(Capítulo da SEGUNDA versão da história)
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– Ah, você nunca ouviu as histórias que a minha avó e a tia Beth contavam na hora da sobremesa quando tinha almoço em família? Eram terríveis, Brenda! – falei para ela enquanto estava deitada na sua cama encarando o teto.
Era uma sexta-feira ensolarada e eu estava morrendo de calor. E por ter sido expulsa de casa por causa do meu mau humor — como eu poderia ficar de bom humor em casa derretendo em frente a um ventilador que fazia ventar mais quente do que a temperatura do lado de fora?! —, fui parar ali.
– Eu lembro.
– Sério, esses dias eu vi um vídeo de uma moça relatando como foi trabalhar na casa de uma senhora. Mas ela tinha tanta coisa ruim pra contar, Brenda! A coitada passou por tanta coisa que até bofetada na cara levou!
– Que isso!
– É! Era tanta humilhação, tudo só porque a dona não gostou dela! – falei indignada – Se não gostava dela ou do trabalho que ela fazia, por que simplesmente não a demitiu e contratou outra pessoa? Não, ela tinha que fazer o inferno até a mulher não aguentar mais e pedir pra sair. Ah, mas se fizerem isso com a minha mãe um dia... – meu sangue ferveu só de pensar.
– E tipo, tem pessoas que realmente aguentam tudo isso porque precisam do dinheiro, né? É bem triste...
Eu me virei na cama ficando de barriga pra baixo e encarei ela, ou melhor, suas costas já que ela estava ocupada recortando e escrevendo alguma coisa em cima da mesa.
– É, e você acredita que ela não recebeu o que tinha que receber pelo tempo que ficou lá?
– Não?!
– Não! A velha juntou os filhos e as filhas, tudo marmanjo metido a rico, só pra dizerem pra mulher que ela não tinha direito a nada. Olha que doideira! Imagina o quão intimidada ela deve ter se sentido na hora! Argh! Odeio essas injustiças da vida... – eu rolei na cama e cobri meu rosto, massageando-o.
– Como pode existir gente ruim assim, né? – Brenda comentou com tristeza, ainda que impressionada.
– Pois é. – eu tirei as mãos do rosto e fiquei por um tempo em silêncio encarando a vista do outro lado da janela. Até que finalmente expressei meu medo em voz alta – E se eu for ficar com a senhorinha e ela ficar me tratando assim? E se quando eu quiser sair ela quiser me ferrar desse jeito?
– Você precisa ir ver como ela é primeiro. E pensar muito antes de aceitar ou recusar. – ela disse com a sabedoria típica de alguém quatro anos mais velha – No meu primeiro emprego, no começo eu tinha um pouco de medo do meu patrão por causa de um boato que estava rolando na época. Diziam que ele era nervoso e que era meio abusivo às vezes. Fiquei tão nervosa antes da entrevista que achei que ia passar mal. Mas ocorreu tudo bem depois. – ela contou enquanto recortava alguma coisa. Uma folha de papel rosa – Ele até me ajudou a me acalmar durante a conversa, ficou me fazendo rir... E depois que eu fui chamada, ele disse que eu teria aquele primeiro dia pra ver se eu daria conta e se iria mesmo aceitar. Achei muito atencioso da parte dele. Acabou que ele era um amor de pessoa, tanto que até fiquei triste quando saí de lá.
– Então não era verdade? O boato sobre ele ser nervoso?
Eu senti que era pra eu ter feito mais perguntas a Eliza sobre a senhorinha. Mas ela tinha dado a entender que ela era uma boa pessoa...
– Não. Quer dizer, eu trabalhei lá por meses e não vi ele agir assim não. Acho que espalharam isso porque antes de mim tinha um cara que trabalhava lá que não respeitava ele de jeito nenhum. Aliás, nem ele nem os outros funcionários. Vivia tendo confusão lá por causa dele. E no fim do expediente ele enchia a mochila com pães e bolos. Levava tudo que dava, tudo que cabia na mochila dele do Hot Wheels. – ela disse achando graça – O pessoal tinha um ranço dele! No começo eles viam essas cenas e achavam que ele era privilegiado, né? Que Dorge deixava ele levar mais do que eles podiam. Só depois que descobriram que ele fazia isso sem ele saber. Deu uma confusão danada quando explanaram ele. E depois disso só foi ficando pior.
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A Ascensão de Alexandra Lobos (A Garota que Sonhava)
RomanceAlexandra nunca acreditou nesse papo de que a felicidade era algo a ser alcançado; ela sabia que era tudo sobre vivê-la, e não desperdiçar a vida correndo atrás dela. Porém infelizmente correr atrás de algo que não podia ser capturado era o que e...