Especial de Natal

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(4151 palavras)

— Entendeu? — perguntei.

— Sim, sim. O Natal é a comemoração do nascimento do nosso irmão caçula — Gabriel repetiu o que eu acabara de dizer.

— Isso.

— Ok, ele vai vir?

— Óbvio que não! — Miguel gritou enquanto colocava um gorro de Papai Noel — Se ele vier, tecnicamente estaria voltando à Terra. E quando isso acontecer é porque o Apocalipse começou — Gabriel revirou os olhos.

— O que é isso na sua cabeça?

— Um gorro de Papai Noel.

— Quem é Papai Noel?

— Como assim você não sabe quem é? — Miguel ficou incrédulo. — Gab você só me decepciona.

— O tio não precisa saber de alguém que não existe — Ashley diz trazendo uma sacola de bolinhas de enfeite para a árvore.

— Não interessa! Ele existe para mim, tá bom? Tô esperando meu presente hoje à noite — ele cruzou os braços fazendo biquinho.

— Não consigo acreditar que nosso exército esteja nas mãos de alguém que usa "gorro de Papai Noel" e saia — um suspiro escapou do ruivo.

— Não ouse falar da minha saia!

— Bom dia! — Rafaela adentrou a casa que alugamos para passar o Natal — Trouxe algumas guloseimas.

— Eba! — Ashley saiu correndo derrubando todas aquelas bolinhas em cima de mim.

— Vamos montar essa árvore logo! — Gabriel foi em direção à árvore de Natal e começou a circular-lá com os enfeites — Se eu não fizer as coisas, ninguém faz!

— Que horas a Elise vai chegar? — Miguel perguntou enquanto colocava meias coloridas e remendadas na lareira.

— Daqui a pouco — disse.

— Vai tomar um banho que você tá fedorento — o ruivo disse, pegando mais uma bolinha que eu entregava.

— Fedorento é você Gabriel, para de bobagem — dei-lhe um tapa — Tomei banho hoje de manhã.

— Depois de dois anos sem, né? Do jeito que você é porco — ele riu.

— Eu posso dizer que ele não toma banho todos os dias — Ashley disse.

— Tá vendo.

— Para de mentir! — exclamei.

— Porquinho — ela riu.

— Em minha defesa, estou acostumado com o tempo antigo em que as pessoas não tomavam banho…

— Ah por favor Lúcifer…. Que nojo — Gabriel franziu o cenho enojado.

— Ficar dois dias sem tomar banho não faz cair o pau, Gabriel — Miguel se sobressaiu.

— Não fala essas coisas na frente da minha filha — avisei.

— Achamos outro porquinho — Gabriel caiu em gargalhada e Miguel fechou a cara.

— Vou lá fora — avisei.

Nem parece que estamos reunidos como uma família feliz e normal, fazendo coisas de famílias normais. Me sentei no banco de balanço em baixo de uma sombra generosa de uma grande árvore.

Ao fundo da casa tinha uma floresta natural que leva até um rio repleto de passarinhos e alguns cisnes lindos. Optamos por um lugar na natureza para nos afastarmos das cidades, somos seres que precisam de algum contato com a natureza de vez em quando, nos fortalece.

O Diabo Também ChoraOnde histórias criam vida. Descubra agora