Capítulo 7

1K 93 36
                                    

— Potter. — Ele o cumprimentou, desajeitadamente, envergonhado. Ele tinha acabado de passar quase quatro horas, chapado na saliva do outro homem, por mais insano que fosse, amando cada minuto, e aqui estava ele agora, visitando Grimmauld Place para, bem, mais do mesmo.

— Por favor, entre, Professor. — Ele disse amigavelmente – ele obedeceu, desejando poder ignorar o estranho arrepio de culpa que sentia. Ele tinha, de uma forma muito estranha, tirado vantagem do outro homem... e ele estava bastante enojado com esse pensamento, se talvez não pelo motivo que deveria estar.

— Você poderá fornecer a amostra? — Ele perguntou com uma careta.

— Ah sim, estou com muita fome. — Potter disse com uma risada. — Mas, erm, não se preocupe. Como eu disse, eu nunca te machucaria. — Ele prometeu.

Severus cerrou o maxilar.

— Criança idiota. — Ele sibilou, embora Potter não fosse nenhuma das duas coisas.

Em vez de responder, o grifinório sorriu e o levou para a sala de estar. Ele tirou o que havia preparado – vários frascos – e, como Potter havia sugerido, um brinquedo de pelúcia. Ele o transfigurou – e Potter pareceu horrorizado ao vê-lo.

— V-Você quer que eu morda isso? — Ele perguntou, pegando o brinquedo de pelúcia branco de sua mão.

— ...Sim? Você é quem sugeriu...

Potter lançou-lhe um olhar incrédulo.

— É um coelho. Um coelho adorável. — Ele disse, como se esperasse uma reação específica dele.

— Merlin, transfigure-o para outra coisa então, Potter. Você não está no jardim de infância. — Ele sibilou.

O outro homem encarou por mais um momento antes de rir.

— V-Você está certo, desculpe. Erm... — Ele transfigurou o bichinho de pelúcia de fato, em uma espécie de travesseiro fino em cinza-ardósia. — Está bom, certo?

— Você é quem está mordendo. — Ele disse suavemente. — Eu presumo que você será capaz de segurar o copo de espécime sozinho? — Potter estremeceu novamente e bufou. — O quê, agora?

— Copo de amostra? — Ele perguntou – Severus suspirou.

— O frasco, então? Alguma outra sensibilidade delicada sua que eu possa ofender?

O grifinório sorriu, quase tristemente, e se desculpou – e por algum motivo, Severus se sentiu um pouco podre, de repente. Potter estava cooperando – e ele nem estava sendo um espertinho sobre isso.

— Não, Professor. Desculpe. — Ele disse.

— Você pode... me chamar pelo meu primeiro nome, agora que você não é mais meu aluno. — Ele sibilou, esperando que o idiota sentimental tomasse isso como uma oferta de paz.

Os olhos verdes se arregalaram quase comicamente, e uma expressão ofendida e envergonhada derreteu-se em um sorriso feliz. Ele cerrou os dentes e lutou contra a vontade de reclamar sobre a facilidade com que o humor do outro homem mudava.

— Obrigado, Severus. — Ele disse, quase presunçoso.

— Vamos começar? — Ele perguntou em vez de reconhecer.

— É claro. Como você parece bastante sensível a... bem, a mim, devo avisá-lo de que posso ser considerado... mais ameaçador quando meus dentes estiverem para fora. Já aconteceu algumas vezes no trabalho, quando eu estava particularmente irritado, que algumas pessoas ficaram... nervosas. Elas não sabiam o motivo nem nada, mas pensei em avisá-lo. — Ele disse calmamente.

Severus assentiu – ele apreciou o aviso, certamente.

— Prossiga. — Ele disse.

Potter pegou o frasco e o travesseiro de formato estranho, respirando fundo algumas vezes antes de separar os lábios. Severus sabia que ele estava encarando, mas estava curioso para saber como isso aconteceria – ele nunca tinha visto os dentes de Potter, não de verdade.

