Capítulo I | Lúcifer Bintang Timur

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Termino de tomar meu café da manhã, comi alguns biscoitos e bebi o líquido sem açúcar. A ressaca do dia anterior não me deixava sentir fome.

A luz da janela bate nos meus olhos ainda acostumados com a escuridão. Tiro a palma da mão que esmigalhava meu olho e começo a enxergar tudo turvo com o lado direito.

Bufo e me debruço na cadeira com a boca aberta olhando para o teto. E mais uma vez eu me entreguei as malditas lembranças...

— Andou bebendo de novo não é papai? — a garotinha de cabelos longos e castanhos me fita com seus olhos de esmeralda.

— Não — me recupero na cadeira.

— Tem certeza? — ela olha para a garrafa de Whisky no chão da cozinha.

— Ããnn — reclamo colocando os cotovelos na mesa e afundando os dedos no cabelo.

Ashley se senta junto a mesa e prepara seu café devagarinho. Ouço o barulho da água sendo derramada e a chaleira sendo reposta em cima do descanso. A colher bate lentamente nos cantos da xícara e logo consigo ouvir ela bebendo um gole.

— Já comeu? — apenas balanço a cabeça afirmando. — Eu não tenho aula hoje à tarde... Pensei em comermos juntos em um restaurante ou lanchonete. — ela espera alguma resposta e então conclui — O que você acha?

— Acho que não — resmungo.

— Devia sair mais, ficar só em casa não ajuda muito — sugere.

Levanto minha cabeça e a olho desanimado com o cabelo todo bagunçado.

— Você só tem onze anos, não entende essas coisas. — ela se estica e pega uma bolacha — E aliás, eu saio sim, trabalho todo dia.

— Trabalha sem precisar trabalhar, uma forma de afogar seus sentimentos? — ela quebra a bolacha entre os dentes.

— Você está muito sabida pelo meu gosto — suspiro.

— A mamãe não gostaria de te ver assim — ela fica corcunda na cadeira com os cotovelos na mesa e mãos nas bochechas.

— Eu não gostaria de ter visto ela em um caixão — falo irritado e o buraco no meu peito começa a doer novamente.

O queixo dela se enruga e percebo sua luta para que os olhos não deixassem derramar as lágrimas, mas foi inevitável. Os lindos olhos cor de esmeralda ficaram tristes e a lágrima escorreu pelo seu delicado rosto.

— Filha não chora não. — vou até ela — Papai não falou por mal tá bom? — deposito um beijo em sua cabeça.

— Eu sinto falta dela — cai em choro me abraçando.

Tento a acalmar acariciando seus longos cabelos, ela soluça baixinho com a cabeça em meu peito.

Depois que consegui acalmar Ashley, a arrumei para ir para a escola, por que eu sou assim? Por que não consigo sofrer sem machucar os outros?

Passamos o caminho inteiro em silêncio, e eu a entendo, prometemos um para o outro que não falaríamos mais em Liz, mas era muito difícil para mim.

— Chegamos. — anuncio puxando o freio de mão.

Ashley pegou a mochila cor de rosa e abriu a porta, eu sabia que estava chateada comigo, com toda a razão.

— Filha — ela me olha — que tal irmos no restaurante na esquina lá perto do trabalho do papai em? — dou um riso rápido.

— Pode ser — ela sorri animada.

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