Quem vê cara...

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No primeiro dia de outubro, Sakura passou oficialmente a ser a administradora da Fazenda Ouro Verde, todo e qualquer um que viesse tratar de negócios trataria com ela. Desde a venda das sacas para fora do país quantos os fornecedores, tratariam com ela, que diga-se de passagem era uma profissional centrada, muito séria e dedicada. Todos os dias pela manhã ela cavalgava pela plantação de café, conversava com os funcionários da fazenda, ver quais as necessidades da plantação, se os trabalhadores estavam satisfeitos com o máximo possível no trabalho. Desde a conversa entre ela, o pai e Sasuke, passou a pensar em ter sempre os colaboradores ao seu lado. Após verificar as plantações voltava para o escritório onde fazia a parte administrativa, o que a grande maioria achava chata, mas ela achava incrível, analisava as contas da fazenda, revisava contratos, tentava achar qualquer coisa que pudesse estar errado ou irregular, e claro deixava o escritório com a cara dela, cheio de flores. Seu pai as vezes ia ver como ela estava se saindo e quase derretia de orgulho. A filha se saia muito bem.
Mas nem tudo na vida são flores e a notícia de que Sakura era a nova dona da fazenda correu por todos os lados, e por muitos foi questionada, a grande maioria homens que não concordavam com uma mulher no comando. Um absurdo e um desrespeito da parte de Kizashi, era o pensamento de muitos.
Apesar de não se importar, o Haruno se incomodava, pois Sakura era competente e o fato de ser uma mulher não influenciava em nada o bom andamento dos negócios. Em contrapartida a moça já se preparava para o bombardeio de críticas e rezava aos céus para que isso não destruísse o que o pai construiu através dos anos. Seu gênio era terrível, mas teria de ser polida o suficiente para não afastar clientes.
Numa manhã de segunda Sakura recebeu o primeiro comprador, um homem grande, corpulento e assustador, mas não para Sakura, ela aprendeu a encarar seus medos de frente. Kakuzu era dono de uma grande cafeteria na capital do país, muito movimentada e que divulgava a marca de café dos Haruno a muitos anos, não era o comprador principal mas um dos mais ricos.
Sakura se arrumou cedo e acabou não indo até o cafesal nesse dia, com um vestido preto de mangas cumpridas, os cabelos soltos e uma maquiagem leve.
O homem chegou as nove da manhã, ela viu da janela de seu escritório o automóvel se aproximar, Kakashi o traria até ela.
Sakura sentia as mãos suarem, a respiração falhar algumas vezes e um frio na barriga, seria o primeiro cliente que ela veria cara a cara, normalmente se comunicava através de cartas ou telegramas.
Dois toques na porta informaram que ele havia chego
 - Pode entrar - Sakura anunciou.
Kakashi abriu a porta e o homem grande entrou, olhando sério para ela que tentava manter um sorriso simpático.
 - Então é verdade mesmo - ele disse com a voz grossa, mas que não intimidavam a Haruno - a fazenda que mais exporta café é administrada por uma menina.
 - Perdão senhor Kakuzo, mas eu não sou mais uma menina a muito tempo. - ela estendeu a mão - Sakura a propósito.
 - O que seu pai tinha na cabeça? - ele recusou o aperto da mão dela que ficou no ar por alguns segundos, a irritação começando a subir a cabeça dela.
 - Senhor Kakuzo, qual o problema em eu ser uma mulher ou um homem, fui ensinada desde menina a cuidar dos negócios de meu pai então tanto faz o que eu sou ou deixo de ser, a qualidade e o preço do café serão os mesmos e ...
 - A credibilidade não será! - ele disse rindo sarcástico - quem vai querer comprar um café vendido por uma mulher?
 - Qualquer um que saiba que qualidade não depende do sexo de quem vende.
 - Bem abusadinha, chame seu pai e para que eu possa fazer negócios de verdade. - desdenhou.
 - Meu pai não é mais o administrador dessa Fazenda. Todo e qualquer negócio é feito comigo e se o senhor não estiver satisfeito que se retire da minha frente - Sakura não gritou, apenas foi firme e forte como deveria.
