(Capítulo da SEGUNDA versão da história)
~~
O dia 8 havia chegado. E eu não tinha me juntado aos outros para ir ao Rio de Janeiro.
Aquele dia também foi a primeira vez que passei a tarde toda com a Dona Rosa. E acho que ela gostou bastante.
Depois do almoço, quando ela já tinha tomado banho e lido um pouco o livro do autor que ela gostava desde que era jovem, ela me contou algumas histórias da sua vida antes de me deixar no seu ateliê com a minha máquina praticando o que ela vinha me ensinando nos últimos dias e se trancar no seu quarto para rezar. Foi algo muito legal de se ver, quer dizer, ouvir. Eu nunca tinha ouvido uma reza antes além das que vez ou outra passavam nos filmes, e Dona Rosa fazia aquilo com tanto respeito e vontade que depois que ela terminou — pouco mais de uma hora depois — eu tomei a liberdade de perguntar um pouco sobre sua religião. E aí ela me perguntou da minha também, e apesar de ela ter feito careta em algumas partes, foi uma conversa bem bacana.
Eu tinha conversado com ela também sobre marcarmos um dia para eu levá-la para conhecer minha avó e Dona Jô. Uma de cada vez, é claro, porque apesar de Dona Jô ser muito gente boa, eu não sabia se iria dar certo juntar a minha avó com Rosângela pela primeira vez com ela no meio. Coitada, seria como colocá-la no centro de um furacão. Minha avó tinha opiniões fortes demais e Dona Rosa falava toda vida. Imagina só! Com certeza elas iriam se desentender em algum momento, principalmente se quisessem colocar a dona da lanchonete no meio, inconscientemente procurando pela aprovação dela.
Eram três mulheres sábias, e cada uma tinha sua mania. Dona Jô sabia lidar com pessoas, mas isso não queria dizer que a paciência dela era infinita. Uma hora uma delas ficaria de cara feia e o clima de confraternização iria por água abaixo bem rápido. E a culpa seria totalmente minha por colocar três peixes territorialistas num aquário só.
Tive um dia bom no trabalho, e recebi mensagens e fotos das meninas comentando e mostrando os lugares pelos quais estavam passando. Eu gostei de todos e fiquei super feliz por elas. E continuei indiferente quanto a minha não ida. Melanie também pareceu não se importar muito por não ter ido, se fôssemos analisar pelas suas mensagens.
Apesar do clima tranquilo, quando cheguei em casa a atmosfera à minha volta passou a ser outra. Algo horrível tinha acontecido, eu sabia. Mas dessa vez não lutei para ouvir os assuntos dos adultos. Não me intrometi quando meus pais começaram a conversar na porta da cozinha; apenas fechei meus olhos e tentei me concentrar em outra coisa enquanto ia em direção ao meu quarto pegar uma roupa para tomar banho.
Acho que acabei cochilando num certo momento enquanto mexia no celular deitada na cama. E acordei num susto quando ouvi gritos.
Era alguém se esgoelando de forma desesperada. Era...
Era a minha mãe. Gritando o nome do meu pai quintal afora.
Arregalei os olhos e mirei Jenny que dormia pesadamente ao meu lado. Logo em seguida joguei as cobertas para cima dela e saí correndo descalça e de pijama.
– Mãe?! Pai?!
A porta da frente de casa estava escancarada, o que não era nada comum naquela hora da noite.
Eu saí pelo portão sem me importar com a possibilidade de haver alguém por perto, e notei uma das luzes na casa de Tia Beth ser acesa enquanto eu olhava em volta.
Quando percebi o que estava acontecendo, pareceu que o mundo ficou em câmera lenta.
Meu pai. Correndo em direção a pista onde os carros passavam em alta velocidade como se sua vida dependesse disso. Ou melhor... Como se sua morte, o fim do seu sofrimento, dependesse disso.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Ascensão de Alexandra Lobos (A Garota que Sonhava)
RomanceAlexandra nunca acreditou nesse papo de que a felicidade era algo a ser alcançado; ela sabia que era tudo sobre vivê-la, e não desperdiçar a vida correndo atrás dela. Porém infelizmente correr atrás de algo que não podia ser capturado era o que e...