O sol se pondo lá no horizonte é uma bela visão, que Fernanda admira da sacada de seu quarto na companhia de Sarah. Por insistência sua, a outra mulher ficou ali com ela depois do pequeno lanche da tarde que lhe trouxe. E desde então, elas já permanecem há mais de quarenta minutos em um esporádico silêncio, que é interrompido em largos intervalos de tempo por Fernanda que não consegue ficar calada ao lado de Sarah.
- Acho que vou querer morar aqui com você pra sempre.
A morena brinca em dado momento e lança um olhar logo em seguida à outra mulher ao seu lado para ver sua reação diante do que foi dito. Porém, Fernanda a encontra com um olhar distante e semblante pensativo, muito parecido a como estava no caminho do hospital até sua casa. A morena se questiona sobre o quê Sarah estará pensando para se encontrar alheia ao que havia lhe dito. A loira nem parece estar ali e Fernanda se aproveita disso para admirá-la sem que seja notada.
Uma brisa suave balança de leve suas madeixas loiras e Fernanda se vê admitindo que seu anjo da guarda é uma mulher muita bonita. Ela têm traços de alguém nobre, porte delicado, um sorriso encantador e uma tristeza profunda no olhar, que Fernanda daria tudo para saber qual é. Se sentiria muito útil se pudesse ajudá-la de algum modo, assim como Sarah lhe ajudou e ainda continua ajudando. Porém enquanto a loira não falar, Fernanda não tem como ajudar.
Provavelmente, Sarah ainda precisa de tempo para se sentir confiante e a vontade com ela, para lhe revelar seu segredo. Deste modo, Fernanda terá a oportunidade de retribuir a atenção e gentileza que a outra está tendo com ela.
Desde que se conheceram, Fernanda sentiu algo forte e inexplicável, uma confiança instantânea e uma necessidade de permanecer ao seu lado para não sair mais; de lhe proteger ainda que não soubesse bem do quê; e de cuidar dela.
- Sarah!!
De maneira sutil e delicada, Fernanda toca no braço da outra, atraindo de imediato sua atenção.
- Que foi?
- Está tudo bem?
- Sim.
- Tem certeza?
Sarah suspira e baixa os olhos para as próprias mãos, que descansam sobre seu colo. Pensa por um segundo se deve tocar naquele assunto de novo com Fernanda. E decide que precisa mais uma vez falar daquilo, até porque tal assunto está lhe atormentando.
- Não consigo deixar de pensar na sua família.
Por mais que não queira, sua mente volta e meia vagueia sobre tal assunto. O arrependimento de ter aceitado trazer Fernanda para sua casa, vem lhe assolar a todo instante que olha para aquela desconhecida e imagina uma família desesperada e preocupada com ela.
- De novo isso, Sarah?!
Fernanda se aborrece com a repetição daquele assunto. Para ela aquilo já tinha sido finalizado horas atrás no carro de Sarah, mas ao que parece para a loira não. Fernanda só gostaria que a outra mulher esquecesse aquilo. Se ela que é ela, não está preocupada e pensando em uma provável família que tem, Sarah deveria estar menos ainda.
- Você não está preocupada com eles, porque perdeu a memória. Mas fico pensando na angústia e no desespero que essas pessoas devem estar passando agora, e me sinto culpada por ter te trazido pra cá.
- Você não tem que se sentir assim. Eu que te pedi pra não me levar à delegacia.
Sarah a encara bem no fundo dos olhos e questiona:
- Não se sente mal ao pensar que seus familiares podem estar desesperados atrás de você?
Sem ao menos pensar duas vezes em uma resposta, Fernanda dispara:
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Another Life - Versão Sariette [Intersexual]
FanfictionNo litoral paranaense, uma rica empresária vinda de São Paulo acaba sofrendo um acidente de carro na estrada. É a partir daí que seu caminho se cruza com o de uma mulher solitária. Sarah Andrade encontra uma desconhecida ferida e desmemoriada a que...