Jason's POV
Finalmente meu ombro melhorou o bastante para o meu braço ficar livre, era um inconveniente a mais que eu com certeza não precisava. Sai do chalé hoje para ir até a enfermaria, foi estranho. Sei que em breve precisarei começar a sair e fazer as coisas, não vão continuar fazendo as coisas para mim para sempre, mas só de pensar nisso me dá desânimo.
Dez dias se passaram desde a morte do Leo, e as memórias daquele momento não me vem mais tão facilmente, preciso me obrigar a relembrar os detalhes para que eles não sumam da minha memória. É comum eu estar sozinho no meu quarto, fechar os olhos e reviver tudo de novo, do jeito mais minucioso que consigo, para reativar a mesma intensidade de dor no meu peito, porque essa dor não pode sumir, vou carregá-la comigo para sempre.
Faltam duas semanas para acabar o verão, e não sei se estou pronto para lidar com o mundo real. Na verdade, tenho certeza que não estou, mas também não é fácil ficar aqui.
Hoje uma chuva de verão estragou os planos do acampamento, que começa a voltar a ter uma rotina agora, pelo que eu soube. Todos já devem ter se recolhido nos seus chalés, o toque de recolher já passou tem algumas horas, e o jantar que Nico trouxe para mim segue intocado, enquanto fico deitado na minha cama, apenas existindo, pensando em todos os jeitos que poderia ter dado outro final para essa história. Valeu a pena mesmo respeitar a vontade dele de não fazer nada sobre sua morte? Olhe para mim, discutindo comigo mesmo se foi uma boa escolha respeitar a vontade de um morto.
Batidas fortes na porta chamam minha atenção, olho para o relógio na parede - que foi feito pelo próprio Leo - vendo que já passou da meia noite, nem em horário normal eu abriria a porta para alguém, Nico entra aqui porque nem bate mais, então escolho ignorar quem quer que seja, com essa chuva a pessoa com certeza vai embora.
Mas não é o que acontece, as batidas ficam ainda mais fortes, e começo a ficar preocupado, ninguém insistiria tanto se não fosse nada sério. Me obrigo a sair da cama e vou depressa até a porta, já não estou mancando mais, e quando abro a porta, usando um casaco com capuz para se proteger da chuva, está a pessoa que mais tentei evitar desde que tudo aconteceu.
Piper me olha com os olhos brilhantes cheios de lágrimas, e mais ainda, cheios de dor. Ela abraça o próprio corpo, o que faz eu me despertar para o fato de que ela está na chuva, fora do horário permitido.
— Piper? — exclamo. — O que você está fazendo aqui, você vai pegar um resfriado.
Minha voz não soa tão gentil, um pouco contrariado dela aparecer aqui nesse estado temporal, mas seguro seu braço e a puxo para dentro, fechando a porta e deixando ela segura da tempestade.
— Eu só... não aguento mais ficar sozinha. — a voz dela sai embargada e o efeito disso é direto no meu coração, que fica apertado imediatamente. — E eu não conseguia dormir e... não queria ficar sozinha. — ela repete.
— Er... — cruzo os braços me sentindo desconfortável, exposto demais. Será que minha expressão carrega olheiras profundas como a dela? — Nico e Will não estão indo te fazer companhia?
Foi uma pergunta idiota, e acho que foi a última coisa que ela esperava que eu dissesse, porque misturado com tanta dor, agora existe também um pouco de raiva ali.
— Mas não era deles que eu precisava, Jason. — ela esbraveja, as lágrimas transbordando de seus olhos coloridos, mas que estão com as cores apagadas hoje. — Você era meu melhor amigo junto com o Leo, e ele morreu. Ele morreu e você me deixou sozinha para lidar com isso.
A acusação está explícita, é claro que ela não entenderia nada, porque eu realmente a deixei sozinha, mas existe um motivo. Ainda assim, me sinto culpado, porque eu a amo e a deixei sofrendo sem fazer nada para mudar isso. Me encolho diante dos seus olhos furiosos, eu falhei com ela, muito mais do que só em relação a isso que ela está acusando.
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Middle of the Storm
RomanceMIDDLE OF THE STORM Após derrotarem Gaia, os heróis do olimpo tem a sorte (ou azar) de voltar à realidade. Em um mundo onde não se sabe o que é real e o que é inventado, Piper e Jason se veem perdidos entre sentimentos, memórias e aventuras Que flor...