O cair da máscara

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Eu tinha pouco tempo livre até ter que ir correndo para a casa de Dona Rosa. Ainda assim, quando a aula acabou, sabendo disso Melanie saiu correndo e rindo na frente assim que saímos da sala. E eu fui atrás finalmente podendo dar os pulinhos e as risadinhas que eu havia segurado o dia inteiro pelo nosso êxito sem ter medo de ser julgada.

Parecíamos crianças afobadas correndo até chegarmos a loja de doces mais próximas.

Quando fomos passar no caixa, peguei a cestinha de guloseimas da minha amiga e passei tudo junto de uma vez.

Melanie me olhou espantada e pôs as mãos na cintura igual a figurinha do Pocoyo indignado.

– Pela outra vez. – dei uma piscadinha pra ela que sorriu.

Não soubemos pra onde ir depois que saímos da loja. Não queríamos ir para Dona Jô pois havia aquela possibilidade de encontrarmos com as meninas lá.

Estávamos nos falando normalmente, é claro. Só que, sei lá, o clima estava meio estranho. Eu tinha saído do grupo de uma forma não tão pacífica assim. Fiquei meio abalada até, antes de ser tomada pela determinação de chamar Melanie para fazermos tudo do nosso jeito — e todo mundo meio que se frustrou com a situação dela e sua recusa em dublar. Tudo isso por causa de sessenta pontos que nem precisávamos tanto.

Sendo assim, depois de pensarmos muito, nós fomos para a entrada do mesmo mercadinho da outra vez e nos sentamos lá sem que incomodássemos quem entrava e quem saía. E nos empanturramos de doces como se fosse nossa última vez. Foi um momento tão simples e inesquecível.

Numa tentativa de sermos saudáveis — para darmos um equilíbrio, sabe? —, nós fomos para a área das frutas e escolhemos uma maçã cada.

Mais uma vez eu notei que grande parte dos funcionários dali parecia conhecer e até respeitar muito a minha amiga — o que era ótimo! Porém não era aquele respeito de colegas e conhecidos distantes, e sim como se sentissem a necessidade de tentar agradar. Como se houvesse uma espécie de hierarquia ali.

– Que maçã gótica, Mel. – observei a dela. Minha mente já cheia de ideias de como poderia pintar aquele vermelho intenso e o amarelo discreto.

Quase tive que recolher meu queixo no chão quando a moça do caixa deixou que levássemos as maçãs de graça.

– Você é o que, a filha do dono?! – brinquei meio espantada quando saímos.

Melanie corou e arregalou os olhos, balançando a cabeça veementemente. E escreveu:

"Sou só a neta da dona"

Quase me entalei com a maçã.

– Ah tá. "Só" a neta da dona. – falei, e depois disso passei a tratá-la como madame só pra zoar e vê-la rir toda sem jeito.

Fui pra casa de Dona Rosa praticamente correndo. Eu não estava atrasada até então, porém meu ônibus já tinha passado e se eu ficasse para esperar o próximo, aí sim passaria da hora. E eu gostava de chegar um pouquinho mais cedo.

Nunca uma caminhada tinha sido tão gratificante como aquela.

– Ai, Dona Rosa, que bom que a senhora melhorou do resfriado, né? – conversei.

Tínhamos arrastado a sua cadeira de balanço para o meio do quintal, e eu estava deitada na grama com um lençol grosso sob meu corpo. Estávamos assistindo ao pôr do sol. — Minha patroa tinha discutido com a vizinha Elizete porque ela tinha lhe contado alguns spoilers da novela e por isso ela se revoltou e decidiu que não ia assistir o capítulo de hoje.

– Graças a Deus e a Nossa Senhora! Achei que ia passar dessa pra melhor!

Eu ri baixinho.

– Felizmente não foi dessa vez!

A Ascensão de Alexandra Lobos (A Garota que Sonhava)Onde histórias criam vida. Descubra agora