Cidade escavada

1.5K 173 2
                                    

Acordei mais cedo do que de costume, hoje não teria treinamento pois íamos sair antes do almoço. Abri minha janela e o sol ainda não tinha nascido. Nuala me prometera dois dias antes que ia me ajudar a me arrumar enquanto Cerridwen ajudava minha cunhada.

Após tomar um banho, vesti meu roupão e fui até meu armário escolher o vestido.
Escolhi um roxo quase preto, preso até o pescoço e colado até as pernas onde corria solto, as costas totalmente abertas.
Não era uma roupa nada prática mas era extremamente adequado para a ocasião.
Nuala entrou no quarto no momento que eu fechei o zíper da lateral do vestido.

- Está linda - falou

- Obrigada Nuala

Sorri vendo que ela não tinha insistido em fazer uma reverência dessa vez.
Sentei na cadeira da penteadeira para Nuala poder me ajudar a me arrumar. Meu cabelo preto azulado batia na metade das costas, o espectro fez uma trança em forma de coroa onde acomodou minha tiara que continha o sifão.
Uma linha preta como delineado completou a maquiagem. Peguei um salto agulha preto simples e finalmente estava pronta.
O sol já tinha nascido a esse ponto então me preparei para sair do quarto.

POV: Feyre

Para a surpresa de todos Rhys ficou pronto rápido e não nos fez esperar, mas...

- A enrolação é de família criança - escutei Amren falando para Nestha que parecia impaciente.

Rhys fingiu que não foi com ele e continuou me observando. Eu usava um vestido prateado, cheio de fendas e brilho com a coroa gêmea do meu parceiro na cabeça. Nestha usava um vestido preto simples. Mor vestia o seu vestido vermelho fendado, com adornos dourados, nas mãos e nos braços. Amren usava sua calça e blusa habitual. Rhysand vestia seu terno preto elegante. Az usava sua armadura polida. Rafaella estava com um traje de couro Ilyriano preto adornado de prata com os sifões que brilhavam mais do que nunca, a espada firme ao alcance das mãos, mas o cabelo, normalmente preso, estava solto em cachos bem modelados. 

O som dos saltos na escada fez com que todos olhassem para ela. Ana desceu de lá com uma fluidez elegante e todos ficaram em silencio, ela nos olhou com preocupação

- Qual o problema? O vestido está feio? - falou ela se virando - Eu posso trocar.

- Está linda - falou Rhys indo para o lado da irmã - Só que fazia anos que eu não via você vestida assim.
Ela empurrou o irmão de brincadeira quando ele fez um gesto para dar uma rodadinha.

- Idiota - ri com aquela interação e os dois me olharam e sorriram.

A amiga de Ana chegou perto dela com Mor em seu encalço. Nestha e Amren foram para perto do meu parceiro e de mim

-Vamos atravessando ou voando? - perguntei.

- Vamos voando - disse Rhys - Não quero que nos rastreiem para a cidade escavada - falou fazendo suas asas aparecerem - Eu levo a Amren.
Estendi a mão para Nestha que aceitou, ela estava incrivelmente mais educada.

- Eu levo a Mor - falou Rafa, vi Ana reprimir um sorriso no canto da sala quando a prima foi para o lado da amiga.

Minha cunhada parecia em conflito como se Azriel não fosse a única opção caso não fosse atravessar. O encantador de sombras estendeu o braço para ela mas ela apenas balançou a cabeça em negação para ele e fechou os olhos por alguns segundos, e como as de Rhys, as asas dela apareceram, brilhando a cada movimento. Az revirou os olhos e foi para o lado dela mesmo assim estendendo o braço.

- Não queremos estragar esse penteado não é mesmo?
Ela olhou para ele desconfiada mas deu de ombros e se aproximou do espião.
Rhysand fez um sinal para irmos logo e alçou vôo, um a um nós o seguimos rumo a cidade escavada

POV. Rafaella

Lembro-me como se fosse ontem da primeira vez que voei na vida. De minha mãe ao meu lado me encorajando a perder o medo da altura de vinte metros abaixo de mim e sorrindo com os míseros dez segundos que fiquei no ar. Além do vento frio que senti em meu rosto com aquilo...

Instinto.

Voar para um illyriano era puro e simples instinto. Tão natural quanto respirar.

Não percebi na época, mas naquele dia, minha mãe estava fazendo muito mais que me mostrar a como se planar no céu.

Ela me ensinou a ser livre. E a lutar pelo que eu acredito.
Ela era uma mulher sem asas me ensinando a voar. Uma mulher presa me mostrando a liberdade. E uma mulher submissa me apresentando o mundo.

No tempo em que nasci, quando Rhysand ainda não era o Grão-Senhor da Corte Noturna, as mulheres ainda tinham suas asas cortadas no início da vida adulta.

Agradeço ao caldeirão por Rhysand ter acabado com isso. Graças à mãe consegui fugir de meu pai a tempo de não sofrer com isso pelo resto da minha vida.

E agradeço ainda mais por uma das Valquírias ter me encontrado vagando pelas ruas de uma cidade perto de nosso antigo campo de treinamento..

- Rafa, vc está bem? rs - falou Mor me tirando do transe em que eu estava.

- Considerando o aperto dos seus braços ao meu redor e o quanto você está tremendo, acho que eu estou melhor do que você nesse momento - brinquei. - Depois de anos convivendo com illyrianos, não imaginei que teria medo de voar.

- Prefiro meu método de transporte. Muito mais seguro. - disse emburrada.

- Eu nunca te deixaria cair - falei olhando em seus olhos. Pelo caldeirão, como ela era linda - Eu daria a minha vida por você.

-Aé? Daria? - notei o brilho de diversão nos seus olhos. - E o que mais você daria por mim?

- Ahn.. é.. eu... - senti minhas bochechas esquentando com a insinuação, que piorou com a sua risada.

- Quase 600 anos nas costas e fica vermelha com coisas assim, meu amor? Achei que, para uma Valquíria, seria -

- Será que as madames podem parar com a palhaçada e se concentrar na missão? - Ana falou ao nosso lado. Como caralhos ela chegou até aqui tão rápido?

- E podem tratar de ser discretas. A Cidade Escavada já está perto demais para isso.

Olhei para frente e avistei a entrada da cidade na montanha sombria.
Senti Mor se remexer nos meus braços e senti seu desconforto com aquilo. A apertei ainda mais tentando lhe passar segurança. Ela havia me contado algumas coisas sobre sua história. E só pelo pouco que sei já tive vontade de entrar naquele lugar e empalar qualquer um que houvesse feito mal a ela. Principamente Keir.

- Calma, amiga. Ficar assim não vai ajudar ninguém a ganhar essa guerra. Fica fria que depois que tudo isso acabar, eu mesma te ajudo com isso. - falou Ana em minha mente

- Ajuda muito bem vinda, princesa.

Corte de Sangue e Sol (Finalizada)Onde histórias criam vida. Descubra agora