Capítulo 48

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Severus gemeu de aborrecimento. Ele estava com enxaqueca . Havia poções, é claro, mas ele estava doente demais para sequer pensar em fazer uma – e ele pensou que metade disso poderia ser apenas seus próprios pensamentos o atormentando de qualquer maneira.

Ele não conseguia descobrir o que estava errado. O sangue de Vane era claramente, se não a solução, uma parte importante dela. Ainda assim, faltava algo mais – mais duas tentativas com ingredientes ligeiramente alterados produziram uma transformação mais agradável, mas falharam em tornar a mudança permanente.

Ele não sabia o que mais estava faltando, mas ver o entusiasmo, sua vontade de viver, de lutar, drenando dos olhos de Harry o fez sentir como se não conseguisse respirar. Não era nem mesmo o Juramento – meramente seus próprios sentimentos estúpidos, difíceis como eram de negar quando ele estava perto de Harry quase permanentemente. Já fazia quase um ano desde que eles começaram, e ele não conseguia nem por nada lembrar como tinha sido antes, não realmente.

Ele riu levemente, levantando-se de sua cadeira na biblioteca. Era absurdo – à sua maneira, ele estava tão irremediavelmente apaixonado por Harry quanto Vane, mesmo que gostasse de acreditar que era pelo menos um pouco mais são do que ela.

— Ei, cheguei! — Harry disse com um sorriso, entrando na biblioteca.

Severus congelou, olhando para o jovem e seu sorriso radiante, com calor genuíno naqueles familiares olhos verdes.

Ele estendeu a mão e o puxou para um beijo forte e implacável.

Harry gritou, mas se deixou mover, rindo no contato sem fazer nenhum movimento para recuar. Severus se afastou primeiro.

— Isso é um grande olá, o que está acontecendo com você? — O homem mais jovem disse com um sorriso.

— Saia.

— Eu... o quê?

— Saia. Desta casa. Preciso fazer um experimento, e você não precisa estar aqui para isso. — Ele declarou, sua enxaqueca passou, coração disparado de excitação.

—Uhm... sério?

— Sério. Volte em uma hora – ou melhor ainda, duas.

— Certo...? Acho que vou pegar alguma comida trouxa para viagem? — Harry disse sem jeito. Severus passou por ele, nem mesmo ouvindo mais. Ele tinha uma poção para terminar.

.

— E isso, você acha... — Harry perguntou, segurando o frasco um pouco desconfiado.

Severus não o culpou – o líquido era de um rosa brilhante e borbulhante l, nada parecido com os outros até então, que tinham tons de marrom.

— Sinceramente, não. Não sei. É um tiro no escuro. Uma ideia vaga, até, mas... faria sentido, pelo menos. — Ele disse nervosamente.

— Bem, eu confio em você. Se você acha que pode ser isso... e mesmo que não seja, nós poderíamos sair para jantar enquanto eu estou normal? — Harry perguntou esperançoso.

Ele sabia que era apenas uma tentativa de procurar um ponto positivo em uma situação um tanto sombria, mas...

— Nós podemos. — Ele concordou suavemente, o coração disparado enquanto Harry bebia a poção.

— Oh, este não tem... gosto... de...? — Ele parou de falar lentamente, seus olhos revirando por um momento antes de ficar completamente mole. Severus nunca chegou a ouvir qual era o gosto – Harry desmaiou e ele teve que pular para frente para pegá-lo. Não era nada parecido com as convulsões e cãibras que ele teve antes – ele simplesmente perdeu a consciência.

Xingando baixinho, Severus o levantou e cambaleou pela casa, até a cama mais próxima em um dos quartos de hóspedes. Ele deitou Harry e o examinou apressadamente. Inconsciente, sim, sem nada de errado em particular com ele, exatamente.

Com Harry confortável, Severus decidiu cuidar de Vane. Já fazia vários dias desde que ela tinha sido alimentada, então ele foi até o porão com outra poção nutritiva. Ele jogou dentro e ela bebeu imediatamente.

— Não vai funcionar. — Ela disse com uma voz um pouco quebrada. — E além disso, por quanto tempo você vai me manter aqui? Você não acha que sentirão minha falta?

Severus bufou.

— Sentirão? Ouso dizer que o 'porão de Harry Potter' não é o lugar onde alguém procuraria por você.

Ela sibilou, um som que ele pensou que poderia ter sido feito para intimidar – dado o estado em que ela estava agora, não teria assustado um coelho. Seu cativeiro não tinha feito nenhum favor à sua bela aparência, certamente.

— Eu não me preocuparia com isso – você ficará aqui pelo tempo que for útil para nós. — Ele disse arrogantemente, preparando-se para sair. Ele virou a cabeça, mal avistando algo se movendo, bem a tempo de se abaixar para sair do caminho.

O projétil, lançado com força e precisão sobre-humanas, se despedaçou contra a parede atrás dele. O frasco, ele percebeu. Ela sibilou novamente.

— E quando você finalmente desistir de sua tola aventura? — Ela perguntou ironicamente.

Severus suspirou.

— Quando Harry estiver curado, você será devolvida aos seus empregadores. — Ele declarou, gostando bastante do lampejo de medo nos olhos dela.

— Harry não permitirá isso. Estamos destinados.

Ele passou as mãos sobre as roupas, ajeitando o colete.

— Foi sugestão dele. — Ele declarou antes de sair do porão.

.

Harry acordou quase doze horas depois, acordando tão repentinamente quanto desmaiou. Severus estava ao seu lado, é claro, pressionando-o gentilmente para baixo na cama quando ele quase se atirou para fora.

— Acalme-se. — Ele pediu suavemente. — Você está fora há um tempo. — Ele avisou Harry – exceto que em vez de se deitar, o outro homem pulou da cama e cambaleou para longe, para fora da porta e para o banheiro mais próximo.

Severus seguiu, bem a tempo de ver Harry vomitar o que parecia sangue puro. Ele estremeceu, percebendo que sua ideia claramente tinha sido um fracasso pior do que o que ele vinha fazendo até então, e abriu a boca para se desculpar.

Antes que ele pudesse fazer isso, Harry já havia se levantado e lavado a boca.

Ele tentou novamente quando o homem mais jovem olhou para ele um minuto depois, mas, novamente, Harry foi mais rápido.

— Estou morrendo de fome. — Ele gemeu.

Severus estremeceu.

— Peço desculpas. Acho que... calculei mal. Se quiser, você pode se alimentar agora, e... Harry?

O homem mais jovem riu.

— Erm, estou com fome, mas não com fome de sangue. Só... só comida.

— Oh. — Ele disse estupidamente. — Eu... você nunca vomitou sangue depois de uma transformação antes. — Ele disse cuidadosamente.

— Eu não... mas então, esse aqui era diferente de qualquer forma. Você acha que isso pode ser... bom? — Harry perguntou esperançoso.

— Não sei. — Ele admitiu sinceramente. — Espero que sim. Vamos comer juntos?

Os olhos de Harry se estreitaram para ele.

— Você não comeu o dia todo, comeu?

Ele zombou e desviou o olhar.

— Eu estava ocupado. Tomando notas e olhando para você. — Ele estalou.

O grifinório revirou os olhos.

— Incorrigível, você é. Tudo bem, vamos comer os dois, então. Honestamente, você não pode simplesmente não comer toda vez que algo não sai como planejado! — Harry lamentou no caminho para a cozinha.

O coração de Severus batia dolorosamente no peito, sua mente disparava com apelos desesperados para que seu palpite estivesse correto.

The Will To Fight | SnarryOnde histórias criam vida. Descubra agora