Me sentia leve como uma pena, não sentia dor nenhuma e sobre meu corpo descansava uma roupa branca. Ainda doía para respirar, mas nem se comparava com o martírio de antes.
Alguma coisa apitava ao meu lado em um barulho padronizado e irritante, as luzes no teto machucavam os olhos sensíveis e pesados de alguém que provavelmente está sob efeitos de anestesia.
Consegui achar o comando para mexer os dedos e assim pude estudar a cama de hospital em que eu estava deitada sem conseguir me mover.
Virei meu rosto com dificuldade até focar no homem sentado com uma revista tapando o rosto.
Tentava falar mas a voz não saía, era agoniante o esforço para gritar e nem uma migalha de som saindo. Bati as unhas no metal da cama e finalmente ele foi revelado.
Os olhos tão claros que pareciam brancos me tranquilizaram… Nunca fiquei tão feliz em ver o Miguel na vida.
— Oh você acordou — ele se aproximou — Como se sente?
Mais uma vez a investida de falar foi falha.
— Não consegue falar? — eu afirmei com a cabeça — Entendo. Suas cordas vocais foram bastante danificadas, mas você vai voltar a falar.
Mexi o corpo tentando perguntar o que tinha acontecido.
— Bom, vou te falar o que aconteceu. Eu esqueci meu casaco na sua casa e só percebi quando cheguei na minha. Voltei e tive que arrombar a porta porque achei estranho você não atender, e quando entrei você tava caída no chão sangrando por todos os buracos do seu corpo, literalmente todos, Hanna.
"Fizeram exames em você e várias bolsas de sangue, pois você estava pálida feito farinha e perdeu muito sangue. Foi constatado uma substância na sua corrente sanguínea que paralisou seus membros e estava te levando a óbito. Se eu chegasse um minuto mais tarde você poderia estar morta agora. E eu agradeço a Deus por ter me feito de instrumento para te salvar."
Eu gelei, fitando os olhos dele eu me vi completamente em choque. A amargura na boca doía a garganta a cada vez que a saliva era ingerida, eu conseguia sentir um cheiro horrível saindo da dela e poderia afirmar que chegou bem próximo de ser o cheiro da morte.
— Você provavelmente foi picada por algum animal ou… — ele suspirou — Alguém tentou te matar. Você vai ficar bem tá bom? — Miguel pegou a minha mão acariciando-a.
— Tá… — saiu baixinho e falhado.
Miguel saiu para falar com alguns médicos e eu fiquei ali, parada, sem mal conseguir me mexer. Um peso no corpo e uma preguiça, meu único desejo era dormir.
Não quero pensar sobre tentativas de assassinato ou o que aconteceu comigo, eu só quero dormir.
Cada vez que eu respirava a barriga doía e eu me pergunto o porquê daqueles corrimentos… A cada bocejo meu corpo se desligava adormecendo naquele sono tão bom… Faz tanto tempo que não durmo desse jeito…
— Oi.
A voz adentrando no quarto me despertou como se tivesse levado um choque.
— Sai daqui — fiz esforço para um grito mas saiu um miado falhado.
— Como você tá? — aqueles cabelos pretos e olhos da mesma cor se aproximaram.
— Sai daqui — sibilei irritada.
— Desculpa por ontem…
— Abel, eu literalmente estava morrendo e você desligou a chamada. Qual o seu problema? — tossi sentindo a garganta arder como fogo.
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O Diabo Também Chora
Mystery / ThrillerDepois da morte da sua querida esposa Liz, Lúcifer vive nas lembranças sem querer acordar para a vida atual. Mesmo sofrendo com todos os traumas ele tenta se reerguer e no meio disso, encontrou um trabalho em uma delegacia para sufocar seus sentimen...