Capítulo: 34

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Ruby

Ruby chega em casa sem fazer a mínima ideia de onde deixou o carro e o celular, ao ver Billy chorando e com fome, sente remorso no mesmo instante.

- Awnnn, meu amor, desculpe.

Pegando o bichinho no colo, Ruby o abraça com afeto, recebendo lambidas de volta.

- Não vai acontecer mais, eu te prometo.

Depois que alimenta e fica um pouco com o bichinho, Ruby vai para o banho, demora um tempo considerável por conta de sentimentos mistos que brotavam em seu peito. Raiva, ódio, vergonha e angústia era os sentimentos mais latentes.
A CEO sempre tentou passar uma imagem de mulher forte, mas não convencia nem a si mesma. Anos de terapia pouco surtia efeito, para Kleo, sua terapeuta, o extremo zelo e cuidado de seus pais a colocaram em uma bolha e quando finalmente se viu fora dessa bolha não tinha noção do que fazer com a própria vida. Ruby tinha tudo era privilegiada e sabia disso, mas queria ter controle de coisas que não podia controlar, por mais que quisesse, detestava se sentir daquela forma.
Mesmo tomando banho e tentando de alguma forma acalmar seu estado de espírito, Ruby toma uma difícil decisão. Abre seu notebook e escreve um longo e-mail endereçado a Alex, ficou meses sem a presença dela e nos últimos tempos sentia-se bem, mas bastou um único dia que se deixou levar por palavras bonitas, para ter outra recaída. Escreveu com o coração tudo que sentia e sentiu nos últimos tempos, se expressava muito melhor dessa forma do que pessoalmente, pois, sempre acabava chorando.

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Alex,

Hoje escrevo para vc na esperança que entenda que de fato acabou. Eu não deveria ter caído novamente na sua conversa mas caí...entretanto, quero deixar registrado que não coloco a culpa só em você. Eu tenho muita culpa nisso tudo, não por deixar que vc me fizesse o que fez, mas por não ter vergonha na cara e ter continuado deixando que vc continuasse fazendo o que fazia comigo.

Eu tentei de diversas formas salvar nosso relacionamento, eu me anulei não só como mulher mas como ser humano para caber em sua vida, e o que eu ganhei com tudo isso? Violência e desprezo de sua parte.

Quantas vezes, eu chorei deitada dps de te satisfazer querendo o colo dos meus pais? Muitas.
Quantas vezes eu engoli o choro para não apanhar e não ouvir suas palavras duras para minha pessoa? Centenas...

Ainda assim, quero que vc saiba que eu fui feliz ao seu lado, no começo do nosso relacionamento, mesmo sabendo que talvez vc nunca tenha me amado de fato, que na verdade o que vc sentia por mim era somente uma paixão avassaladora, um fogo ardente...o que senti por vc era AMOR, puro e simples AMOR.

Desejo de coração que encontre alguém que goste das mesmas coisas que vc, e que se cure dessa obsessão por mim. Eu qro seguir em frente, mas enquanto vc insistir vai ser difícil...qro me apaixonar novamente e nem vc nem ngm me impedirá...fique bem.

Com carinho, Ruby 💛
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Quando termina de escrever, Ruby não espera por uma resposta, Alex naquele horário provavelmente deveria estar ocupada, e mesmo que não estivesse, a conhecia bem a ponto de saber que a francesa além de não ter o vício do celular, não pararia para responder seu e-mail, já que nem quando namoravam se dava ao trabalho.
Suspirando, Ruby se veste pra ir para a empresa, embora quisesse ficar em casa e pudesse, não o fez. Trabalhar ajudava a se distrair e sua mente precisava dissipar os pensamentos ruins que povoavam seu cérebro nos últimos dias.
Como sempre vestiu um dos seus inúmeros ternos, escolheu um em um tom de azul escuro com a lapela do blazer preta, colocou um salto preto e arrumou o cabelo fazendo uma trança lateral que aprendeu com Virgínia, que sempre lhe dizia que não era porque o cabelo dela era curto que não podia usar penteados. Ruby opta também por usar maquiagem, caprichou no corretivo e fez uso de base de cobertura média, seus olhos estavam um pouco inchados devido ao choro, faz um delineado, coloca um pouco de blush e máscara de cílios e finaliza com batom vermelho.
Dá um beijo em Billy e sai em direção a garagem, teve que usar o Porsche já que não tempo de ir atrás do outro carro, a CEO tinha seguro e o acionou, sua preocupação era mais com o celular do que com o carro.

****

Ruby chega na empresa por volta de 13:00 da tarde, divide o elevador para a vice-presidência com alguns funcionários que a cumprimentam assim que entra.

- Bom dia Srta. Bismarck.
- Bom dia.

Os funcionários ficam em silêncio, mesmo a CEO sendo educada e simpática, ela passava uma imagem séria, e ninguém tinha coragem de puxar conversa.
Quando chega em seu andar, Ruby foi até a sala do pai, assim que entra, Raphael suspira aliviado, larga o telefone e abraça a filha com ternura.

- Onde diabos você andou meu amor? Eu fiquei tão preocupado, seu celular só dá caixa postal, ia acionar a localização do seu bracelete.

O bracelete que Raphael se referiu, era usado por todos os membros da família Bismarck, feito de ouro, tinha um nanochip embutido para ser acionado caso um membro da família fosse sequestrado. Obviamente isso não era de conhecimento público, mas as pessoas estranhavam que todos da família usavam um igual e nunca tiravam do pulso, Sarah ganhou um igual quando se casou com Raphael e era proibida de tirar, assim como todos os outros membros da família.

- Eu estou bem pai, só perdi meu celular.

Ruby segura o choro, não queria dar explicações ao pai e farta de tanto chorar.

- Perdeu e não comprou outro? Ruby você sabe muito bem que tem muitos compromissos e é uma pessoa importante, não pode se dar esse luxo de sumir sem avisar, mesmo que você queira.
- Sim eu sei, me desculpe.

Raphael abraça a filha ainda mais, detestava pensar em perder a filha um dia. Conversam um pouco e Raphael anuncia animado que a empresa fecharia um grande contrato, conseguindo assim repassar o PLR (participação nos lucros e resultados) aos funcionários maior do que calculara.
Raphael era um homem generoso, apesar de ter nascido em uma família de classe média alta, acreditava que todos tinham direito a ter uma vida digna e confortável. Sua empresa possuía vários programas sociais e sempre incentivava os funcionários através de bonificações e planos de carreira.

- Bom filha agora que sei que você está bem, vou voltar para meus afazeres, você já almoçou? Poderíamos almoçar juntos.
- Não estou com fome ainda, tomei café tarde.
- Ok, meu bem.

Ruby se despede do pai e vai para a sua sala um pouco mais aliviada, aos poucos a angústia deixava seu peito.

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