O silêncio

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POV: ANA

Meu grito foi ouvido por todo o acampamento

- RAFAELLA - Não não não não não

No momento que ela tinha sido ferida o tempo parou, o ar pareceu sumir, eu não tinha forças nem pra correr, tudo o que eu podia fazer era gritar. O grito da minha prima ecoou junto ao meu me tirando daquele estado de tompor, eu não tinha muito tempo.

Morrigan estava muito mais perto que eu, nosso exército fazia uma barreira na minha frente, o exército de Hybern, embora bastante prejudicado, também parecia pronto para tentar me parar.
Olhei para a Valquíria que lutava apenas com uma mão na espada e outra segurando a área do estômago, sangue escorria do canto da boca.

Peguei a espada dourada de Helion que não tentou me parar e corri por entre o exército aliado, desviando de todos, e empurrando quem se recusava a sair do caminho, meu poder estava exaurido se eu o usasse eu poderia chegar no limite e eu não podia parar agora.

Briaxis não estava a vista para me ajudar, e os grã senhores estavam dispersos demais. No momento que eu olhei para Morrigan ela tinha sumido nas sombras, ótimo, ela chegaria em questões de segundos.

- Aguente firme - a cabeça da minha amiga não parecia processar nada, eu só via uma névoa de dor e aquilo quase me cegou - por favor, aguente só mais um pouquinho

- Eu vou - quase chorei de alegria ao ver que ela ainda podia pensar com coerência - Eu sempre vou aguentar - talvez não com tanta coerência.

Os segundos que minha prima demorou para chegar até lá pareceram horas, e a Valquíria se defendia como podia, inferno de distância, eu não estava mais no controle daquilo tudo. Imagens daquele dia que nos conhecemos apareceram na minha cabeça, balancei com veemência enquanto passava por todos os soldados, mas as imagens não pararam.

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Meu pai estava em reunião na corte estival, eu estava no acampamento de guerra com minha mãe, não era realmente um lugar agradável mas era relativamente melhor que ficar presa em casa. A floresta era bem no limite do acampamento e era meu lugar favorito de passear para fugir daquela loucura.

A cachoeira era bem perto e se você prestasse atenção sempre podia escutar a água escorrendo. Mas não naquele fim de tarde, foi lá que os soldados inimigos atacaram, eu estava sozinha e gritar não adiantava. Eu sabia lutar e era nessa posição que eu estava quando uma guerreira illyriana pousou ao meu lado. Espada em uma mão e escudo na outra.

A luta foi difícil mas nós ganhamos, minha mãe ficou horrorizada ao me ver banhada de sangue voltando para casa, eu insisti para que ela ficasse mas a guerreira recusou educadamente.

- Vou saber seu nome?

- Rafaella

- Muito obrigada, por bom, você sabe - falei sem graça - Ter salvado a minha vida.

Ela sorriu antes de partir. Vi Rafa várias vezes depois daquilo, principalmente em época de guerra. Minha amizade com a Valquíria se consolidou em um período de guerra, o que nos fez mais leais e unidas do que nunca

A imagem mudou para anos depois,

Meu pai e meus irmãos tinham ido para alguma outra corte, e eu estava na cachoeira, mas dessa vez não sozinha. Rafa e Briaxis em um ato muito raro tinham se juntado a mim em um pequenique.

Rafa tinha dito algo que nos fez rir e no em meio ao som dos nossos risos eu pensei. A Valquíria tinha tornado o equilíbrio do grupo possível, eu sabia o que ela tinha passado e passava e o por que mantinha aquela fachada, mas nos raros momentos que tínhamos de paz ela sempre nos fazia rir, mesmo nos piores dias. E eu a admirava demais por isso, sorri ao pensar que além de minha amiga, ela tinha se tornado a irmã que eu pedi ao caldeirão.

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Meus pés aceleraram no momento em que notei que era a Rafa quem estava projetando aquilo para mim, o exército pareceu notar que eu estava avançando com mais força que o necessário pois foram abrindo caminho para eu passar correndo.

- juntas até o fim - o que? - obrigada por tudo vossa majestade

- Ei, para com isso agora, a Mor está chegando, você não vai morrer. Eu te proíbo - falei forçando meu poder a chegar nela, não estava conseguindo alcançar - Você está me ouvindo? Rafaella? Rafaella - Eu derrapei no chão quase caindo ao notar que ela não pensou nada, silêncio reinou na minha mente. Eu não ia desistir.

- Você não pode morrer, não faz isso com a Mor, não faz isso comigo, com o Briaxis - Nada - Eu tô te implorando Rafa, quem vai brigar comigo nos treinos, quem vai me fazer rir? - Silêncio, eu só ouvia minhas súplicas - Como você vai embora sem eu dizer que você é muito importante pra mim, sem falar que eu te considero uma irmã?

Eu não tive respostas, nesse segundo minha prima apareceu, segurou a mão da parceira e sumiu. O soldado Hiberyano estava pronto para o golpe final, a espada da Valquíria jazia no chão, mas dessa vez sem ela.

- Ela não respondeu - minha garganta protestou ao falar - Ela não me respondeu - senti as lágrimas se formando e caindo, embaçando o que restava da minha visão.

Meu cérebro não parecia querer processar o que isso poderia significar.

Observei o guerreiro presunçoso do outro lado do campo, e parei de correr, eu o mataria, dolorosamente. Ele gritava desafios para qualquer um que quisesse ouvir e eu não conseguia nem entender o que ele falava.

A barreira de guerreiros que estavam do nosso lado finalmente me deu passagem, os soldados de Hybern no entanto estavam em uma formação com falhas, mas me levaria tempo. E eu não queria que ninguém me atrapalhasse.

Balancei a espada do meu parceiro lentamente, e quando o primeiro soldado tentou me atacar ele bateu em uma escudo e se transformou em cinzas. Foi quando eu notei um escudo dourado ao meu redor, meu marido estava apenas alguns passos atrás de mim com uma cara de extrema concentração, agradeci mentalmente ao universo por ter me dado aquele parceiro e continuei minha caminhada até o general, que no momento que me viu parou de sorrir.

Cada guerreiro dele que ousou tentar passar por Helion, ou foi cortado ao meio pela espada que ele tinha tirado da minha mão ou virava pó pela barreira.

Assim que a distância acabou entre mim e o general eu nem conseguia mais respirar, minhas mãos tremiam de ódio, meu corpo transformou toda aquela tristeza e desespero em raiva, minha boca tinha gosto de ferro e eu via vermelho, minha cabeça latejava e meu único pensamento coerente era me lembrar do grito que minha amiga tinha dado ao cair. O que restava do meu poder se juntou ao meu redor e eu sorri para ele sem felicidade nenhuma. Estendi meu braço e uma espada preta e longa surgiu na minha mão, com outro aceno o escudo caiu com um estrondo e envolveu eu e o general Hiberyano em uma cúpula pra que ninguém nos interrompesse. Minha voz estava muito mais firme ao falar

- Acho que temos assuntos a tratar.

Corte de Sangue e Sol (Finalizada)Onde histórias criam vida. Descubra agora