Capítulo XXXVII | O Diabo também...

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Já faz três minutos que estou acordado observando ela dormir. Não sei como abordá-la sem que ela se assuste por não estar acostumada.

Matutei por muito tempo o lance de ficar acordada durante uma hora na madrugada, busquei por todos os meus conhecimentos sobre seres sobrenaturais e não lembrei de nenhum que se acorde durante à noite. Isso é ruim.

Passei a mão pela a sua cintura até perto do joelho. Beijei sua bochecha, os olhos abriram lentamente e observei as pupilas dilatadas virarem apenas dois pontinhos, como se estivessem à deriva em um oceano.

Ela sentou rapidamente assustada e me acusou com um olhar bravo e mal humorado.

— O que você tá fazendo? — arregalou os olhos.

— Não, calma, só te dei um beijo na bochecha.

— E eu vou lá saber o que você estava fazendo? — gritou — Sai daqui — colocou a mão no meu peito e me empurrou saindo enrolada na coberta até o banheiro.

O cabelo estava todo arrepiado e enredado em si mesmo. Apenas ouvia as bufadas dela estressada com tudo, batendo porta e derrubando as coisas no chão.

— Desculpa — disse assim que retornou.

Ela resmungou alguma coisa.

— Não foi a minha intenção — continuei.

— Tá, tá Lúcifer, agora para de falar comigo — tropeçou no pé da cama e a xingou de todo tipo de nome.

O que aconteceu com ela?

Peguei as minhas roupas e fui tomar um banho para irmos ao interrogatório. O sol brilhando lá fora sem nenhuma nuvem e o pouco vento deixava o dia insuportavelmente quente.

Fechei o cinto da calça e Elise entrou batendo a porta com força. Parou na frente do espelho e mexeu na pele como se espremesse uma espinha.

— Eu tô tomando banho — disse incrédulo ao vê-la ali.

Ela me olhou de cima a baixo e voltou a mexer na pele.

— Está se vestindo, não tomando banho — respondeu.

Eu suspirei e peguei um desodorante. Ela me olhou novamente e se virou apoiando as mãos na pia com um sorriso de lado.

— E essa axila toda peluda aí? — riu se divertindo e um suspiro irritado escapou por entre os lábios.

— Vai implicar até com a minha axila agora? — retruquei.

Ela olhou surpresa pela minha resposta.

Ain, todo estressado ele…

Eu estou estressado? Atá — revirei os olhos — O que aconteceu com você hoje?

Ela não respondeu.

Colocou a mão no meio do meu peito e a puxou arranhando meu abdômen até a beira da calça. Senti a textura dos seus dedos e a queimação traçada pelas suas unhas arder até uma área de risco.

— Nem vem — tirei sua mão — Não vou cair nos seus joguinhos de novo — ela revirou os olhos.

Passou a mão pelo meu maxilar e coçou a barba recém nascida. Me vi novamente perdido em uma possível ilusão, ela não cansa de brincar comigo não?

— Vai deixar ela crescer? — perguntou fitando meus olhos.

— Você gosta dela grande?

— Adoraria te ver com ela grandinha — passou os dedos por entre os cabelos molhados e arfou tocando o lábio superior no meu.

O Diabo Também ChoraOnde histórias criam vida. Descubra agora