Capítulo XLV | Encontro

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Terminei os últimos ajustes no paletó e finalmente estou pronto. Espirrei com generosidade o melhor perfume que tenho e olhei para Miguel e Ashley que me olhavam se deliciando em doces.

— Tá bonitão — ele elogiou.

— Você vai pôr uma rosa nesse bolso, né? — Ashley apontou para o paletó. — Seja romântico.

— Essa garota é estranhamente entendida nesses lances…

— Tô de olho, filha — disse me dirigindo até a porta. Ela escondeu o sorriso sapeca que soltou.

Senti a textura do volante nas mãos e suspirei fundo tomando toda a coragem do mundo para mim. Elise disse que Ray a levaria até o restaurante, então eu não tenho que pegá-la em casa.

Adentrei o lugar revirando meu estômago. Toda aquela estrutura luxuosa me fazia relembrar tantas coisas, as luminárias de metais exóticos e o piso ilustrado por pinturas raríssimas traziam um toque de inspiração e novas ideias de assunto para puxar com ela. Sentei-me observando o guardanapo que provavelmente custa mais caro que boa parte dos meus móveis do apartamento.

São vinte e um e cinquenta e seis minutos, todo o suor das minhas mãos eu estou secando nas calças. Fale sobre o futuro, sempre sobre o futuro.

Os garçons usam máscaras de olhos, coloridas, decoradas ou só pretas, é uma tradição do local. O que, estranhamente, me traz mais conforto.

A silhueta feminina desacelerou tudo ao meu redor fazendo com eu até esquecesse de respirar. Em um vestido preto como seus cabelos, ela desfilou em minha direção com um sorriso tímido e as lindas íris de turquesa estudando cada canto do luxuoso restaurante. Os ossos da clavícula marcados roubavam minha atenção, assim como suas pernas nuas.

Puxei a sua cadeira e a convidei para sentar.

— Obrigada — ela sorriu.

Tenho a absoluta certeza que lhe estou olhando como um bobo e isso está transparecendo pelo meu olhar. Mas não importa, cada detalhe é tão precioso como diamantes, tão perfeitos quanto qualquer outra jóia.

Meu interior é preenchido por tantas emoções que chega a ser impossível descrever, só quero sentir. Não tenho borboletas no estômago ou coração acelerado, pelo contrário, uma calmaria tão silenciosa e prazerosa como passear por um bosque florido. Todos aqueles conflitos e toda aquela escuridão desapareceram como se nunca houvessem existido.

— Vo-você está ma-maravilhosa — elogiei com o aviso da Ashley de não gaguejar ecoando na minha mente. — Está tão perfeita que eu fico até sem palavras...

Elise corou e me olhou com tamanha ternura e carinho enorme que arrancou de mim todo tipo de precauções que qualquer um tivera me dado. Tomei seu rosto com delicadeza em minha mão e depositei o mais sincero e carinhoso beijo.

E mais um vez me vi perdido como um cordeiro inocente naquele rebanho de emoções e sentimentos que era simplesmente tocar sua pele ou sentir sua saliva. Ela é um esbelto mapa desconhecido que eu quero muito desbravar novamente, mas dessa vez não como prazer da carne, eu quero senti-la com toda sua intensidade. Quero sentir que estou dentro dela.

— Você também está muito… encantador e atraente — ela exitou por um tempo — Desculpa eu não sei como elogiar homens — riu.

— Seus elogios são músicas aos meus ouvidos, assim como sua voz é uma bela poesia…

Suas bochechas coraram.

— Está um poeta hoje. Aliás, você é muito hábil com as palavras — elogiou.

O Diabo Também ChoraOnde histórias criam vida. Descubra agora