Capítulo 17

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Dois dias se passaram numa velocidade assustadora e, quando dei por mim, faltavam poucas horas para deixar a casa dos meus pais. Esse tempo aqui, apesar da tortura constante que era ficar no quarto da minha irmã, e ver o estado melancólico dos meus progenitores, me fez bem. Era um local familiar para mim, me passava conforto e tranquilidade. Por isso, mesmo sentindo o peito apertar e o estômago se revirar cada vez que se referiam a mim como "Karla", decidi aproveitar o máximo da companhia da minha família.

Fiquei todos os dias com eles, nem que fosse apenas para se sentar na varanda de casa, observando o movimento da rua. Diferente do que eu pensava, Shawn ficou todo o tempo nos fazendo companhia. Meus pais realmente se davam bem com ele e o homem sabia ser extremamente agradável quando queria.

Eram nesses momentos, que eu me lembrava do rapaz que conheci há dez anos atrás. Nesses momentos, eu sentia a garota que eu era, a menina sonhadora, alegre e feliz; querendo se libertar. E, por mais tempo do que eu esperava, me peguei desejando que isso acontecesse.

- Você está acariciando essa massa faz dez minutos. - Ergui os olhos, encontrando Shawn me olhando com diversão. - Tá realmente estranho.

Olhei para baixo, vendo que realmente amassava a massa de um jeito estranho. Soltei-a na forma, espalhando até preencher todo o espaço. Me virei, colocando a comida no forno e encostando o corpo no balcão.

- Você passou esses três dias pensando em sei lá o quê. - comentou.

- Alguém tem que fazer por nós dois.

Mesmo de costas para ele, sabia que tinha revirado os olhos.

- O que falta pra nós acabarmos?

Voltei-me para ele, que estava com a cabeça bochecha apoiada na mão, me encarando. Não deixei sua expressão adorável me distrair e cerrei os olhos, ponto as mãos na cintura.

- O que falta pra eu acabar, já que você ficou sentado sem fazer nada.

- Eu dei todo o apoio moral que você precisou. Em silêncio. - murmurou.

Peguei as louças sujas, colocando na pia. Do meu lado, Shawn apareceu, colocando um garfinho pequeno dentro.

- Viu? Ajudei.

Apoiou um braço na bancada, ficando com o corpo inclinado.

- Já que você não ajudou na comida. - Sorri. - Vai lavar os pratos.

- Ah, não, Camila! - disse, revirando os olhos.

- É só por na máquina. - Dei de ombros. - Boa sorte.

Me virei para sair, mas a outra mão dele apoiada na bancada me impediu, deixando-me cercada por seus braços.

- Eu passei quase uma hora olhando você cozinhar, agora você vai sentar a bunda na cadeira e me esperar também.

Pus as mãos atrás de mim, dos lados das suas, inclinando a cabeça para trás, tentando ver seu rosto com mais clareza.

- Você ficou só pra minha mãe acreditar que ajudou.

- E eu ajudei. - insistiu, sem tirar os olhos dos meus.

- Me passar a manteiga não é ajudar, Shawn. Na verdade, você só serviu para me distrair.

Só notei a minha frase, quando ele abriu um sorriso.

- Distrair você? - Aproximou o rosto. - Como?

A verdade é que era difícil ter coordenação e pensar coerentemente quando o tempo todo sentia os olhos d Shawn em mim. Devo ter derrubado uns cinco ingredientes no processo.

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