Capítulo 20

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Piper's POV

Uma semana de aula e todo mundo que me conhecia notou que tem algo errado. Annabeth e eu fizemos amizades com algumas garotas, ainda bem, seria horrível não ter ninguém nem para caminhar para a sala, mesmo que algumas tenham se formado com a Annabeth, ainda temos um pequeno grupinho. Elas notaram que algo estava errado porque eu não andava comendo muito bem, minha colega de quarto, Julie, notou que eu estava tendo muitos pesadelos e não dormia. Foi para ela que contei chorando sobre a morte de Leo.

Inventei que foi um acidente, afinal ela é mortal, mas com certeza uma mortal do coração muito bom, ela me consolou e deixou chorar enquanto falo do meu amigo, e ainda me ouviu pacientemente sobre o término com o Jason. Ela custou acreditar nessa última parte. É difícil explicar seus problemas para amigas mortais, porque você tem que omitir metade da história. Como explicar o fato de que meu namoro começou por conta de um truque de uma deusa e isso me deixou um tempo confusa? Não tem como.

E falando nele, Jason realmente mudou o rumo da sua vida, e nesse novo caminho, não estou incluída. Ele não voltou para Nova York quando as aulas voltaram, e não quis falar comigo estando em Nova Roma. Isso aumentou um buraco no meu coração que já estava muito profundo, respeito as escolhas dele, mas infelizmente são escolhas opostas às minhas.

São duas saudades que preciso lidar, totalmente diferentes uma da outra, a saudade que sinto do Leo é mais sombria, porque junto com a saudade vem a dor da morte dele; já a saudade do Jason é outra coisa, pelo amor que eu perdi, pelo amigo que eu perdi.

Com o fim das aulas de hoje, volto para o meu dormitório, louca para tirar esse uniforme da escola. Porque internato de garotas não podem ter uniformes comuns? Saia preta, camisa branca, cardigã e uma gravata estúpida. Ok, o uniforme não é feio, mas é uma burocracia desnecessária. Vou direto para o meu quarto, sabendo que Julie não vai estar, ela tem aula de piano até mais tarde, ela é toda musical, seria uma ótima filha de Apolo. Ou de Atena, a garota é um gênio.

Ligo a luz do quarto e vejo um vulto parado de frente a janela. Minha primeira reação não foi muito heróica, um gritinho assustado porque tem um homem no meu quarto, mas também alcanço minha adaga presa em uma bainha nas minhas costas porque sei que monstros podem ter diversas formas, inclusive a humana.

Até que o invasor se vira da janela para mim, tão assustado quanto eu, acho que arranquei ele de seus pensamentos de forma brusca. Depois de tantos dias, apenas ter Jason na minha frente é estranho. Ainda mais no meu quarto. Ok, não estou entendendo nada do que está acontecendo.

— Como você entrou aqui? — pergunto.

— Voei até a janela, vi que estava vazio, e entrei. — ele explica. É meio óbvio, ele não vinha muito aqui no meu quarto, mas nas vezes que veio escondido ele fez exatamente isso.

— O que você veio fazer? — pergunto mais uma vez.

Ele parece mais magro, com olheiras ainda profundas, mas seus olhos não parecem mais de um morto-vivo. Meu peito fica apertado, queria muito abraçá-lo e cuidar dele, mas sei que não posso fazer isso, provavelmente é a última coisa que ele quer.

E no fundo, de forma inesperada, descubro que também estou um pouco brava com ele. Achei que estava sendo compreensiva com suas escolhas dele, mas honestamente, fugir do acampamento sem dizer adeus? É, acho que estou um pouco brava.

— Eu queria falar com você. — ele diz. — Você... vai abaixar a adaga?

Não tinha percebido que ainda estava com ela empunhada pronta para atacar. Tiro a bainha e guardo ela, colocando-a em cima da cama. Os próximos instantes são de um silêncio constrangedor. Quero perguntar por que ele foi embora, entender por que ele voltou, por que ele não me procurou antes e por que está procurando agora, mas não consigo abrir a boca para falar nada, com medo de falar algo errado e ele correr para longe mais uma vez.

Middle of the Storm Onde histórias criam vida. Descubra agora