqui? — Isbel perguntou à avó.
— É um momento significativo para o seu avô e para a alcateia — Ebela repreendeu.
A loba loira bocejou em resposta.
— Quanto tempo ele vai ficar assim? — Isbel retrucou.
— O mínimo possível se ficar quieta, querida. — A Anciã respondeu com uma calma invejável. — Precisamos de silêncio. Seu avô usará a magia que une os Filhos de Anara para falar com Liris.
Então, o silêncio retornou e permaneceu por longos minutos.
Em algum momento, o braço rígido de Lopel relaxou. Como se ele estivesse presente fisicamente, mas não mentalmente. Não espiritualmente.
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Teu Paradoxo Sou Eu
FantasyNely prefere erguer a arma para criminosos do que conviver com a própria família. A policial autêntica trabalha arduamente para conquistar a independência, seguindo o legado do pai. Nesse processo, a disciplina a conduz: deixou de fantasiar com a vi...