02_ Acaba com ele!

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Eliza Claire

... - Você acabou de me atropelar?

O criminoso na minha frente parou por um momento, apenas me encarando com as sobrancelhas juntas e tentando processar o que eu falei.

Ele estava incrédulo e eu estava irritada.

Eu não precisava descobrir que a barriga do Bigode era dura e que ele precisava ir ao banheiro.

- Você só pode estar brincando comigo... - Ele sussurrou como se não acreditasse nas minhas palavras. - Eu não atropelei você, o meu carro só te tocou!

- Claro, só me tocou e me jogou pro outro lado da estrada. - Soltei irônica.

- Você não se moveu nem um metro. - Ele me olhou desacreditado. - E além do mais, você estava abaixada quando o meu carro parou. Como era suposto eu te ver?

- Então agora a culpa é minha de você ter me atropelado? - Coloquei as mãos na cintura.

- Você tá sendo dramática. Eu nunca disse que foi sua culpa. - Ele se aproximou de mim.

Eu soltei uma risada nasal, desacreditada, e desviei o olhar.

Essa é a minha primeira hora nos Estados Unidos, eu não preciso gastar o meu tempo discutindo com o estadunidense que nem sabe dirigir.

- Mas obviamente se você não tivesse se abaixado no meio de uma estrada... - Ele sussurrou e eu me virei mais rápido que eu gozando.

- Se você não dirigisse igual o tio cego da Emma Hills! - Eu soltei com ódio.

- Não tem necessidade nenhuma de colocar uma escritora famosa no meio disso, sua barraqueira! - Ele soltou e eu senti o meu sangue ferver ainda mais.

- Você me atropela e ainda me chama de barraqueira? - Sussurrei me aproximando ainda mais dele.

- O meu carro mal te tocou. - Ele argumentou me olhando com raiva.

- Claro. - Eu ri desacreditada. - ELE SÓ ME JOGOU DE VOLTA PRO BRASIL!

Eu me segurei pra não pegar aquela encarnação do Trump e arrastar ele pelo asfalto antes de atropelar ele com um caminhão.

Eu juro que depois de atropelar ele, eu ainda falaria com orgulho que o caminhão mal tocou nele.

- Você é brasileira? - Ele perguntou em um tom surpreso.

Eu me perguntava se o meu rosto estava mais vermelho de raiva ou surpresa quando ele questionou aquilo.

Eu tinha sido avisada — muitas vezes — que os estadunidenses provavelmente seriam preconceituosos comigo apenas por eu ser brasileira.

Quando aquela peste questionou aquilo, eu tinha certeza que o meu corpo podia explodir de ódio se eu não voasse na cara dele.

- Você realmente acha que eu esperei o momento exato que você abaixou, apenas pra atropelar você? - Ele perguntou depois de eu ficar em silêncio.

- Então você admite que me atropelou? - Sorri notando as palavras que saíram da boca dele.

Ele, igualmente, parecia que podia explodir de raiva.

Irritar as pessoas sempre foi um dom meu, logo depois do meu belo dom de organizar malas.

Pois, acreditem ou não, na minha mala pequena tem mais de 25 calças, 27 camisetas, 6 moletons e 5 casacos.

- Eu não atropelei você. - Ele falou pausadamente.

- Eu tenho um hematoma na bunda como prova! - Menti. - Seu pedaço de merda... - Xinguei em português baixinho.

- Você só pode ser prima do Bolsonaro. - Ele soltou em português também e eu arregalei os olhos.

- Repete! - Falei indo pra cima dele. - Repete!

- Acaba com ele! - A Brenda gritou animada atrás de mim.

O Bigode segurou o meu braço me puxando para trás dele e eu quase tirei o meu sapato pra jogar na cara daquela peste.

Ele continuou me encarando com aquele olhar penetrante e eu segurei o olhar dele, por tempo suficiente, até ele desviar para as minhas malas e para as bexigas de boas-vindas.

Ele pareceu ter sacado tudo mesmo antes do Bigode começar a explicar.

- Eliza, esse é o melhor amigo do Adam. Theo, essa é a Eliza, a intercambista que vai ficar na nossa casa por alguns meses. - O Bigode apresentou e eu fiz uma careta de nojo para o mini Boso.

Theo.

Theo era o nome dele.

Eu arregalei os olhos levemente desviando o olhar.

Quando eu tinha 12 anos, eu era apaixonada pelo nome "Theo". Tão apaixonada que eu prometi me casar com uma pessoa com esse nome.

Levantei o meu olhar novamente para aquela peste e neguei com a cabeça mais pra mim do que pra ele.

Eu tinha vontade de socar a minha eu de 12 anos agora.

Mal percebi quando a Brenda começou a me puxar para a casa e depois correu para abrir as portas animada.

O criminoso agora estava do meu lado enquanto caminhávamos para a entrada, e eu fiz questão de lançar um olhar de ódio pra ele. O mesmo nem se deu ao trabalho de me encarar.

A Brenda abriu a porta de casa revelando uma pequena decoração de festa de boas-vindas.

Eu sorri observando cada detalhe colorido daquela casa. Cada bexiga colorida, os confetes espelhados, a faixa típica americana deixando ainda mais claro que eles estavam felizes de me ter ali.

E eu fiquei ainda mais feliz em notar um banheiro no fim do corredor.

- BEM-VINDA! - A família gritou pra mim e eu sorri ainda mais dando um passo na direção da porta.

- Obrigado! - O garoto se colocou na minha frente, quase me empurrando, e encarando tudo aquilo com um sorriso admirado.

O meu sorriso caiu na hora quando ele colocou a mão no peito com emoção e abraçou a minha nova mãe como agradecimento.

Que tipo de ser vivo repugnante e desesperado por atenção é esse?

continua...

O IntercâmbioOnde histórias criam vida. Descubra agora