Mais vale um pássaro na mão ...

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Voltou para a fazenda sorrindo, a noite estava quente e estrelada perfeita pra dormir na rede do lado de fora, lembrando do beijo roubado. O fato de ter certeza de que ela não ficaria com o almofadinha deixava o peito do Uchiha leve, juntando com o beijo o coração parecia uma pena.
Gostava de Sakura e não queria que ela fosse infeliz em momento algum, por isso negará o pedido de Kizashi e por isso também socará o almofadinha. Mesmo que isso custasse a felicidade dele.
É, chegou a hora dele dar nome ao que estava sentindo... Mas ele mesmo não sabia nominar, sendo o bronco que era achava que só gostava dela, talvez ele precisasse de alguém para conversar sobre isso.
Suigetsu e Itachi ririam da cara dele, então os dois estavam fora de cogitação, talvez Karin. É, ela devia saber.
Já havia chego a algumas horas e foi se deitar sozinho na rede, como fazia sempre que precisava pensar ou espairecer.
Com a epifania que lhe ocorreu, rumou para dentro, segurando a ansiedade que sentia. Achou Karin sentada na mesa escolhendo feijão para o almoço do dia seguinte.
- Onde cê tava ?
- Na rede. - a resposta curta fez com que ela continuasse olhando para o feijão, mas o fato dele sentar a frente dela na mesa da cozinha lhe chamou a atenção, que olhou para ele esperando algum pedido. Sasuke era assim, quando rodeava muito é porque queria algo. - posso conversar com você.
- Claro que pode - Karin estranhou, ergueu uma sobrancelha esperando um pedido inuzitado - o que você vai querer que eu cozinhe? Não vem com os pratos da sua mãe que eu nunca acerto fazer.
- Não é isso ... - ele nem começou e já estava impaciente - eu preciso que cê não ria de mim...
- Eu não sou o Suigetsu...pode falar - Karin era casada com Suigetsu, mas eram completos opostos, ele estava sempre fazendo chacota e Karin sempre freiando as idiotices dele. Sasuke achava que era por isso que tinham se casado, um completava o outro.
- Hn ... - ele ficou com a cara amarrada e Karin diria até mesmo que ele estava vermelho, a luz da vela não ajudava muito. - eu ... Eu ... Acho que eu tô gostando de alguém.
- Da Sakura ? - perguntou rápido de mais, ela e Izumi como duas boas alcoviteiras, já haviam conversado sobre isso. Para as duas era nítido que Sasuke sempre fora apaixonado pela Haruno, o problema é que ele é um turrão e nunca admitiria isso, mas agora era diferente, ele estava confessando o que sentia para uma Karin que até brilhava de curiosidade.
- Eu não disse nomes. - ele começou a se arrepender. A ideia era só perguntar sobre sentimentos, não sobre pessoas.
- Tem coisas que ocê não precisa dizer. Cê só foi no jantar, pra vê ela, quando ela passa cê encara sem piscar, Izumi me contou como cê ficou no jantar - duas fofoqueiras, Sasuke pensou. - apesar das brigas cê sempre queria chamar a atenção dela e hoje cê chegou parecendo que viu a Iara. Se ocê não gosta dela, cê gosta de alguém que mora na Ouro Verde, e que eu me lembre as única mulher que tem lá são a Sakura e a mulher do Kakashi. A não ser que seja um homem que você esteja apaixonado...
- Merda, claro que não. - o bom humor foi embora tão rápido quanto chegou. - primeiro me escuta. Sabe quando cê fica feliz de ver a pessoa, e fica feliz de saber que ela vai ser feliz mas fica triste em saber que não vai ficar com ela?
- Sasuke você ta apaixonado... - Karin concluiu o raciocínio dele.- mas por que cê ficaria feliz e triste ?
Sasuke contou o que houve com Sasori, o fato de tê-la livrado do noivado forçado, da surra e sem muita vontade, contou do beijo.
- Eu não acredito que cê beijou ela - de boca aberta - ela te bateu?
- Claro que não - Sasuke ficou abismado com a pergunta. Por que ela bateria nele?
- Então ela queria o beijo. - os olhos de Karin estavam esbugalhados, a empolgação dela estava começando a assustar. - Sasuke será que ela sente o memo?
- Não. Claro que não. - ele gostaria que fosse mas não, ela só estava brincando com ele. Com os sentimentos dele, sem saber exatamente o que ele sentia. Em resumo uma Diaba.
- E se .... - ela começou. Não sabia se era uma boa continuar com a ideia.
- O que Karin ? - ele já estava mal humorado mas não do jeito de sempre, parecia mais um menino contrariado. Que Karin até achava bonitinho, parecia o Sasuke criança, que ficava bravo quando Mikoto o mandava tomar banho.