 - Menina deixe de brincar comigo, chame seu pai imediatamente.
 - Meu pai nem mesmo se encontra na fazenda, os negócios são tratados comigo. Se não estiver satisfeito pode se retirar.
 - Que assim seja então. Não me envie mais nenhuma saca, dispenso seus serviços.
 - Um direito do senhor, mas guarde minhas palavras, você vai se arrepender.
 - Pois não vou mesmo. Passar bem mocinha.
 - Passar bem, seu velho carcomido - se dirigiu até a porta e a abriu com brusquidão.
 - Todos saberão quem é você Sakura Haruno.
 - É bom mesmo que saibam.
Quando ele saiu bateu a porta tão forte que sacolejou até mesmo as paredes. Voltou a sua cadeira e respirou fundo, sentindo as lágrimas virem com força.
A sensação de ter feito algo errado, juntando com a injustiça de ser tratada como inferior apenas por ser mulher, a vontade reprimida de esganar aquele imbecil, quando deu por si estava chorando copiosamente.
Mas não queria demonstrar fraqueza, principalmente para seu pai, queria provar que era capaz, mas chorar, na concepção de Sakura era um sinal de fraqueza, contudo naquele momento não estava aguentando.
Se levantou da cadeira e saiu pela porta principal que sempre estava vazia, correu até a cocheira e encontrou katsuyu celada, sozinha, provavelmente seria usada por Kakashi, não pensou duas vezes, subiu mesmo estando de vestido. O intuito era estravazar a raiva, achar um lugar calmo e se acalmar. Andar a cavalo a ajudava a pensar e ir até a cachoeira e ficar vendo a água cair a faria relaxar um pouco.
Cavalgou até a saída e de lá seguiu por uma trilha mais escondida, apesar da raiva e da tristeza, ela ainda tinha algum pudor.
Seguiu pela trilha que antes era tão conhecida e percebeu que ela havia mudado, a anos ela não andava por aquelas bandas, claro que havia mudado, seguiu cavalgando, realmente a havia acalmado, o contato com a natureza, as paisagens da mata de Konoha, o canto dos pássaros, os macaquinhos que a encantavam quando era criança, tudo isso a fez se acalmar, tão calma que não percebeu que não fazia a menor ideia de onde estava e que estava começando a chover.
 - Mas que merda.... - começou a ficar nervosa.
A chuva começou a engrossar e ela acelerou katsuyu, para onde ela não sabia, galopou até chegar em uma clareira e lá encontrar um celeiro abandonado que nunca viu antes. Mas que se estivesse vazio serviria para abrigar as duas da chuva pelo menos.
Se aproximou e desceu da égua de qualquer jeito por causa do vestido e dos sapatos, a amarrou em um toco que havia próximo, precisava ter certeza de que não havia nada nem ninguém que pudesse fazer mal as duas.
Entrou pé por pé, procurando o que quer que fosse ali, o lugar era um galpão abandonado, cheio de feno, e algumas teias de aranha enormes, assustador mas nada nocivo, um deck na parte de dentro, subiu para se certificar que realmente estava vazio e estava. Saiu e tirou katsuyu da chuva, ambas estavam encharcadas, e tremiam mas sair do vento e da chuva já ajudaria. Notou um brasão pintado na parede atrás delas, algo como uma raquete branca e vermelha. Ela se lembrava de ter visto em algum lugar, mas não lembrava onde.
 - Onde você me trouxe garota ? - Sakura acariciou a cabeça da égua.
Sentou no feno na esperança de se aquecer, enquanto a chuva aumentava ainda mais e o vento assoitava as janelas quebradas do lugar.
Após um tempo que Sakura não conseguiu dizer quanto,um trote rápido fora ouvido se aproximando, chegou perto de katsuyu que estava do mesmo jeito, significando que não era uma animal feroz. Só podia ser um cavalo. Seria alguem hostil ?
Ela temeu por sua vida, encontrou uma lima velha jogada que usaria se fosse preciso. Colocou ela a sua frente e ficou na frente da égua para protege-la também. Quando alguém que não havia sequer imaginado surgiu na porta.
