Um Diário de Outro Tempo

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Ye Shen Qeuan

Siv passou a ponta do dedo pela caligrafia requintada do nome estrangeiro. Sozinha em seu quarto murmurou: "avô", enquanto olhava para o nome em tinta dourada.

Nas mãos delicadas da Imperatriz, o antigo diário de seu avô. Ela o encontrara muito bem oculto dentro do cofre da Imperatriz quando ainda era uma criança. Aquele costumava ser seu esconderijo secreto. É claro que ninguém tinha acesso ao cofre além da Imperatriz, mas como sua mãe nunca ia lá e Siv desde pequena se mostrou esperta o suficiente para entrar e sair sem que ninguém notasse, ela encontrou um cantinho escondido no meio de todas as riquezas e fez seu refúgio seguro. Ela ia quando queria chorar. Era muito bom lá porque ninguém podia entrar, então ela podia chorar a vontade sem que ninguém a visse.

Siv não  conheceu o avô, como também não chegou a conhecer sua avó, mas lendo aquelas páginas pôde de alguma forma se sentir mais próxima deles

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Siv não  conheceu o avô, como também não chegou a conhecer sua avó, mas lendo aquelas páginas pôde de alguma forma se sentir mais próxima deles. Pôde conhece-los um pouco mais do que apenas o que constava na história oficial do Império ou no
que diziam os murmúrios do povo sobre o passado.

Quão lamentável a Imperatriz era, Siv riu de mesma... Ela não tinha uma família, era sozinha já há muito tempo... Talvez, se tivesse de ser verdadeira consigo mesma, admitiria que sempre esteve sozinha. Ter encontrado o diário de seu avô trouxe algum conforto a seu pequeno coração miserável. Deu um sorriso depreciativo com tais pensamentos... Mesmo que as palavras escritas naquele livro velho não fossem nem de longe uma história bonita, ainda foi o bastante para acalentar seu eu do passado. Mas ela já não era mais uma criança, já não lia aquelas páginas em busca de qualquer coisa que não fosse os fatos.

Mesmo que nunca tivesse conhecido o que era ter uma família, Siv ainda tinha um forte dever filial a cumprir: Fazer justiça pelo sofrimento do passado... por seus avós.

Nas últimas páginas escritas do livro encapado de couro vermelho, leu consigo mesma uma parte que conhecia mais que qualquer livro que já houvesse estudado:

"Minha hora chegou, já não posso fazer mais por Seor... Tomei decisões que destroçaram minha alma para proteger o que ela tanto amava; Por Rhea aprendi a amar este país. Por mais terríveis que possam ter sido minhas ações, não me arrependo de proteger este Império, de proteger o legado dela. Mas, minha preciosa esposa, se ela estiver olhando por mim agora saberá com que intensidade vivo a dor de ter que ter sacrificado meu antigo lar para isso, meu amado irmão... Depois de tudo, era meu dever carregar todo este amargo sofrimento e fazer o Império prosperar, mas não posso. Sou fraco e medíocre! Não posso conviver com o passado, com o fardo insuportável de minhas decisões e a destruição acarretada. Hoje será o dia de minha morte, sinto-me em paz com tal escolha. O que me resta apenas é me curvar aos meus descendentes, aos que virão no futuro, aos que terão de lidar com toda a bagunça do passado... À vocês humildemente peço que tenham coragem e força, que possam encontrar principalmente força para a cruel realidade que é governar um Império. Que possam encontrar também felicidade, por menor que seja, é preciso haver um porto seguro... Eu e Rhea, infelizmente levamos tempo demais até podermos nos entender, mas fomos profundamente felizes... no nosso amor pudemos encontrar descanso, afeto e companheirismo. Gostaria que tivéssemos tido mais tempo juntos... Agora a mim cabe rezar para que os preparativos que deixei dêm certo, que nossos três filhos cresçam bem, e que um dia possam limpar Seor... Não ouso pedir mais que isso. Escreverei aqui as palavras que não poderei os dizer depois: Eu e sua mãe amamos vocês com todo o nosso ser. Mesmo que não estejamos por perto no momento, sempre olharemos por vocês e lhes enviaremos amor incondicional para todo o sempre. Nossa família estará unida pelo laço de amor para a eternidade".


Harém Imperial - Os Concubinos da ImperatrizOnde histórias criam vida. Descubra agora