Canela! Essa foi a primeira coisa que Luna descobriu sobre seu pai, que ele cheirava a cigarros de canela. Ela sorria abertamente, o fato de estar ali naquela caminhonete, sentada ao lado de seu pai, era o motivo dessa felicidade.
Depois de quase 12 anos sem velo, mesmo quando ele mantinha o mínimo de contato possível, com algumas ligações a cada aniversario, estar realmente ao lado dele e indo para sua casa, aquilo era um pouco inacreditável para ela ainda.
Ela não conseguia esconder sua animação por estar ali, ela tivera que implorar pra ele permitir que ela viesse passar as férias de verão em sua casa, seu pai nunca realmente teve nenhum vínculo muito especial com ela, na verdade mais parecia que tinha esquecido que em algum momento de sua vida que teve uma filha, e apenas com muito esforço por parte dela conseguiu convence-lo de que ela não o incomodaria se ficassem apenas alguns dias na presença um do outro.
Luna não sabia muito sobre a vida de seu pai, quando viviam juntos, ele sempre se mantinha distante, quando seus pais se divorciaram ela foi deixada com a mãe e nunca mais teve alguma visita de seu pai. Ele parecia mais intimidador agora do que lembrava, a barba e bigode grisalhos, preenchia seu queixo forte no maxilar demarcado, os olhos verdes pareciam um lago profundo, o cabelo grisalho ainda com alguns fios castanhos brilhavam com a luz do sol.
Aquela beleza sempre esteve presente em sua família, seu pai era o exemplo disso assim como sua mãe, os dois juntos pareciam um casal de cinema, aquela beleza elegante arranca olhares de todos, ela herdara essa beleza, e condenava a si mesma por ter nascido com ela, odiara ter nascido com aqueles lábios cheios e rosados, muito menos com o os olhos verdes semelhantes ao de seu pai, seu cabelo preto curto era uma das coisas que puxou para sua mãe, junto com o humor ácido.
Seus pensamentos e devaneios se tornaram pó quando seus olhos encontraram a paisagem à sua frente, o verde era a cor principal, pinheiros abriam caminho para pequena estrada de pedra que se formava, casas coloridas e rusticas alegravam a natureza ao seu redor.
Luna estava encantada com aquele lugar, seus olhos brilhavam com emoção ao encarar aquela crescente vila que mais parecia ter saído de um filme. Sentia que estava adentrando um mundo ilustrado em seus livros de aventura. Cada loja ou casa agregava mais cor à floresta crescente em volta da vila, a mata densa parecia que estava se unindo com as construções, mais e mais casas e lojas foram aparecendo no caminho, a vila estava movimentada, pessoas entrando e saindo de lojas, crianças correndo e brincando, ali parecia um pedaço do paraíso.
Não demorou muito para estacionarem na frente de um restaurante, com toda a animação da viagem ela nem percebera que não tinha comido nada, seu pai pareceu perceber quando disse suavemente:
- Você deve estar com fome. Podemos comer e depois ir para casa. - Ela logo concordou com a cabeça.
Ao entrar dentro do estabelecimento seus olhos se encheram novamente com cor e luz, tudo ali parecia ser feito na medida para estar ali, o restaurante rústicos trazia mesas de madeira com cadeiras coloridas, no centro do estabelecimento, um grande tronco de arvore atravessava a construção, como se o lugar tivesse sido construído ao redor da grande arvore.
Eles sentaram em uma mesa perto da grande janela que tinha como vista a floresta densa, pediram comida e logo um silêncio estranho tomou o lugar, Luna não sabia bem o que falar, ela não era o tipo falante e seu pai parecia igual, ele a encarava minuciosamente como se estivesse analisando ela em busca de algo para falar
- Você parece muito sua mãe. – De fato, essa era a coisa que ela mais ouvia
- Todos dizem isso, mas pelo menos a personalidade não é a mesma. – Seu pai riu, e logo em seguida voltou a encara-la como antes
- E como vai à escola? – A pergunta monótona fez com que ela suspirasse, a última coisa que queria ouvir era sobre a sua vida escolar
- Bem...
Novamente o silêncio se fez presente, talvez ela devesse perguntar da vida dele, qualquer coisa que fizesse aquele peso se dissipar da mesa.
- A quanto tempo vive aqui? – Ela perguntou olhando para janela
- Desde que me separei de sua mãe, essa é a cidade onde eu nasci, eu tinha obrigações para cumprir.
