Harém Imperial - Os Concubinos da Imperatriz

Na Mansão dos Vissarion

Osborne Vissarion amassou o papel perfumado, com os olhos saltando em seu rosto já vermelho tomado pela raiva. Arremeçou a carta para o outro lado de seu escritório elegante.

- Aquela vagabunda! - esbravejou apertando os punhos - Como tem coragem de me chamar ao castelo para humilhar-me?!

Jogou tudo de sua mesa pelos ares. Seu mordomo, quem entregara a carta pouco antes, empalideceu ao ver a reação de seu mestre. Do lado de fora das portas os empregados engoliram em seco ao ouvirem a destruição do escritório principal da mansão.

De repente passos foram ouvidos no final do corredor e um homem por volta de cinquenta anos apareceu. Seu bigode branco contrastava com os olhos profundamente negros. Os servos se curvaram.

- Abram as portas - ordenou.

- Jovem mestre, o duque falou para não deixar ninguém entrar - um empregado disse educadamente.

O homem deu um olhar frio de aviso em resposta.

- Desculpe... mas não podemos ir contra as ordens do duque, jovem mestre... - outro empregado informou hesitante.

- Você está tentando me humilhar ou não me ouviu? MANDEI ABRIR AS PORTAS AGORA! - os olhos escuros se tornaram mortais.

Sem a resposta dos servos, que olharam para baixo amedrontados mas não cederam a vontade dele, o homem chutou-os e abriu caminho por si mesmo.

- Papai! - disse assim que abriu as portas, pisando nos empregados pelo caminho. - O que é essa bagunça toda papai? O senhor pode se machucar! Por favor pare papai!

Cacos de vidro e muitos outros destroços eram vistos em todos os cantos do escritório.

- CALE-SE! - gritou - EU NÃO MANDEI QUE NÃO DEIXASSEM NINGUÉM ENTRAR?!

Um empregado com o rosto machucado apareceu, se curvando imediatamente.

- Eu imploro seu perdão, Vossa Excelência! Tentamos impedir mas o Jovem Mestre não ouviu e entrou...

Osborne serrou a mandíbula tentando controlar sua ira, rapidamente mandou todos os atendentes sumirem de sua vista, incluindo o mordomo, restando apenas o duque e seu herdeiro no escritório.

- Se você passar por cima de minhas ordens mais uma vez, entregarei o ducado para um dos idiotas de seus irmãos! Juro a você Eldrick - o tom de voz do Duque Vissarion foi de aviso, fez a espinha de seu filho gelar.

"Filho da puta desgraçado!" pensou Eldrick Vissarion tentando controlar suas feições.

- Me perdoe papai - se curvou profundamente - Eu só estava preocupado com Vossa Excelência... Ouvir todo aquele barulho e pensar na saúde do pai me deixou aflito!

- Você preocupado com minha saúde? - Osborne gargalhou forçosamente.

- Papai!

- CALE-SE!

Um silêncio cortante tomou o cômodo.

O duque olhou para seu filho de cima.

- Já que você quer tanto saber, Eldrick, direi o que estava na carta de Vossa Majestade. Levante-se.

Com isso Eldrick Vissarion levantou-se e olhou atento para seu pai.

Osborne Vissarion tinha quase oitenta anos e continuava forte como um touro. Seus poucos cabelos grisalhos eram lisos como os do filho. Os olhos eram de um cinzento profundo e sabiam esconder bem, dependendo da situação, a crueldade e ganancia que possuía.

Eldrick Vissarion, seu segundo filho, era seu herdeiro, mas isso não mudava o fato dele despreza-lo bem como seus outros filhos. A grande exceção era o primogênito, quem desde criança considerou um gênio, digno da Casa Vissarion. Mas aquele mesmo filho fugiu com uma plebeia, muitos anos antes. Aquilo acabou com Osborne. Seu primogênito era um  grande ingrato! O único de sua prole que parecia valer alguma coisa o traiu... Ele odiava-o até os ossos.

Eldrick não passava de lixo para ele, nunca estaria a altura de merecer ser chamado de Duque de Guise. Isso Osborne tinha certeza. Mas ele não tinha escolha, aos seus olhos sua semente era mesmo podre para resultar em filhos tão inúteis!

O que restava fazer era tentar domesticar seu herdeiro e talvez conseguisse colocar alguma coisa que valesse em sua cabeça. E foi assim que passaram os anos, mas aquele maldito cada vez mais parecia menos capacitado e merecedor ao seu julgamento.

Eldrick Vissarion também desprezava seu pai. Aquele velho desgraçado era como um cão faminto que se negava a se separar do osso. Era para tudo aquilo ser dele há muitos anos... Ele tinha direito a isso! Agora sentia que todos o desprezavam por ser herdeiro do ducado há décadas e ainda não ter o menor sinal de quando iria se tornar o novo Duque. Ele sonhara com isso a vida toda mas aquele maldito velho ainda estava no seu caminho. Por que ele simplesmente não morria de uma vez? Aquele filho da puta pretendia viver até quando?!

- A maldita imperatriz está me convocando para o casamento dela - Osborne disse com ódio.

- Ela aceitou outro concubino no harém? - Eldrick perguntou.

- Hoshi Khonsu - franziu os lábios em desgosto - É o novo consorte.

Eldrick arregalou os olhos.

- Khonsu? Ela não poderia saber... poderia?

- É claro que aquela puta sabe! Por que outra razão iria me convocar especificamente para esta droga de casamento se não soubesse?!

- Mas papai... Se ela sabe, Vendoff...

- Aquele infeliz já está no castelo como os espiões tinham reportado... Não seria nenhuma surpresa que a cabeça dele rolasse logo, mas não esperava que seria desta forma. Aquela maldita!

- Não tem como ela ter provas de qualquer coisa contra nós papai, fomos especialmente cuidadosos todos esses anos... Mesmo que ela te convoque, não pode toca-lo.

- É claro que eu sei disso! Acha que sou tolo? Agora cale a boca, eu preciso pensar... - Osborne sentou-se em sua cadeira diante da mesa.

Eldrick sentou na cadeira à sua frente.

- Aquela puta parece com a avó dela, fazendo coisas assim... - o duque murmurou consigo mesmo - Ela acha que pode me desafiar? - deu um sorriso mortífero - Seria bom se eu pudesse me livrar dela assim como eu fiz com a Primeira Imperatriz... Mas, agora é muito arriscado, droga!

- E se colocarmos um dos nossos bem próximo a ela? Já é hora de nos envolvermos neste harém de qualquer forma... - Eldrick disse.

- Não é uma ideia ruim, Eldrick. Não é como se eu não tivesse pensado nisso há tempos, mas queria ter esperado mais para preparar o terreno melhor... Se as coisas estão assim, não tenho escolha. Colocarei alguém no harém.

Siv alisava uma folha amassada de um caderno velho. Ali o ducado de Guise era mencionado inúmeras vezes...