(Capítulo da SEGUNDA versão da história)
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Certa vez eu fui chamada para participar de uma brincadeira com algumas crianças onde tudo que tínhamos que fazer era lançar potinhos de tinta num muro branco. Lembro que eu fiquei muito apreensiva no começo ao ver aquele desperdício. Mas ao ser encorajada várias vezes a ir fazer o mesmo junto com as outras, acabei indo. E foi assim que eu ganhei uma das melhores lembranças que eu tenho hoje.
Eu continuei achando um desperdício sim depois do primeiro potinho, porém depois, ao ver aquela variedade de cores, de desenhos aleatórios e os respingos manchando o chão e a minha roupa, aquela bagunça... Foi ali, naquele momento, que eu de fato aprendi a beleza de tudo aquilo. O poder que aqueles potinhos de tinta tinham.
Eu devia ter uns sete ou oito anos na época, e aquela atividade com certeza tinha sido uma espécie de experimento social para alguma pesquisa, mas foi algo que marcou muito minha infância. E foi como um presente porque, mesmo sendo tão pequena, mesmo não tendo acordado ainda e aberto os olhos para nossa realidade, eu conseguia perceber que havia algo de errado com a minha família e a minha vida no geral. — Eu me perguntava por que às vezes eu ia dormir de barriga cheia e, em algumas noites, ia dormir sentindo fome. Por qual razão tiravam sarro dos meus sapatos se eu gostava tanto deles. Por qual motivo alguns parentes diziam ter pena de mim.
Foi um presente porque, em meio a tudo aquilo, as cores e os desenhos foram o que me salvaram, o que passou a me distrair daqueles detalhes que eu não conseguia entender. E quando fui ver, eu tinha crescido mais um pouco — assim como minha vontade de pintar —. Minha irmã nasceu e então tudo aquilo de ruim tinha ficado para trás. Tudo que importava para mim, com aquela mente inocente de criança, era pintar e pintar. Passei a desejar poder pintar o mundo dos meus pais também — que sempre sorriam para mim mas quase nunca um para o outro — e a colorir o futuro da minha irmãzinha.
Eu era, fui um dia, um raio de sol — exatamente como Dona Jô costumava me chamar vez ou outra.
Aquela bolha colorida estourou quando eu cresci. Mas ao cair, felizmente percebi que ainda tinha aquelas manchinhas coloridas no chão, que secaram e ficaram ali. Minha esperança.
As coisas podiam estar um pouco diferentes agora — minha mente principalmente —, mas toda vez que eu, a Alexandra de dezesseis anos, pegava meus pincéis e tintas, eu lembrava que pelo menos um pouco daquele raio de sol, a garotinha que eu fui, ainda estava ali. Assim como meus sonhos sobre colorir a vida das pessoas que eu amava.
Eu deixei de passar o pincel lambuzado de marrom na tela, só então percebendo que tinha deixado algumas lágrimas caírem ao lembrar daquela história toda.
Rapidamente limpei meu rosto com as mãos manchadas de tinta e reparei que felizmente Brenda não tinha visto meu momento de pura nostalgia.
As pessoas que estavam por ali em volta, no entanto, deviam ter visto alguma coisa já que quando fui ver estava recebendo olhares simpáticos e outros cheios de curiosidade.
– Ô senhora autora, tá conseguindo escrever alguma coisa? – perguntei sorrindo para Brenda que estava sentada na mesinha a minha frente mexendo no notebook de cara feia.
Estávamos num bosquezinho, como alguns costumavam chamar. Era basicamente uma pracinha com casinhas e brinquedos de madeira — um lugar muito tranquilo (quando não estava entupido de crianças correndo e gritando).
– Sim, sim... Felizmente estou. – ela disse concentrada.
– Que bom. – murmurei e voltei a dar atenção ao meu quadro.
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A Ascensão de Alexandra Lobos (A Garota que Sonhava)
Roman d'amourAlexandra nunca acreditou nesse papo de que a felicidade era algo a ser alcançado; ela sabia que era tudo sobre vivê-la, e não desperdiçar a vida correndo atrás dela. Porém infelizmente correr atrás de algo que não podia ser capturado era o que e...