17_ Morta e muito bem enterrada.

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Eliza Claire

Brenda.

- Eu achei que você tinha morrido enquanto dormia. - Ela sorriu pra mim. - Temos treino das líderes de torcida, então, vamos! - Ela puxou o meu braço.

- Ei! - O Theo reclamou. - Temos que estudar.

- E ela tem treino. - A Brenda argumentou. - Você não vai morrer se começar sozinho. - Ela debochou.

- Talvez eu morra. - Ele debateu e foi a minha vez de revirar os olhos.

De alegria...

Dei um pequeno aceno falso para o Theo e sai andando com a Brenda.

Saímos de casa e ela parou pra respirar fundo na frente do grande jardim que ficava na entrada da casa.

Era um jardim bem cuidado e parecia ter várias flores e plantas.

Dava vontade de sentar e dormir ali.

- Quem plantou tudo isso foi o Theo, sabia? - Ela comentou e eu encarei o seu rosto.

Na verdade, dava vontade de sentar e morrer ali.

- O Theo? - Soltei uma pequena risada desacreditada. - Tem certeza que todas essas plantas não são maconha e outras coisas ilegais?

- Ele ama plantar tudo, então eu não duvido se tiver uma maconha no canto do nosso jardim. - A Brenda riu.

- Você parece meio distante... - Notei depois de alguns segundos em silêncio.

- Você e o Theo parecem estar se aproximando muito. - Ela deu um sorriso breve e eu notei dor na sua voz.

- Apenas por causa da bolsa. - Expliquei.

- Eu vou entender se você se apaixonar por ele... - Se aproximou. - Apenas me conta se os seus sentimentos mudarem primeiro.

- Não vão. - Prometi.

- Vocês formariam um bom casal. - Ela sorriu finalmente e eu fiz uma careta de nojo.

- Como você se atreve a me imaginar do lado de um pedaço de merda? - Soltei indignada.

[...]

Felizmente, os treinos de líder de torcida me ocuparam por uma boa parte do dia.

O que significa, que o Theo é agora, oficialmente, o meu escravo pessoal.

Com um sorriso no rosto, entrei no corredor cheio de estantes que a nossa mesa ficava e encontrei o Theo analisando o meu trabalho.

Me sentei na cadeira e vi ele levantar o olhar pra mim.

- Eu acho que vou começar a cobrar um salário. - Reclamou jogando o ficheiro que o meu trabalho estava na mesa.

- Vou ter que te pagar com outra coisa. - Brinquei.

Talvez tentativa de assassinato seja um bom pagamento.

O Theo me olhou estranho, semicerrando os olhos e torcendo a boca.

- Você parece... feliz. - Falou por fim. - Eu não gosto, pare.

- Tomara que o Papai Noel sinta pena de você e te dê sentido de humor. - Desejei revirando os olhos.

- Tem uma falha no seu trabalho. - Ignorou o meu comentário. - Você fala que o seu suco de laranja teria conexões com o Brasil, mas as indústrias de produção e exportação no Brasil... O Brasil fica na América do Sul, caso você não saiba.

- Eu sou do Brasil, claro que eu sei. - Olhei indignada para ele.

- Eu estava apenas...

- É claro que eu sei que o Brasil fica na África. - Continuei observando os gráficos do meu trabalho.

O Theo travou me encarando com os olhos arregalados.

Acho que quebrei ele.

- Eu to brincando. - Sorri e ele suspirou colocando a mão no coração, como se tivesse acabado de ter um ataque.

- Como você consegue ser extraordinária nas outras matérias e não saber nem a geografia básica do país que você nasceu e cresceu? - Ele perguntou com desdém.

- Você me acha extraordinária? - Percebi e o Theo revirou os olhos frustrado.

- Você tava dando enquanto as aulas de geografia aconteciam? - Ele brincou e eu arregalei os olhos.

A resposta era sim, mas eu não deixaria o Theo descobrir isso.

- Vai buscar o livro de economia. - Mandei ignorando a pergunta anterior dele.

- Oh sim, por favor, me use. - Ele soltou com a voz arrastada levantando da cadeira e passando por mim.

Em alguns segundos, o Theo voltou com o livro na mão. Ele se abaixou ao ponto de ficar perto do meu rosto e estendeu o livro na minha frente.

Senti a respiração quente do Theo contra o meu nariz e ergui o meu olhar pra ele enquanto pegava o livro das suas mãos.

O olhar do Theo penetrou o meu e eu notei um certo tipo de diversão que se estendia no pequeno sorriso dos seus lábios avermelhados.

Com a minha outra mão, empurrei o rosto do Theo pra longe do meu e sorri escutando a risada baixa dele enquanto se sentava.

Abri o livro e passei pelas páginas procurando a bendita da página 69.

Pelo canto do olho, consegui ver o Theo voltar a pegar o meu trabalho e revisar com atenção.

Ok, talvez eu precise revisar alguns motivos de eu odiar ele.

Apenas para me lembrar que até ter uma amizade com ele é um completo absurdo.

1. Ele me atropelou.

2. Ele me chamou de prima do Bolsona...

- Você fala português. - Deixei escapar em choque encarando o Theo.

Ele levantou o olhar confuso pra mim, estranhando o comentário aleatório.

- Falo. - Respondeu.

- Como você aprendeu? - Questionei.

- A minha mãe me ensinou. - Ele semicerrou os olhos pra mim. - Afinal, eu sou metade brasileiro.

Eu arregalei os meus olhos levemente com a informação e o Theo abaixou o olhar para as folhas na mesa, enquanto brincava com um lápis nos seus dedos.

- Aonde tá a sua mãe? - Perguntei percebendo que eu nunca vi ela nesse tempo todo do meu intercâmbio.

- Morta e muito bem enterrada, eu espero.

continua...

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qnd tiver 6666 comentários eu posto o próximo cap ainda hj:)

O IntercâmbioOnde histórias criam vida. Descubra agora