Capítulo IX | Ira da pele sagrada

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Eles conversaram entre si por algum tempo. Gabriel sempre deixou muito claro que sente raiva de Lúcifer. Não consegui saber com certeza qual o motivo dessa raiva mas entendi que é algo relacionado com uma rebeldia de Lúcifer no passado.

Algo sobre levar todos os seus amigos e criar desavenças com os "ratos do Inferno" seja lá o que isso signifique.

Eles conversam com metáforas de que são os Quatro Arcanjos. O pior, falam como se fosse a coisa mais normal. Ray e eu só nos entreolhamos um tanto confusos com aquelas conversar angelicais.

Gabriel seguidamente depositava beijos e longos carinhos nos fios negros do meu irmão. Um sorriso instintivo se abriu no meu rosto ao ver ele feliz, tomara que eles dêem certo, quero muito ver me irmão feliz.

Apesar de estar feliz por vê-lo sorrindo e todos brincando com piadinhas ou brincadeiras. Eu me sinto longe deles, não recebo afagos ou beijos demorados na cabeça. Nem queria, me sinto uma criança assim.

Mas me refiro à atenção, Lúcifer está aqui me acompanhando, porém parece que esqueceu completamente da minha existência quando se encontrou com os irmãos.

- Se está aqui, quer dizer que superou a Liz? - Gabriel quebrou o sorriso de todos ao mesmo tempo ao questionar isso.

Lúcifer se encolheu, em um milésimo de segundo todos aqueles risos se acabaram. As curvas de felicidade se transformaram em linhas retas e apreensivas.

- Bom, eu vou indo lá para dentro descolar alguma coisa bacana - Miguel colocou o copo de bebida sobre a mesinha.

- Você quis dizer roubar alguma coisa com essa lábia de garoto bonzinho - Rafaela brincou.

- Não posso fazer nada se as pessoas me dão suas coisas de valor depois de um sorriso bonito e um elogio sobre suas bundas - ele gritou já da porta.

- Coisas de valor seria o quê? - perguntei um tanto receiosa.

- Relógios, dinheiro, colares, celular... Essas coisas - Rafaela deu de ombros - Até oferecem vuco vuco, mas o Miguel prefere sua santidade e se mantêm virgem.

Difícil de acreditar.

Um silêncio carregado de tensão se firmou entre nós. Lúcifer mantinha o olhar no além perdido dentro dos próprios pensamentos, toda a energia na qual ele estava quando chegamos havia acabado.

Disse que iria ao banheiro para os três e adentrei a casa. Observei um jogo de sinuca e a comemoração dos que ali jogavam. É impressionante como ninguém nota a minha presença.

Eu sou sempre um fantasma em todo lugar. Um objeto aos olhos dos homens, eu percebo jeito que a maioria me olha no restaurante. A maldita roupa justa que nosso chefe exige que usemos só piora as coisas.

Um dia, todo mundo vai me notar, um dia eu serei reconhecida e sei que vai chegar esse momento.

O jogo terminou junto com a minha bebida, não é uma boa ideia ficar bêbada, não hoje. Tenho que me controlar mas é tão tentador esse gosto ácido corroendo minha garganta.

Senti a presença masculina ao meu lado e em um movimento encontrei as esmeraldas sobre mim. Dei espaço para que ele se sentasse ao meu lado e ofereci um copo de bebida. Ele negou.

- Tudo bem? - perguntou

- Aham...

- Quer ir para o outro lado da casa? Soube de um jogo de sinuca super eufórico!

Óbvio que não tinha um jogo de sinuca eufórico no outro lado da casa, ele queria ficar sozinho comigo.

Segui com ele até uma sala recheada de copos vazios e bebida jogada no chão junto com outros tipos de lixo.

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