Convite recusado

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– Acho que ela precisa passar mais tempo fora de casa, Liam. – disse para ele com cautela me referindo a Aya, que estava doente outra vez – Ou pelo menos com mais contato com a natureza.

Ele assentiu de boca cheia e com as sobrancelhas franzidas. Estávamos na varanda de trás da minha casa — estava se tornando um hábito nosso e eu estava simplesmente amando — jantando um risoto que eu havia feito mais cedo. Minha irmã e Titi, a vizinha, tinham convidado Aya para lanchar com elas ali na lanchonete e agora as três estavam igual gente grande conversando na mesa enquanto esperavam pelos pedidos. Já haviam corrido, se divertido nos brinquedos do parquinho e agora estavam lá esperando pacientemente. Sabíamos disso pois dali conseguíamos ver elas.

Eu adorava ver que minha irmã não estava tendo o mesmo tipo de infância que eu tive. Na idade dela eu estava tendo que conviver com a minha avó e o restante das anciãs da família — que costumavam nos visitar com frequência — e que costumavam pegar no meu pé com essa coisa de me comportar.

Já Jenny? Ela não ligava pra nada disso. Ontem mesmo ela havia feito como eu tinha ensinado: chutou um garoto nas canelas quando ele ficou chamando-a de apelidos ofensivos. Eu levei bronca quando a culpa caiu em mim, é claro, mas fiquei satisfeita mesmo assim.

Ela não chorava como eu chorava. Ela não se frustrava como eu me frustrava. — E eu me frustrava muito, e sendo criança eu nem sequer entendia o motivo direito — Minha irmã apenas agia, assim como qualquer outra pessoa da sua idade sem ideologias bobas na cabeça faria.

– Maria e eu conversamos sobre isso. Estamos procurando uma casa.

Eu gelei levemente ao ouvir aquilo. Um tempo atrás ele tinha dito algo sobre se mudar para outro estado... E se...

– Você vai morar com elas?

Ele negou, e parte da minha aflição desapareceu.

– Ainda não. Mas planejo fazer isso algum dia. Talvez liberar Maria do contrato também, se ela quiser. Ela precisa viver a vida dela também, e não pode fazer isso sendo babá de Aya até ela crescer.

– É mesmo. – concordei, imaginando ele se mudando para uma casinha para morar com a irmã dele, trabalhando num emprego diferente e finalmente tendo mais paz. E fiquei feliz com aquilo – Vai dar tudo certo.

– Estamos procurando uma casa por aqui por perto mesmo. Não quero ela longe de mim.

Eu admirava ele nunca falar do pai quando esse assunto surgia. Liam tinha literalmente pegado a guarda de Aya e, embora ainda não pudesse deixar de morar com os primos, ele fazia de tudo para cuidar dela como podia. Ele, Maria, Seu Kazuki, Dona Mai e a tia Nami, que mesmo do Japão dava um jeito de estar por dentro de tudo relacionado aos dois sobrinhos. Ele não contava com a presença do pai, mesmo que ele achasse o suficiente dar um cheque para sustentar a casa onde a filha morava com a babá.

Era complicado aquela história toda. Se Liam fosse morar com as duas agora ele teria que lidar com todas as despesas sozinho, pois o pai julgaria não ser mais necessário a "ajuda" dele e o faria ter que se virar. — Que homenzinho terrível, viu?!

Mesmo que Alice e George já tivessem conversado com ele sobre morarem todos juntos, Liam não quis dar esse trabalho. Era teimoso toda vida também, mas eu entendia o motivo. Fora que ele provavelmente tinha como objetivo de vida poder morar com Aya um dia, se possível apenas os dois, para viverem como a pequena família que eram e crescerem como melhores amigos.

– Vou ver com o pessoal daqui se alguém sabe de uma casa disponível. Tia Beth ou Dona Rosa com certeza devem saber.

Senti sua mão encostar na minha sem esperar e olhei para ele, sorrindo com carinho quando vi seus olhos cheios de gratidão e aquele brilho bonito de sempre.

A Ascensão de Alexandra Lobos (A Garota que Sonhava)Onde histórias criam vida. Descubra agora