- É um lugar lindo! – Ela exclamou sorrindo
- Sim! Kalaram é incrível – Os dois encaravam a paisagem da janela, contemplando a paz que fluía por aquela vista
- Deve ser maravilhoso morar em um lugar assim... – Ela conseguia se imaginar andando pelas ruas da vila em um dia de sol, indo ao mercado, e até pensava que seria fácil arrumar um emprego, Luna sempre teve o ar de sonhadora, mas se assemelhava mais com alguém que sempre sonhava com o que não pode ter.
- Você não gosta de morar na cidade com sua mãe? Não vejo o que uma jovem poderia fazer em um lugar que não tem um shopping – Seu pai riu de sua própria piada
- Eu nunca gostei de shopping mesmo – Ela respondeu sorrindo, sentia que as coisas com o seu pai não seriam tão difícil, talvez o universo estava planejando dar uma esperança de uma melhora em sua vida, mas ela já tinha se acostumado a suspeitar de tudo que fosse minimamente bom para ela.
...
A conversa que Luna teve com seu pai a deixou mais relaxada a respeito da sua estadia ali, tinha medo de incomoda-lo de algum modo, mas quando terminaram a refeição no restaurante foram direto para casa.
A casa de seu pai era uma copia das muitas outras casas de Kalaram, era como uma cabana, a estrutura em madeira escura com entalhos de lobo e luas no rodapé da porta de entrada, a casa tinha um tamanho modesto, a sala de estar era decorada perfeitamente com entalhos de madeiras em formas de lobo, quadros com pessoas sorridentes complementavam a alegria da casa.
Luna pegou um porta retrato onde seu pai e mais uma mulher estavam, e foi aí que ela percebeu que não havia perguntado nada sobre a vida de seu pai, se era casado ou se tinha filhos com outra mulher.
- Essa é sua esposa? – Luna encarou a mulher da foto, os cabelos castanhos escuros combinavam com seus olhos azuis piscina, ela estava abraçada com seu pai e os dois sorriam.
- Não! Apenas uma velha amiga. – Ele respondeu tirando o porta retrato de sua mão – Depois que me separei da sua mãe, não tive tempo para pensar em me casar de novo.
- Porque? – Ela não queria parecer intrometida, mas a vida secreta que seu pai vivia aguçava o seu lado curioso, como um homem como ele estava sozinho a tanto tempo? Talvez ele fosse do tipo que saia com varias mulheres, pensar em seu pai assim fez seu estomago doer.
- Eu sempre estive muito ocupado para me preocupar com essas coisas. – Ele falou indo em direção a escada – Venha, vou mostrar seu quarto.
Ela seguiu ele escada a cima, e parou assim que ele ficou cara a cara com uma porta de madeira escura, logo em seguida ele á abriu, revelando um quarto creme com uma grande cama de casal no canto direito em baixo de uma enorme claraboia, a luz da Lua entrava direto pela grande abertura de vidro, havia um guarda roupa e uma elegante penteadeira de marfim do lado esquerdo do quarto, uma segunda porta perto da penteadeira levava ela para o grande banheiro de ladrilhos coloridos em tom rose, a banheira branca combinava com o pequeno box ao lado.
- Vou deixar você descansar, tem toalhas dentro do armário do banheiro, se precisar de algo me chame – Ela agradeceu e assim seu pai saiu da entrada de seu quarto, seus passos ecoavam no corredor ate um silêncio voltar para o recinto.
Luna agora se jogava na cama depois de ter desfeito as malas e tomando um banho relaxante na banheira, ela até chegou a cochilar em meio a água quente e os sais de banho de morango.
Agora que encarava a incrível claraboia seu corpo relaxou completamente, se impediu de checar as mensagens no celular ou até mesmo de pensar em quem poderia telas enviado, aquele momento em silencio foi transformado em um sono profundo, dormiu profundamente e pela primeira vez em muito tempo não teve nenhum pesadelo.
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THE LOVE OF MOON
Kurt AdamCanela! Essa foi a primeira coisa que Luna descobriu sobre seu pai, que ele cheirava a cigarros de canela. Ela sorria abertamente, o fato de estar ali naquela caminhonete, sentada ao lado de seu pai, era o motivo dessa felicidade. Depois de quase 1...