27_ Urubu do Theo.

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Eliza Claire

- Como já dizia o lendário Celso Portiolli: VAI DAR NAMORO! - Um dos alunos no fundo da classe gritou.

Eu peguei um caderno da menina das canetinhas e joguei na direção do garoto de cabelo verde que falou aquilo.

O caderno voou igual a minha dignidade e atingiu a testa do menino, fazendo ele cair pra trás, por causa da cadeira dele que estava inclinada.

Arregalei os meus olhos e levei a minha mão até a minha boca em choque.

Eu preciso de parar de agir por impulso e achar que todo mundo precisa apanhar só porque o Theo existe.

O garoto se levantou e me encarou com o que parecia ser uma mistura de raiva e vergonha.

Pressionei os meus lábios juntos e desviei o meu olhar para o chão. O meu corpo travou e me perguntei se eu poderia derrubar esse avatar de cabelo verde.

Consegui sentir o Theo ficar tenso do meu lado e encarar o garoto que agora andava na minha direção.

O Theo semicerrou os seus olhos levemente para o garoto e travou a sua mandíbula, antes de se colocar na minha frente, não deixando o garoto chegar perto de mim.

O movimento dele foi sútil e quase preguiçoso, se ele não tivesse feito aquilo tão rapidamente, quase em desespero. Mas isso não impediu o meu coração de falhar uma batida e me fazer pular pelo susto.

O seu corpo estava muito próximo do meu.

A última vez que ficamos assim tão próximos foi na nossa briga do teatro.

O perfume do Theo passou por mim e eu consegui sentir mais uma vez o cheiro de café se estender do seu cabelo até as minhas narinas.

As costas do Theo cobriam toda a minha visão do garoto que parecia querer me esmagar e eu pisquei surpresa recuando.

Quebrei o contato físico que o Theo tinha colocado entre nós, dando um pequeno passo pra trás, e o Theo por pouco não desviou o olhar do garoto na sua frente apenas pra se certificar se eu estava bem.

O corpo do meu detestável inimigo continuou firme na minha frente e o menino com cabelo verde se apresentou ainda mais furioso.

- Você não quer fazer isso... - O Theo abriu um pequeno sorriso negando com a cabeça para o garoto na sua frente.

Eu fiquei ainda mais confusa, considerando que o Theo talvez tenha esquecido que nós nos odiamos e com certeza não tentamos defender um ao outro.

Talvez ele tenha esquecido disso...

Ele se colocar na minha frente, pra me defender de alguém, depois de tudo que ele me causou, é confuso e cruel.

Continuei observando com dificuldade, mas foi perceptível a confusão no olhar de todo mundo na sala vendo aquilo, inclusive no rosto do garoto que queria me jogar da janela.

O Theo continuou encarando ele e o seu corpo não se moveu nem um centímetro quando o garoto se aproximou ainda mais.

- Desculp... - Tentei pedir, me sentindo culpada, antes de ser interrompida pelo garoto de cabelo verde.

- Faz de novo? - O garoto se virou pra mim sorrindo.

- O quê? - Perguntei quase em choque.

- Joga outro caderno em mim. - Sorriu brincalhão e eu continuei encarando o menino com uma cara de bunda.

O corpo do Theo se afastou de mim e do garoto e ele olhou para o avatar de cabelo verde indignado.

Eu quase podia ler no olhar do Theo que ele queria gritar "Você realmente ia me fazer quebrar a bunda por nada?".

- Se vocês continuarem tentando se matar na sala de aula, eu com certeza não vou deixar ninguém ir para a viagem. - A professora Anne anunciou e eu desviei o olhar pra ela.

- Viagem? - Questionei confusa e ela sorriu.

- O diretor decidiu organizar uma excursão para outra cidade. Vamos ficar em um hotel por quase uma semana e durante o dia visitamos vários pontos turísticos. - A professora explicou e eu me sentei na minha cadeira.

- Mas e os resultados do vencedor da bolsa? - Uma garota que também estava concorrendo pela bolsa perguntou.

- Vocês vão receber no final da excursão. - Deu de ombros.

- A professora deixou trabalho de casa. - Alguém falou na frente da turma.

Arregalei os olhos vendo um caderno voar na direção da menina, que soltou um grito grosso e digno do Hulk.

Mereceu.

[...]

- Ele é meu fã encubado! - Reclamei encarando o meu pai hospedeiro. - Ele até chama a Soso de Soso, sendo que fui eu que criei esse nome pra ela.

Vi um pequeno sorriso brotar no canto dos lábios do Bigode e eu inclinei a cabeça brava pra ele, quase considerando empurrar ele pro carro capotar.

- Eu e a sua mãe hospedeira também éramos assim... - Ele sorriu abertamente e eu bufei irritada.

- Aquele garoto me faz ter vontade de vomitar as minhas tripas pra fora. - Fiz drama e o sorriso do Bigode aumentou.

Eu não preciso ver o sorriso de Colgate dele.

O carro foi estacionado na frente de uma casa típica americana.

A casa parecia ter sido pintada recentemente de cinza e o seu charme eram os detalhes brancos por volta das janelas e no portão da garagem que estava aberto. A calçada da casa parecia estar molhada e por volta da casa não havia nada além de grama.

Nada de flores ou plantas, apenas uma grama quase morta.

Pelas poucas janelas que ofereciam uma pequena visão do segundo andar da casa, consegui ver um vulto passar e revirei os olhos.

- É aqui que o urubu do Theo vive? - Soltei uma risada nasal sarcástica.

- Você não veio aqui pra ter um jantar com eles, apenas pra buscar o Adam, e logo em seguida, eu te deixo na escola pra pegar o ônibus da excursão. - O pai justificou e eu me virei pra ele tirando o cinto de segurança.

Ofereci o meu melhor sorriso, tentando demonstrar que ele poderia confiar em mim, e ele semicerrou os olhos pra mim sabendo que eu não era nem 1% confiável.

Mas ele não sabia da merda que o Theo fez comigo.

Eu não tive coragem de contar pra mais ninguém como eu fui apunhalada.

Então, eles não sabem que se aparecer uma oportunidade de fuder com a vida do Theo, eu vou pegar ela.

Eu vou assistir ele chorar, assim como ele me fez chorar.

continua...

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