Eles se tornaram visíveis rápido o suficiente, caninos mudando de forma até que eles saíram de baixo dos lábios de Potter, apenas as pontas, mas ameaçadores o suficiente. Olhos verdes se abriram e se fixaram nele – e de repente ele entendeu o aviso de Potter, entendeu o que ele quis dizer, porque ele se sentiu caçado.

Ele se mexeu, bem ciente de que os olhos de Potter rastreariam qualquer movimento que ele fizesse. Ele lutou contra a vontade de sacar sua varinha – como se sentisse seu pensamento, Potter sorriu fracamente, inadvertidamente expondo muito mais de seus dentes.

Uma fração de segundo depois, ele mordeu o brinquedo, os dentes rasgando-o, saindo dele visivelmente do outro lado. Potter levantou o frasco ali, assim que as primeiras gotas de veneno transparente caíram. Severus se inclinou para mais perto, curioso como nunca. Potter estava coletando o veneno de seu incisivo esquerdo – Severus estava à sua direita e, portanto, podia ver o mesmo líquido transparente escorrendo do outro dente.

Potter se assustou ao se inclinar para mais perto, mas não reagiu, exceto para morder o brinquedo com mais força, pingando mais e mais veneno no pequeno copo. Severus aproveitou a oportunidade para estudar o dente do homem mais jovem — era obviamente oco, mas ele não conseguia realmente distinguir a abertura de onde o veneno pingava.

Depois de um ou dois minutos, Potter abaixou o frasco e desapareceu o travesseiro, tossindo levemente e tomando um gole de uma garrafa que ele tinha por perto. Ele entregou o frasco sem dizer nada a Severus, que o engarrafou e o guardou no bolso.

— Tenha cuidado com isso. — Potter o aconselhou.

— Cuidado? — Ele perguntou, um pouco irritado por Harry Potter estar dizendo isso a ele.

— Você viu o que ele fez, da última vez. É... forte.

Ele sentiu a humilhação formigar na nuca, imaginando se, de alguma forma, Potter sabia o que ele tinha feito – mas não, isso não era possível.

— É sempre assim? — Ele verificou. — Ele estava... se divertindo, claramente.

Potter sorriu fracamente, mexendo o maxilar por alguns segundos – ele tinha certeza de que os dentes estavam se retraindo.

— Isso... é uma das únicas coisas que torna isso suportável, honestamente. Eu teria... Eu não conseguiria viver com isso se machucasse as pessoas. Se elas... pelo menos não se sentissem bem. — Ele disse amargamente.

Severus quis, por um momento de rancor, dizer que Potter realmente machucou as pessoas, que ele sempre fez isso e talvez sempre faria, mas ele se conteve.

O que saiu da sua boca foi muito pior.

— Se... você estiver inclinado, eu estaria disposto a... supervisionar você se alimentando de um homem novamente. Se você ainda não confia em si mesma com seu tipo preferido de... parceiro. — Ele ofereceu, imaginando se ele já tinha enlouquecido completamente agora.

Potter olhou para ele como se estivesse pensando a mesma coisa, por vários longos, longos segundos – então ele engoliu em seco.

— Se... você estaria disposto? Seria uma imposição.

— Não tanto quanto se você acabasse assassinando alguém. — Ele disse sem rodeios, sem vontade – incapaz – de defender uma oferta que ele nem sequer pretendia fazer.

— Eu-eu não sou orgulhoso demais para aceitar sua oferta. Se você realmente estiver falando sério. — Potter disse com um sorriso triste. — Não é... funcionou bem, mas eu realmente não gosto de... — Ele estremeceu, fez uma careta, até. — Mulheres. — Ele finalmente terminou.

Lutando contra a vontade de revirar os olhos.

— Uma vez, a cada três dias?— Ele verificou. — Encontre um lugar adequado, e eu te encontro aqui amanhã às 21h. — Ele ofereceu.

Potter assentiu, parecendo tão confuso – tão surpreso – quanto Severus se sentia.

— Obrigado, Pro- Severus. Sério. Só... obrigado. — Potter disse, sem olhar para ele.

Ele não respondeu.

The Will To Fight | SnarryOnde histórias criam vida. Descubra agora