29_ Você sonha comigo?

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Eliza Claire

- Fala os números do Pi e eu te deixo colocar a mala aqui. - A Brenda desafiou e eu abri um grande sorriso.

Como essa vagabunda acha que eu decorei todas as músicas das princesas da Disney?

Eu sou brasileira, e brasileiros nunca desistem!

Na verdade, a gente só desiste de lavar a louça. Pra isso nem precisa começar...

- 3,14159265358979323846... - Falei antes de ser interrompida pela mão da Brenda na minha boca.

- Você é inteligente demais pra ser minha amiga. - Negou com a cabeça com decepção.

- Namoradas, então? - Inclinei a minha cabeça para o lado e a Brenda corou.

A Soso semicerrou o olhar pra mim e pra Brenda com uma sobrancelha erguida, antes de voltar a desenhar um pau no seu pequeno caderno.

Ela ama a anatomia humana, principalmente aquela que a gente só vê na pornografia.

Vi o Adam passar do meu lado e eu puxei ele pela camiseta enquanto a Brenda colocava a minha mala de viagem perto da dela.

- Eu e o seu pai fomos te procurar na casa do Theo. - Falei irritada e o Adam sorriu envergonhado.

- Eu não estava na casa do Theo, mas posso garantir que estava com uma boa companhia. - Encarou a namorada do Brad que estava sentada do outro lado do ônibus enquanto sorria pro Adam.

- É, eu percebi. - Abaixei o olhar lembrando das cenas que presenciei quase uma hora atrás.

O Adam me encarou confuso e eu neguei com a cabeça indo me sentar em um dos últimos lugares vazios.

Ergui os meus dedões com um sorriso para a Brenda que estava em um dos assentos atrás de mim, antes de me ajeitar naquele lugar.

O meu olhar foi atraído pela última pessoa entrando no ônibus escolar amarelo.

Theo.

As portas foram fechadas pela professora Anne — que estava responsável pela nossa turma — e o Theo ofereceu um sorriso brilhante pra ela e para alguns amigos que ele encontrou nos assentos da frente.

Ele estava realmente... sorrindo.

Só restava mais um lugar no ônibus e quando o Theo percebeu que esse lugar era do meu lado, pela primeira vez, o seu sorriso falhou.

Eu queria desviar o olhar dele, mas ao mesmo tempo não conseguia entender como ele parecia tão bem depois do que aconteceu em menos de uma hora na casa dele.

O Theo caminhou até mim e se sentou cuidadosamente do meu lado.

Como você não gemeu de dor se sentando? Será que você tá tão habituado com a dor que isso se tornou algo normal? A sua cabeça não dói da pancada? Você me perdoaria se soubesse que eu vi toda a cena e não consegui pensar em nada que pudesse ajudar? Você conseguiria entender como eu congelei de medo por você?

- Eu sei que eu sou lindo, mas é estranho você ficar me encarando sem ódio. - Ele se virou pra mim com um pequeno sorriso de lado se estendendo na boca.

Quantas vezes você teve que sorrir pra ninguém perceber?

- Meu pior pesadelo se tornou real... - Fiz uma tentativa de brincar, mesmo sentindo algo apertar o meu peito.

- Então você sonha comigo? - Ele riu.

- Às vezes eu me pergunto se você poderia piorar como ser vivo, e então, igual mágica, você vira o capeta limpando o rego! Acho que vou começar a me questionar se você pode virar normal e aí talvez o Harry Styles tenha pena de você e de mim. - Soltei tudo de uma vez.

O Theo tinha a cabeça apoiada no assento e inclinada na minha direção. O seu olhar parecia brilhar enquanto ele me encarava e eu observei um pequeno sorriso se abrir nos seus lábios.

- Eu realmente gosto de te ouvir falar. - Ele confessou e eu fiz uma careta confusa.

- Não teve graça. - Argumentei, percebendo que o que ele falou provavelmente não passava de uma brincadeira.

- Não contei nenhuma piada. - Ele deu de ombros e eu revirei os olhos me virando para a janela.

Eu continuava sentindo o olhar dele sobre mim e eu tenho certeza que eu estaria toda arrombada se os olhos dele fossem pirocas.

- O que você tá fazendo? - Me virei para o Theo irritada, depois de muito tempo procurando um fusca azul, apenas pra ter um motivo pra socar a cara de palhaço dele e fazer ele desviar o olhar de mim.

- Eu estou te observando. - Admitiu e eu semicerrei os olhos com a audácia desse pombo atropelado.

- Me observando fazer o quê? - Tomei coragem pra perguntar e o Theo sorriu levemente.

- Eu não sei. - Falou.

- Você não sabe? - Ri desacreditada.

- Não, mas tenho certeza que gosto. - Inclinou a cabeça pra mim.

De repente, o ônibus travou no meio da estrada, praticamente me fazendo voar pra frente, se o Theo não tivesse me puxado pra trás em pânico.

A sua grande mão segurou o meu braço de um jeito firme, me impedindo de bater a cabeça no vidro ou de pular igual uma fada para a cabeça do passageiro na minha frente.

Me virei pra agradecer o Theo e peguei ele escondendo uma careta de dor ao puxar o braço dele de volta contra o corpo.

Todo mundo no ônibus parecia confuso demais pra esconder a surpresa de termos parado no meio da estrada. Logo, a professora levantou e foi falar com o motorista.

O ônibus quebrou no meio da estrada.

continua...

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se vc ta relendo e soltou spoilers pra outras pessoas, saiba q vc é um filho de bolsonaro q estraga a leitura dos outros;)

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