- E se você tentasse conquistar ela? Sabe fazer ela gostar d'ocê, ate ela aceitar se casar co'cê.
- Tá achando que eu sô algum tipo de idiota Karin ?
- Qual o problema ? Cê gosta dela, e se ela passar a gostar d'ocê? O necessário para um casamento feliz é o amor, claro, todo o resto tamem, mas o princípio é o casal se amar.
Sasuke olhava para ela, pensando na hipótese, mas achando impossível isso acontecer, ele não era um grande galanteador e ela não era uma mocinha ingênua. As chances de dar muito errado eram grandes de mais, mas não custava tentar, custava?
- Vamos fazer o seguinte - Karin o tirou dos devaneios - eu vou te ajudar, e Izumi também, tenho certeza - antes que ele começasse a retrucar - Itachi e Suigetsu não saberão, mas cê tem que aceitar o que a gente vai falar.
Ele assentiu vencido.
Tinha que tentar pelo menos.
🌸
Seguiu o pai até o escritório, que estava com as duas cadeiras viradas, o tapete bagunçado e uma xícara quebrada no chão. Colocou o recinto no lugar antes de sentar e conversar com o pai. Não sabia se seria uma conversa amistosa ou uma briga pelo que aconteceu com Sasuke e Sasori, afinal ela quem levou Sasuke até a conversa particular que eles teriam. Queria por os pensamentos no lugar antes de começar, o beijo ainda despertava borboletas em seu estômago.
Seu pai se sentou na cadeira atrás da mesa, sério mas com olhar de ternura para a filha, Sakura se sentou onde horas antes Chyo havia se sentado. Olhou para o pai e esperou.
- Sakura eu preciso te contar um segredo que venho carregando desde antes de sua mãe morrer. - ela parou para escutar com atenção, tudo que vinham de antes da mãe falecer era muito sério e muito triste, Sakura não esperou menos que isso - eu tenho a mesma doença que ela.
Não havia o que dizer, Sakura ficou em silêncio esperando algo que não veio, a moça continuava séria e impassivel diante do pai. Até que o silêncio se tornou insustentável.
- Mas você está se tratando não está? Você vai ficar bem - a voz embargada, segurando o choro.
- Sakura - ele respirou fundo e disse o que nenhum pai quer dizer a um filho - querida, eu tenho um pouco mais de um ano de vida.
Sakura não aguentou e caiu no choro, suas lágrimas desciam como cascata, não conseguia nem mesmo controlar os soluços, não conseguia dizer nada. Ele se levantou e foi para a frente, parando de frente a ela apoiando o traseiro na mesa. Queria ver a filha de perto, cada dia que passava para ele era como se fosse o último.
- Eu gostaria, de todo o meu coração que você não sofresse, mas sei que é impossível - se ajoelhou para ficar da altura da filha sentada na cadeira, Sakura não conseguia olhar para cima, sua vontade era de chorar em posição fetal, aquele pesadelo estava acontecendo de novo e não tinha nada que ela pudesse fazer. - olhe para mim querida - segurou o rosto dela para que olhasse para ele - eu preciso que você me ajude. Eu preciso de você firme e preciso que aprenda tudo que tem a aprender sobre essa fazenda antes que eu caia de cama como ... - a voz embargou, quase não saiu - como sua mãe. - a lembrança de Mebuki mexia muito com ele. Começou a chorar e abraçou a filha que chorava copiosamente, ficaram assim por muitos minutos.
- Sua ideia de expulsar o Akasuna foi genial - Kizashi conseguiu arrancar um sorriso choroso da filha.
- Claro que foi! - ela disse com uma voz embargada - fui eu quem tive a ideia.
Ambos riram e se olharam.
Sabiam que teriam uma caminhada árdua pela frente mas se estiverem juntos, mesmo com a dor tudo ficaria bem, dentro do possível.
🌸
No dia seguinte Sakura e Kizashi acordaram cedo, ela com cara de quem chorou a noite toda e Kizashi estava leve, talvez por ter revelado a verdade a filha.
Com essa situação Kizashi começou a por em prática o plano de passar a fazenda para a filha ainda em vida. Queria vê-la administrar, ser a dona, ter certeza de que ela ficaria bem.
Gostaria que ela se casasse mas pelo jeito seria impossível visto o gênio difícil da filha, e como o garoto Uchiha disse seria engaiolar um passarinho.
Sentados a mesa de café, Kizashi já pensava por onde começar e percebeu a filha de vestido. Um vestido muito bonito por sinal, numa cor bege, com detalhes em preto, mesmo morando na roça, como ela mesma dizia, Sakura fazia questão de usar seus belos vestidos, mas hoje ele precisava da Sakura moleca, da Sakura de calças e um chapéu.
