Capítulo 52

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Ele estava dolorosamente solitário. Claro, a sensação era familiar. Reconfortante, até, às vezes – mas não desde que Harry tinha vindo até ele, mais de um ano atrás.

Era o primeiro dia de férias – não que ele precisasse de mais tempo para ficar sozinho com seus pensamentos, é claro. Uma coruja piou no corredor, voando para dentro de seu escritório no momento em que ele levantou a cabeça. Correspondência direta como essa era rara – ele suspirou e aceitou o pequeno pacote que ela deixou cair antes de voar para longe novamente.

Era uma correspondência oficial do ministério – carimbada pela secretária de Prickle. Ele cuidadosamente desfez o selo mágico, escrito para permitir acesso somente a ele. Ele esperou pacientemente que os feitiços se desfizessem antes de abrir a caixa. Em cima dela, havia uma carta escrita à mão, em tinta preta e com uma caligrafia visivelmente trêmula. Seus olhos examinaram a página automaticamente.

Fazia quatro dias desde que ele tinha visto Prickle – sua primeira tentativa de cura falhou, pois ela não tinha colhido sangue suficiente do criador, ela escreveu. A segunda foi bem-sucedida. Ela obedeceu às instruções dele à risca – e, portanto, sua filha foi curada. Ele absorveu os detalhes disso, as pequenas mudanças no processo para ela, as notas que Prickle tinha feito sobre os detalhes de tudo isso.

Mais perto do fim, onde a caligrafia ficou bem menos firme, ele encontrou um simples obrigado – e ficou surpreso com o quão caloroso isso o fez se sentir. Ele não tinha feito isso por ela ou pela filha dela, é claro – ele mal conhecia a mulher, afinal – mas era impossível negar que ele estava feliz que sua descoberta já tivesse ajudado outra pessoa.

Ele largou a carta e pegou a próxima coisa – uma caixa de chocolates. Havia uma etiqueta, endereçada a ele e assinada por uma tal de "M. Prickle" – a seu ver, a filha. A caligrafia o fez parar – parecia a de uma criança, quase. Ele se perguntou distraidamente que idade a filha dela tinha quando foi transformada, antes de descartar o pensamento. Os chocolates eram bons, mas ele os colocou de lado em favor dos documentos que estavam abaixo deles.

A primeira foi a cópia carimbada, assinada e autenticada da lei sugerida por ele. Ele a escaneou – ela fez algumas emendas, mudou alguns detalhes mais sutis, mas, no geral, ela deixou tudo igual. Ele notou que ela aumentou as punições propostas para crimes cometidos por vampiros enquanto eles estavam transformados – ele estava bem com isso.

A última página continha assinaturas – e ele ficou bastante chocado ao encontrar uma coleção completa de assinaturas de Wizengamot ali. A lei estava em vigor. Ele esperava que levasse anos para ser aprovada – ele não conseguia nem imaginar que tipo de influência ela tinha que ter, quantos favores ela havia pedido para isso. Ainda assim, significava que Harry estava bem e verdadeiramente livre – ele não havia feito nenhuma das coisas que teriam exigido uma sentença de prisão.

A lei estava em vigor, mas provavelmente ainda não havia sido anunciada – ele se perguntou se Harry sabia. Já que Prickle havia deduzido corretamente quem ele havia curado, ele pensou que ela já o teria informado. Ele sorriu para si mesmo, imaginando a alegria pura que sem dúvida seria visível no rosto de Harry com a descoberta. O sentimento foi ofuscado pela pontada aguda de arrependimento por não ser capaz de ver, mas só um pouco.

Ele largou os papéis e pegou o próximo – a patente para a poção de detecção. O pedido de patente que ele havia preenchido estava apenas no nome de Prickle – o que ela havia protocolado e aprovado , no entanto, tinha os dois. Ele riu baixinho – ela havia se listado como a principal contribuidora. Não que ele se importasse, não realmente.

O segundo requerimento – também já concedido, e com uma servidão para o ministério usá-lo, para começar – estava exclusivamente em seu nome. Ele levantou uma sobrancelha para a quantia que o ministério lhe pagaria por cada lote da poção preparado e administrado com sucesso – excedia em muito seu salário mensal, mesmo depois de décadas de ensino. Ele teria concordado com a servidão de qualquer maneira, mas certamente estava agradecido pelo gesto de Prickle.

Suspirando, ele largou os papéis e abriu a caixa de chocolates. Ele não era muito fã de coisas doces, na verdade, mas... ele provou um deles – eles eram muito bons.

.

Já fazia quatro dias que estava de férias quando alguém bateu na porta dele no raiar do dia. Ele se levantou, um pouco de ressaca e definitivamente cansado demais para lidar com quem quer que fosse que decidiu que precisava vê-lo tão cedo.

Ele vestiu seu roupão e saiu cambaleando até a porta da frente, totalmente pronto para acabar com quem ousasse escurecer sua porta – exceto que as palavras morreram em seus lábios antes mesmo que ele pudesse fazer um som. Ele estava chocado demais com a visão diante dele.

Seus olhos sorveram avidamente a aparência corada e desleixada de Harry. Ele estava respirando com dificuldade – parecia que tinha corrido. Suas vestes estavam um pouco tortas, seu cabelo ainda mais desleixado do que o normal.

Ele provavelmente nunca esteve tão bonito.

O hábito, nascido inteiramente do tempo que passaram juntos, fez com que ele recuasse e convidasse o grifinório para dentro. Harry entrou prontamente, ainda sem falar. Eles se encararam por vários minutos – ele queria falar, mas não conseguia pensar em nada para dizer ao homem mais jovem.

Por fim, Harry bufou.

— Você é inacreditável, sabia?

The Will To Fight | SnarryOnde histórias criam vida. Descubra agora