 - Você está aqui !
🌸
O almoço foi servido ao meio dia em ponto como todos os dias, Kizashi sentou a mesa e o lugar de Sakura estava intacto, isso o alarmou, ela não se atrasava nunca.
Se lembrou da reunião que teria com Kakuzo, um homem arrogantes que Kizashi preferia não ter como comprador, nem sócio, nem nada na vida. Achou por bem verificar se estava tudo bem, quando chegou no escritório encontrou a porta aberta e o recinto vazio, rumou até a cozinha na esperança de encontrá-la fofocando com Rin.
 - Rin, cadê a Sakura ? - Kizashi perguntou com um tom de preocupação
 - Não vi ela hoje seu Kizashi.
 - Oras onde ela está?
Foi atrás de Kakashi, que também não a viu, e segundo alguns funcionários ela não deu sua costumeira volta no cafesal. O desespero começou a bater em Kizashi que sentiu a pressão cair.
 - Será que Kakuzo a sequestrou ? - ele se perguntou. Kakashi se aproximava.
 - Katsuyu sumiu também senhor, será que ela saiu para cavalgar ?
 - As botas ainda estão no quarto provávelmente não.
 - Quer que eu pergunte por ela na vizinhança ? - Kakashi sugeriu.
 - Vá, sim por favor. Vá até a casa de Ino também, ela pode ter ido pra lá
Kakashi montou em um cavalo e seguiu para a Mangekyo, olhando em volta para ver se não a encontrava, a mata era fácil de se perder, isso sem contar os perigos da mata como animais peçonhentos ou onças que rondavam o lugar.
Chegou até a Mangekyo e encontrou Sasuke juntando sacas para a colheita da tarde.
 - B'oatarde.
 - Kakashi o que aconteceu ? parece que viu fantasma - Karin que estava no terreiro tratando das galinhas que ciscavam por ali estranhou a visita
 - Sakura sumiu - sem cerimônia, Kakashi explicou o que aconteceu até onde ele sabia. Sasuke se alarmou. - não apareceu no almoço, teve uma reunião com um comprador e depois disso ninguem mais viu, seu Kizashi acho q ela tinha sido levada pelo homem mas uma das minhas éguas sumiu. Acho que ela entrou na mata.
 - Eu vou com você tentar achar ela. - a preocupação no peito. - vai até Kurama e vê se ela não se perdeu por lá, eu entro na mata. Se ela se embrenhou lá não vai conseguir sair sozinha - sentiu o primeiro pingo de chuva. - Karin traz a minha capa.
Menos de cinco minutos depois karin voltou com a capa de lã de carneiro, era grosseiro mas protegia do vento e da chuva, enquanto ela trazia a capa Sasuke preparou Aoda, seu cavalo, para sair a procura dela, Kakashi já havia partido para a kurama e de lá seguiria para a casa de Ino.
Entrou na mata densa, onde viu marca de pata de cavalo e deduziu que ela seguiu para a clareira, era possível que ela estivesse no galpão abandonado da Mangekyo, onde seu avô, a muito anos usava para abrigar os animais.
Seguiu pelo caminho que já conhecia, chegou na clareira, a chuva estava forte e os raios também, teria que atravessar rápido para não ser atingido por um.
Chegou na porta e deu de cara com uma Sakura apontando uma lima velha para ele
 - Cê está aqui! - ele disse com alívio - seu pai está te procurano - ela baixou o objeto.
 - Meu Deus eu me esqueci dele - ele colocou as mãos na cabeça.
 - O que houve prucê fugi? - perguntou sem muito tato, não percebendo que podia magoar os sentimentos dela, mais do que já estavam.
 - Eu não fugi - ela respondeu irritada - só sai para tomar um ar.
 - Durante cinco hora? - ela se espantou com a quantidade de tempo que havia sumido.
 - Isso não é da sua conta Uchiha.
 - So tô tentano ajudar, mas se cê não quer problema seu.
