Minha mãe me abraçou tão forte, que eu quase perdi o ar.Me recuperei segundos depois, passando os braços pelo seu corpo e a apertando forte também. Não tinha noção da saudade que sentia, até aquele momento.
— Querida, como você está? — perguntou.
— Eu estou bem, mãe. — A soltei, caminhando em direção ao meu pai, que também me abraçou apertado.
Ouvi Sinu cumprimentar Shawn atrás de mim e logo meu pai fez o mesmo, nos convidando para entrar. Tirei o casaco, feliz pelo inverno já estar no fim e o choque na temperatura não ser tão alto. Olhei dentro daquela casa, as lembranças preenchendo minha mente. Vivi ali por anos e, de repente, tudo parecia tão distante.
— Vocês querem jantar agora ou preferem descansar da viagem? — Minha mãe perguntou.
— Acho que seria bom dormir algumas horas. — Shawn respondeu por mim.
Não me opus, pois realmente era uma viagem cansativa e precisava de alguns instantes para me acostumar com a situação. Fingir ser minha irmã para outras pessoas era fácil, comparado a ter que fazê-lo para meus próprios pais.
Subi ao primeiro andar, entrando no quarto da minha irmã, sentindo a estranheza de ter que passar alguns dias dormindo ali. Olhei tudo ao redor, vendo como tudo exalava a personalidade dela. Meus olhos arderam. Como eu poderia me sentir triste com a morte de alguém que me fez tão mal?
Ouvi a porta se fechar atrás de mim e não precisei olhar para trás para saber da expressão abalada que preenchia o rosto de Shawn. Afinal, era a sua esposa. Independente do que ele descobriu, Shawn viveu anos com ela. Amou e cuidou de Karla por todos os dias em que e estiveram juntos, não havia como apagar isso.
Reconhecer esse fato foi como chocar uma tonelada de concreto em cima dos meus ombros, a excitação de todos os dias anteriores se extinguiu e a realidade começou a preencher meus sentidos. Minha irmã morreu, meus pais estavam de luto e eu passei as últimas semanas provocando o marido dela, porque queria transar com ele. O quão ruim isso me fazia?
Sentei na cama macia, tirando os sapatos e os deixando no chão, encostando a cabeça no travesseiro, em seguida. Senti a cama afundar atrás de mim e meu corpo ficou em alerta, como sempre acontecia quando ele estava perto de mim, mas, naquele momento, isso só me ajudou a ficar pior.
Fechando os olhos, assombrada por estar naquele quarto e tentando ignorar completamente a presença do homem ao meu lado, e, por fim, adormeci.
Quando acordei, estava sozinha, o que tornou tudo pior, porque estar sozinha naquele quarto era torturante.
Saí e desci as escadas o mais rápido possível, ouvindo o barulho de vozes na cozinha. Cheguei ao meu destino, encontrando Shawn conversando com meus pais, tão relaxado como nunca.
Minha mãe avisou que o jantar já estava pronto, apenas esperavam que eu acordasse. Sentada na mesa, ao lado de Shawn, conversando com os meus pais, nunca me senti mais estranha. Olhei para a cadeira da frente, onde eu costumava sentar.
Sentia falta dos meus pais, era bom viver com eles, quando Karla não estava aqui.
— Quando tempo vocês vão ficar? — Minha mãe perguntou.
— Três dias. — Shawn respondeu.
— Como vai o tratamento, papai? — perguntei, bebendo um gole do suco.
— Está progredindo, querida. Semana que vem eu vou diminuir as sessões.
Sorri, feliz por pelo menos uma notícia boa. Meu pai trabalhou durante anos em uma oficina de carros, a questão é que, durante muito tempo, por falta de conhecimento, mexeu com vários produtos químicos sem tomar a devida segurança e acabou desenvolvendo câncer de pele. Felizmente, não descobrimos muito tarde, mas também não estava no início, logo, o tratamento era longo e muito caro. Alejandro teve que deixar o emprego o que fez com que eu, minha mãe e minha irmã tivéssemos que nos mobilizar para arcar com tudo.
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Farce
RomanceNatal era o pior dia do ano para Camila: significava que sua família estaria reunida e não havia nada mais detestável que isso. Ter que ver sua irmã gêmea ser elogiada e superestimada pelos seus pais, quando eles não faziam a mínima ideia de quem el...