Reencontro

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Pov: Rhysand

O laço continuava lá, mas não da mesma forma. Não com aquele brilho, silencioso para ninguém desconfiar da minha parceira, não só parceira, minha amiga, minha amante, minha grã senhora.

As notícias continuavam escassas daquele lado do mar, nenhuma informação, como Az tinha dito naquela manhã.

- Não houve nenhum indício de estarem convocando exército e nem nada parecido - falou o mestre espião.

- Não gosto do silêncio dela, não é assim que devia ser.

- Não se pode apressar uma reação, Rhys

Realmente não dava mesmo, então eu iria mais fundo nisso. Vesti meu casaco e com o glamour aplicado (nenhum humano sequer repararia na minha presença) atravessei até aquela ilha.

O fedor me atingiu assim que eu apareci, não havia nada daquela beleza que as rainhas aparentavam ter a sua disposição. Barcos pesqueiros ocupavam toda a encosta, ruas com vendas se espalhavam por todo o lugar. Sussurrei pra mim mesmo de modo que nenhum humano escutasse.

- Já é uma missão inútil sem nem ter começado.

Pov: Ana

200 anos, 164 dias e 7 horas desde ter sido trazida pra esse inferno em forma de cidade, sentia falta dos meus pais, ainda escuto os gritos desesperados da minha mãe pedindo piedade para aquele monstro, para o pai de Tamlin.

Ele destroçou cada soldado até que só havia minha mãe e eu. Meu pai estava muito longe para nós salvar, Rhys estava com ele no quartel. A espada partiu a cabeça da minha mãe, berrei e lutei com cada grão de força, mas era mulher, sem nenhum treinamento, não tinha chance. Quando achei que seria minha vez ele sorriu com escárnio e com a espada ainda pingando sangue me levou para aquela casa, a casa dele.

Eu senti o cheiro de Tamlin mesmo estando vendada, esperava que ele me ajudasse, o grande amigo do meu irmão me salvaria, não é? Não, ele colocou o colar em meu pescoço, minhas asas sumiram e naquele colar eles aprisionaram meu poder e me venderam para aquelas vadias (As rainhas) que me jogaram nesse lixo de cidade para apodrecer.

A porta abriu me tirando do meu transe, me tirando daquelas lembranças que além da minha orelha era o único vestígio do que um dia eu fui.

- Vamos logo - berrou Las - não tenho o dia todo Ana.

Las tinha me abrigado e desde então me oferecia moradia, comida e trabalho. O motivo de eu estar viva foi a benevolência de um jovem que viu a filha morta em mim e de alguma forma tinha tomado pra si o fardo de ter uma renegada do mundo sob seu teto.

- Desculpe, estava só pensando - respondi.

- Tempo é dinheiro criança - retrucou.

- Sou mais velha que você - respondo batendo o cotovelo nele de leve.

- Não parece - falou baixo.

Revirei os olhos para aquilo.

E realmente não parecia, embora o amuleto anulasse 95% do meu poder, minha aparência continuava a mesma de quando eu fiz 18 anos.
Meu cabelo preto azulado estava preso em um coque frouxo, os músculos definidos pelo contínuo trabalho pesado estavam cobertos por um vestido simples e desgastado, o rosto fino exibia fundas olheiras que eu ganhei devido aos pesadelos que me mantinham em claro, mas os olhos, os olhos que só eu e Rhys tinhamos, já não tinham o mesmo brilho.

O colar de ametista brilhava como sempre fazia de manhã. Todo dia eu tentava tirá-lo torcendo para o poder ceder mas nunca aconteceu.
Saímos de casa embaixo daquele sol rumo à banca que ficava perto do cais, o cheiro de peixe estava mais forte do que nunca, e o mar estava surpreendentemente calmo naquele dia.

A barraca de Las vendia peixe - que novidade - que eu devia ter buscado fazia 15 minutos com o pescador local. Saí em disparado pelas ruas de paralelepípedos, chegando cada vez mais perto daquele barco que estava tão ruim que eu nem sabia como boiava.

- MERDA - gritei quando vi o barco saindo do cais - Eu devo estar muito atrasada - falei ofegante.

Corri como nunca, mas infelizmente um infeliz decidiu cruzar meu caminho naquele momento fazendo com que eu caísse com o impacto.

- Droga- falei levantando e vendo o quanto o barco estava longe, não ia dar tempo - Sempre fica no meio do caminho dos outros assim? - Falei olhando pra pessoa que não parecia ter sido nem um pouco afetada pela batida. Mas assim que ele virou pra mim eu travei.

Aqueles olhos, aquela postura, não era possível. Tremendo e paralisada eu sussurrei:

-Rhys?

Corte de Sangue e Sol (Finalizada)Onde histórias criam vida. Descubra agora