Inevitável

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Pov: Ana

Droga, não era para eles terem voltado tão cedo. A sombra se dispersou segundos depois de ter me dado o aviso. Todos pareciam me olhar com expectativa de alguma notícia.

- Beron está de volta - meu marido pareceu enrijecer, seus braços me apertaram com um pouco mais de força.

Cassian olhou para Rhys pedindo permissão e decolou no ar, patrulhando os céus. Meu irmão parecia tentado a sair, mas seu rosto se virou para mim para falar algo, e suas palavras morreram antes de começar.

- Finalmente - a voz da minha general me tirou um pouco do transe - Antes de sair Az me disse que ao patrulhar viu uma movimentação estranha partir da primaveril rumo à outonal. Como eu estava organizando exércitos não vi para onde partiram depois do ataque a Ala Sul, e para não correr o risco de outro ataque surpresa pedi para chamá-lo.

Eu não estava acreditando no que eu ouvia, era uma pegadinha.

- Você o chamou? - descrença escorreu pela minha voz.

- Sim - falou como se fosse óbvio - Chamei seu general, mas como ele só anda em bando, vieram todos - Ela pareceu notar minha mudança de humor - Por que? Fiz algo errado?

- Teoricamente não - coloquei minha mão na cabeça ao sentir ela doer levemente - Só adiantou o inadiável.

- O que é inadiável?

O som de passos estava ficando cada vez mais perto, olhei para Helion que encarava onde eles certamente iam aparecer com um olhar cruel e mortal. Olhei ao redor me certificando que todos os guerreiros já não estavam mais acordados. Coloquei um escudo delicado e não visível envolta da minha família no momento em que a delegação de Beron chegou.

- Qual o motivo de mandarem me chamar esse horário? Espero que seja uma emergência - escarnio banhavam suas palavras.

Um leve rosnar saiu de Helion, dei um passo a frente afim de colocar um pouco de espaço entre meu parceiro e aquele imbecil.

- Eu chamei - Rafa falou também dando um passo - Vimos tropas de Hybern marchando do território da Primaveril rumo à Outonal. Me senti na obrigação de avisá-los o quanto antes para prepararem suas defesas.

- E porque simplesmente não veio dar o recado? - olhei para Eris absurdada com tamanha impertinência. Talvez Beron não fosse o único a perder a cabeça.

- Porque minha General não é sua fêmea de recados - minha voz saiu afiada como navalha - E deveriam se sentir gratos pelo favor. Não permitirei que essa gentileza seja estendida novamente.

Os olhos de Eris brilharam de raiva, mas ele não falou nada, apenas bufou.

- Se é só isso estamos de saída  - Olhei para Beron, mal sabia ele o que o esperava.

- Não, não é só isso. - A voz de Helion ressoou atrás de mim atraindo a atenção para ele - Temos assuntos para tratar.

- Não tenho assuntos para tratar com a Corte Diuna - rebateu o grã senhor.

- Disse o corno - as palavras saltaram da minha boca antes que eu pudesse me calar.

Diversão passou pelo laço tão rápido que eu sabia que meu parceiro tinha se esforçado pra não rir.

- Como disse? - Já dava pra notar a raiva corroendo suas palavras.

Mas não dei atenção, meus olhos se focaram na senhora da corte outonal, ela tinha a mesma postura de sempre, mas seus olhos cruzaram os meus, medo estava impregnado ali, ela sabia o que viria a seguir.

- Quero falar sobre Lucien - o arregalar de olho de Lilyan a havia entregado bem ali.

- E o que você pode querer tratar sobre o meu filho? - perguntou Beron estreitando os olhos.

- Seu filho? - A voz de Helion subiu uma oitava - Você trata todos os seus filhos com tal desprezo e ódio? Ou apenas os que acha que não são seus?

Raiva contorceu o rosto de Beron, vi ele dando vários passos a frente, quase batendo em meu escudo.

- Está ficando louco? Poucos meses vivendo com ela já estouraram seu cérebro? - Meu parceiro me contornou, menos de 2 metros separavam os grã senhores.

- Não fale da Minha senhora. - rosnou - Estamos falando do meu filho.

- Seu filho? - chamas dançaram nos olhos de Beron - Decidiu reclamá-lo agora?

- Então você sabia?  - As mãos de Helion se fecharam em punho, ele estava a um passo de perder a cabeça - E mesmo assim decidiu que era melhor maltratar ele do que entregá-lo a mim? - Berrou.

- Queria que eu escancarasse para o mundo que a minha esposa não passa de uma vadia? - isso pareceu esfriar todo mundo naquele segundo.

- Não fale com minha mãe assim - certamente escutar Eris defendendo a mãe não era o que eu esperava.

- Preferiu condenar uma criança a uma existência desprezível do que entregá-la a mim? Tudo isso para não ferir seu ego danificado? - o ódio do meu marido quase me cegou - Que tipo de monstro você é?

- Você nunca se importou, por que se importar agora? - O grito de raiva de Beron foi quase animal, suas chamas golpearam meu escudo tentando atingir meu parceiro.

- EU NUNCA SOUBE PRA ME IMPORTAR - Falou avançando mais alguns passos batendo no meu escudo, com um aceno de mão ele o dissolveu.

Eu ia avançar com ele quando a mão de Rhys me parou

- Essa luta não é sua, irmã.

Observei Helion pegar sua espada e avançar com raiva para Beron, vi ele colocar um escudo para que nenhum dos filhos atrapalhassem, mas eles não pareciam querer intervir não. O Grã senhor da outonal tentava lutar com a espada e com fogo, mas o fogo sempre era apagado pelos escudos.

Perdi a conta de quanto tempo essa dança mortal aconteceu. Cada passo era mais controlado que o outro, a ponto de eu já relaxar pra conseguir assistir.

Mas o último movimento de Beron pareceu chocar todos, uma parede de fogo se ergueu bloqueando nossa visão e abrindo um caminho até Lilyan, cego pelo ódio ele começou a ir até ela que não se mexeu. O som da sua voz se sobressaiu e todos o escutaram.

- A culpa disso é sua - o som do tapa ecoou pelo acampamento - Toda sua - As chamas diminuíram e eu consegui ver ela encolhida pela dor do tapa.

Eu vi ele levantando a mão pra bater nela novamente, e antes que qualquer um tivesse chance de intervir o movimento foi cessado. Junto com o som da sua voz e as batidas de seu coração.

Atrás dele estava Morrigan, e sua espada estava fincada no coração do antigo grã senhor.

- Nunca mais levantará a mão pra nenhuma mulher.








Corte de Sangue e Sol (Finalizada)Onde histórias criam vida. Descubra agora