Capítulo 18

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— Camila.

O chamado estava muito distante em minha mente para que eu prestasse atenção.

— Camila, chega. — Duas mãos seguraram meu braço, interrompendo minha caminhada pelo apartamento.

— Eles vão descobrir. — murmurei.

Shawn negou com a cabeça, pondo uma mão na lateral do meu rosto.

— Não, não vão. Vamos dar um jeito.

Ignorei o que ele disse e continuei a murmurar:

— Vão descobrir e eu vou ser presa, as pessoas pra quem eu estou devendo e vão atrás dos meus pais, vão manda me matar dentro da prisão...

— Camila! — exclamou — Não vai acontecer. — Repetiu, devagar.

Neguei com a cabeça, dando um passa para trás.

— Você não pode me garantir isso.

— Mas eu posso garantir que vou fazer o possível pra que não aconteça.

— E enquanto isso? Eu fico aqui, sentada, tentando viver com a possibilidade da polícia bater nessa porta algum dia? — Sentei, escondendo o rosto com as mãos.

Se eu tivesse fugido, talvez não estivesse passando por isso.

Ficar aqui foi um erro. Me envolver na vida da minha irmã também foi. Nunca deveria ter iniciado essa mentira, fui muito longe e agora era muito tarde para voltar atrás.

O que seria pior, ser presa por roubo, ou por assumir a identidade de outra pessoa?

— Eu vou dar um jeito. — Senti o calor da sua mão em meu joelho. — Posso despistar o meu pai e os sócios...

— E quebrar a confiança que ele tem em você? — interrompi, erguendo a cabeça e o encarando.

Percebi o quanto a frase o afetou. Manuel Mendes depositava toda a confiança no seu filho e Shawn amava o seu pai, fazer isso, seria como apunhalá-lo da pior forma. Eu não valia esse esforço. E nem queria ser a responsável por essa traição.

Endireitei a postura.

— Acho que é hora de assumir as consequências das minhas escolhas.

Shawn piscou.

— Como assim?

Respirei fundo.

— Eles vão acabar descobrindo, Shawn. Minha irmã não se deu nem ao trabalho de esconder, se não fosse a confiança que a sua família tem nela, já teriam descoberto há anos. É só o seu pai dar uma olhada no orçamento dos projetos dirigidos por ela e tudo vai estar claro.

Mesmo que Manuel negasse no começo, não tinha como Karla não ter notado a diferença de valor, ele saberia que foi ela.

— E o que você quer fazer? — perguntou, já sabendo que não gostaria da resposta. Dei de ombros.

— Vou esperar. Não tem mais nada que eu possa fazer, meu fim vai ser o mesmo.

— Não.

— O quê? — Franzi as sobrancelhas.

— Eu disse que não. Você quer sentar aí e ver sua vida se acabando? Ótimo. Mas eu não vou assistir isso sabendo que sim, eu posso fazer alguma coisa.

— Shawn... — comecei, mas ele me interrompeu.

— Não, Camila! — exclamou, a voz alta me surpreendendo. — Você não vai sofrer as consequências por algo que não fez. Não vai.

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