Vovó querida...

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(Capítulo da SEGUNDA versão da história)

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  Naquele dia Liam foi embora levando o meu guarda-chuva emprestado. Ele deixaria em Dona Jô para eu pegar depois naquela semana.

Nós seguiríamos com a nossa rotina normalmente, sem nos falarmos por enquanto.

Na segunda-feira algo estranho aconteceu. Não um estranho ruim, só algo que eu definitivamente não estava esperando: Melanie me mandou uma mensagem. — Pois é, depois de um bom tempo nos dando gelo ela voltou a conversar tanto comigo quanto com as meninas como se nada tivesse acontecido. Eu fiquei feliz por tê-la de volta no nosso grupinho e por ver que ela não parecia mais tão retraída como estava antes. A única que não pareceu muito contente foi Vitória, sabe-se lá o porquê. — Ela me disse que a avó dela era dona de um mercadinho e que vez ou outra tinha abundância de vegetais por lá, tanto que às vezes precisavam jogar fora pois não tinham pra quem dar. E por causa disso ela quis saber se eu gostaria de receber alguns (as outras meninas moravam longe então fez sentido ela mandar mensagem só para mim, no privado).

Com a minha resposta positiva, quando chegou a tarde daquele dia, encontrei com ela num outro bairro próximo do meu e tive que receber a ajuda dela para voltar para casa — ela estava de bicicleta e eu, a pé. Eram muitas sacolas para eu levar sozinha e ela se ofereceu para me acompanhar, o que eu aceitei de bom grado.

Acho que ela gostou de me ouvir falar o caminho todo. Ela pareceu gostar bastante na verdade.

Quando chegamos na minha casa, convidei ela para entrar e fiquei estupefata tanto pela quantidade quanto pela qualidade dos vegetais. Até ri um pouco de desespero porque, caramba, o que eu ia fazer com aquilo tudo?! — Melanie apenas achava graça da minha expressão enquanto eu agradecia e dizia que iria ter que dividir com outras pessoas também.

E foi assim que eu decidi finalmente ir visitar minha avó. Não que eu precisasse de uma desculpa como essa para ir visitá-la é claro... É, na verdade eu precisava sim.

O problema é eu tinha passado a semana inteira frustrada por não ter nenhum trabalho para fazer. Fiquei em casa praticamente o tempo todo encarando o teto quando não estava fazendo as mesmas coisas de sempre. Quase fui fraca e mandei mensagem para Liam, mas me controlei e em vez disso refleti sobre a nossa situação. Acabei chegando à conclusão de que eu iria ter que me esforçar mais para confiar nos sentimentos dele. Eu não estava acostumada a ter meus sentimentos correspondidos então teria que ter muito cuidado para não agir de forma insegura (tanto com relação a ele quanto com relação a mim mesma) — afinal todos sabem no que um relacionamento com pouca confiança resulta. E não era esse tipo de coisa que eu queria atrair para a minha vida, muito menos para a dele.

Eu podia não estar numa época tão ruim da minha vida mas também não estava numa das melhores. E visitar minha avó era uma das últimas coisas que eu queria fazer naquele momento justamente porque estar com ela podia ser meio... difícil às vezes...

– Ô VÓÓ! – gritei em frente ao portão já abrindo-o para entrar sem esperar por ela – VÓÓ! VOVOZINHAA!

– Ai que gritaria é essa! – a ouvi resmungar de dentro de casa enquanto estava vindo, e isso me fez sorrir.

– Tô entrando! Se estiver pelada coloca uma roupa!

Antes que eu pudesse tocar na maçaneta ela abriu a porta como um trovão, carrancuda.

– Que gritaria é essa?! Isso daqui não é a casa da mãe Joana não!

– Bom dia pra senhora também. – abri um sorrisão pra ela que revirou os olhos – Nossa, é assim que a senhora recebe sua neta mais legal?! – eu ignorei sua carranca e reparei na mão dela suja de farinha de trigo – O que é isso? Tá fazendo bolo pra mim?

A Ascensão de Alexandra Lobos (A Garota que Sonhava)Onde histórias criam vida. Descubra agora