 - É, mais um para me dizer que eu não sei o que estou fazendo.
 - Num disse isso.
 - Mas pensou, todos pensam, eu sou mulher e não sei o que tô fazendo. Merda ! - estava irritada e acabou descontando no Uchiha - todos me vem apenas como uma moeda de troca, se case com ela e herde uma fazenda e uma fortuna. Eu estou cansada de ser tratada assim, Sasori, Kakuzo, você !
 - Eu nunca pensei nu'cê como moeda de troca. - Sasuke foi sincero.
 - Mas meu pai me ofereceu a você para um casamento. Houve um interesse. E pelo jeito é isso que você quer.
 - Se cê não enxerga não vô se eu a te dize.
 - Enxergar o que ? - disse desdenhando do Uchiha. - que você tem interesse em unir a minha fazenda a sua.
 - Pode enfiar a sua fazenda no ...
 - Olha lá como fala comigo Uchiha... Não sou uma das tuas éguas não. Não é só por que você é homem que eu vou baixar a cabeça para as suas ofensar. Pode juntar todas elas e ir pro inferno.
 - Cê é muito teimosa, parece uma mula e acha que o seu dote é o centro das atenção - ele dizia irritado, o tom de ambos bem acima do normal mas não chegavam a ser gritos - o mundo não gira em volta d'ocê. Se virou encarando a chuva que caia lá fora
 - Então porque você vem atrás de mim sempre? - Sakura perguntou irritada.
 - Porque eu amo ocê! - respondeu muito rápido, as palavras sairam primeiro que seus pensamentos. Sakura ficou catatônica olhando para ele. - eu... Eu não devia... Dizer...
 - Então por que negou o pedido do meu pai ? - Sakura acalmou o tom ao perceber que ele estava desconcertado.
 - Eu não quero ocê forçada, queria que cê quisesse ser minha mas já vi que isso nunca vai acontece. - ele disse derrotado - vamos embora. - lhe entregou a capa grossa para que ela não passasse mais frio.
Sem ter muito o que responder, Sakura ficou calada, subiram em seus cavalos e os dois seguiram de volta para a Ouro Verde em silêncio. Quando chegou Sakura foi recebida por Kakashi que parecia nervoso.
 - Sakura ! Onde cê estava ? - foi uma das poucas vezes que viu Kakashi preocupado de verdade, o homem costumava ser calmo e de poucas palavras. - seu pai não tá bem. E cê foge
 - O que ele tem ? - Sakura desceu rápido do cavalo e provavelmente Kakashi e Sasuke viram suas roupas de baixo, mas ela não se importou, estava preocupada com seu pai e a saúde frágil dele, se arrependeu amargamente por ter fugido.
 - A pressão dele baixou muito, está de repouso na cama, mas ainda está muito preocupado c'ocê.
A moça correu para dentro, se esquecendo até mesmo de agradecer o Uchiha, chegou no quarto encontrou seu pai deitado, estava pálido mas se animou quando viu que a filha estava intacta.
 - Sakura ! Quase me matou de preocupação - ela se abaixou e abraçou o pai com força, chorando tudo que segurou desde a manhã daquele dia. - calma, tá tudo bem querida.- ficou assim por mais alguns minutos até se acalmar, soltou do pescoço do pai quando percebeu que Rin entrou no quarto com uma bandeja com duas xícaras de chá camomila.
 - Respirei fundo e me conte o que houve filha.
Durante aquele final de tarde Sakura se sentou e conversou tudo o que houve entre ela e Kakuzo e o que fez em seguida. Guardou para si a discussão com o Uchiha, mas não deixou de pensar no que ele disse e no quanto ela estava sendo cruel em dar esperanças ao rapaz, decidindo assim se manter afastada dele. Afinal não tinha a menor intenção de se casar.
Sasuke depois de explicar onde a encontrou para kakashi rumou para sua casa, cabisbaixo, sentindo que ele e Sakura eram apenas uma aventura de primavera, nada mais, para a tristeza do Uchiha. Teria que se contentar em vê-la ser feliz longe dele.

... Não vê coração.

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