(Capítulo da SEGUNDA versão da história)
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Apesar de eu não gostar da barulhada que vinha sempre da lanchonete que havia na rua da minha casa, aquele silêncio que eu ouvia ao acordar no meio da noite me incomodava. Doía.
Era como se minha cabeça estivesse prestes a explodir a qualquer momento, com aquele fiiii infinito ecoando por todo meu ser ao ponto de me fazer levantar da cama e ficar perambulando sem rumo.
Acho que pior do que isso, só o som do ventilador desligando sozinho com a queda de energia. Ah, esse conseguia ser pior mesmo. Ainda mais quando se dividia a cama com uma criança que não sabia o que era respeitar o espaço da outra pessoa.
Após ficar vários minutos encarando a bendita maleta em cima da minha mesinha, deitada na cama ouvindo aquele som do silêncio horrível destruindo qualquer pensamento coerente que eu pudesse ter, eu me levantei e fui até a cozinha beber água.
Eu tinha que voltar a dormir para acordar cedo amanhã. Principalmente porque teria que levar Jennifer comigo para a barbearia visto que minha mãe iria trabalhar. Mas ali estava eu, com um copo de água na mão olhando para o nada no meio da noite.
Depois de chegar ao meu limite, voltei ao quarto, peguei a maleta, peguei o quadro do meu cliente que estava pra terminar há séculos e então sentei na sala após ligar a luz. E comecei a pintar com os olhos pesados de sono e ainda incomodada com aquele silêncio, mas agora entretida pelas pinceladas e as cores das minhas tintas novas. Entretida com aquele monte de novidade que eu achei que não iria ter tão cedo.
Eram quase quatro da manhã quando eu terminei de pintar, satisfeita com o resultado. E sim, eu provavelmente já estava como um zumbi. E estaria pior pela manhã com certeza.
Só depois de colocar um pouco de conteúdo na minha mente que eu consegui voltar a dormir, quando deitei e fiquei pensando na vida — ou melhor, no trabalho da escola, que de alguma forma estava começando a me consumir com preocupação.
Eu tinha ficado com a parte da pesquisa junto com Melanie e outras duas pessoas. Iríamos conseguir todo o conteúdo e então dividiríamos com o restante do pessoal — que ficou com toda a parte da organização.
– Anda, Jenny! Vamos logo! – falei já na porta de casa, no dia seguinte.
Era para estarmos prontas e principalmente saindo de casa às sete e meia, mas Jennifer tinha ficado enrolando com minha mãe e o resultado foi esse: nós duas saindo de casa às oito e vinte correndo. E ainda tínhamos que voltar antes das onze.
Eu tentava calcular o tempo que levaríamos para chegar lá e o que eu levaria para terminar o rascunho quando Jenny veio correndo com sua mochila brega e bagunçada nas costas com suas coisas de desenhar.
– Eu queria levar o celular de mamãe pra jogar... – ela resmungou passando por mim.
Eu tranquei a porta de casa e guardei a chave na mochila.
– Ela vai precisar. E lá não tem internet, cabeçuda. Não ia dar pra jogar nem assistir nada.
A gente começou a andar. Felizmente o sol não estava tão quente ainda, apesar de já estar incomodando um pouco.
– Vê se não me atrapalha lá, tá bom? – falei séria e ela concordou – Isso é trabalho, Jenny. Não quero você mexendo nas minhas coisas, entendeu?
– Entendi. – ela revirou os olhos.
Esse gesto foi tão coisa de adolescente que eu comecei a reparar nela e a notar o quanto ela havia crescido. Minha vida era tão corrida e agitada que eu mal via o tempo passando e a minha irmã crescendo. Infelizmente não éramos tão próximas quanto eu gostaria que fosse. Quando tínhamos alguns momentos do dia para passarmos juntas, geralmente estávamos ocupadas com outras coisas – ela jogando ou assistindo vídeos e eu, ocupada com os meus assuntos para resolver e meus surtos.
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A Ascensão de Alexandra Lobos (A Garota que Sonhava)
RomanceAlexandra nunca acreditou nesse papo de que a felicidade era algo a ser alcançado; ela sabia que era tudo sobre vivê-la, e não desperdiçar a vida correndo atrás dela. Porém infelizmente correr atrás de algo que não podia ser capturado era o que e...