- Querida, hoje eu começarei a te ensinar algumas coisas dessa fazenda. - ele não tinha tempo para ficar chorando e a filha também não. - comece trocando essas roupas, ponha uma calça, camisa e chapéu vamos dar uma volta a cavalo pela fazenda.
- Certo papai. - mesmo estando triste Sakura ficou entusiasmada, ela adorava os assuntos relacionados a fazenda. - o que vamos fazer hoje ?
- Que bom que perguntou, hoje eu, você e Kakashi começaremos pela lavoura.
Por dentro e por fora Sakura era uma mistura de sentimentos, sempre sonhou em ser a Fazendeira, a Administradora, mas as circunstâncias não era boas. Mas ela agarraria a chance com toda a vontade que ela tinha e mostraria para o pai que não precisava de homem nenhum. Correu até o quarto para colocar as calças de cor marrom, uma camisa branca que ficava levemente aberta na parte de cima, botas de cano longo e um chapéu de palhar que sempre usava para cavalgar no dias quentes.
Os cavalos já prontos para os três, que saíram pela porteira que dava para as plantações, fazia cerca de dois anos que Sakura não ia para aquelas bandas.
Era começo de primavera e as flores dos pés de café se abriam, parecia com um véu enorme de noiva, encantando a moça.
- A colheita dessa safra deve ser feita daqui oito meses - Kizashi falava pra Sakura que observava a magnitude da lavoura de seu pai. - quando os frutos estiverem maduros. Vamos até o final para que você entenda o tamanho total dos nossos hectares.
Ela assentiu e continuou a trotes com os cavalos, não havia pressa, ele ensinaria tudo a ela e para que não houvessem dúvidas voltaria e repetiria quantas vezes fossem necessárias.
Chegaram ao final da plantação onde a cerca da Ouro Verde ficava paralela as laranjeiras da Mangekyo, as árvores estavam carregadas, claro era o melhor mês para a fruta, setembro, provavelmente elas deviam estar bem doces e as flores lindas, brancas deixavam tudo mais lindo, enchendo os olhos da moça.
Desde menina Sakura sempre fora apaixonada por flores, sempre teve vasinhos em seu quarto na fazenda e em Paris, sua varanda era cheia de vasos com flores desabrochando sempre. Se queria agradar-la era só presentea-la com flores, mas não rosas, ela nunca gostou de rosas, era muito fácil comprar rosas, ela gostava do simples, uma flor roubada de um arbusto já era suficiente.
Enquanto apreciava as flores lindas de laranjeira, viu em cima da árvore a última pessoa que imaginou que veria, ou melhor que gostaria de ver.
Um Sasuke sem camisa sentado num galho da árvore encarava ela se aproximando a cavalo. Do outro lado da cerca os trabalhadores da Mangekyo colhiam laranjas e as colocava em sacos, alguns assim como Sasuke estavam dependurados nas árvores jogando o fruto para a pessoa na raiz. Mas só Sasuke estava sem camisa.
O peito forte, a testa suando, os cabelos bagunçados por baixo do chapéu de palha, e um olhar malicioso para a Haruno que estava vermelha como um pimentão, as lembranças do começo da noite passada a atingiram como uma bofetada, a deixando desconcertada, tinha esperanças dele fingir que não os viu quando seu pai fez o favor de ascenar e gritar, como se Sasuke já não os tivessse visto.
- Sasuke - gritou fazendo um gesto para que ele se aproximasse da cerca. O Uchiha pulou da árvore no chão com facilidade e veio a passos lentos até os três, Sakura não sabia onde esconder o rosto de tanta vergonha. - você foi embora ontem e não consegui agradecer o que você fez pela minha filha.
- Não precisa se preocupar - ele disse sério, pensando que a recompensa foi dada ontem mesmo - não foi nada de mais.
- Ora deixe disso rapaz, estou te devendo essa. - Kizashi gostava do rapaz, queria mostrar a ele sua gratidão. - vamos combinar um jantar aqui em casa, para você seu irmão e as pessoas que trabalham com você. O que acha ?
- Não sei - ele disse e jogou um olhar malicioso para a Haruno que corou mais ainda - vo ver com Itachi, e mesmo assim não quero aborrecer sua filha
- Claro, claro não assume compromisso pelos outros não é? E não se preocupe com Sakura, tenho certeza que ela também quer vocês jantando em casa. Não é filha ?
- Sim papai - ela nunca se sentiu assim. Nervosa e envergonhada.
- A senhorita tá bem? - perguntou vendo uma Sakura parecendo um pimentão de chapeu. - tenho água ali quer?
- Não se preocupe... Eu só desacostumei com o calor de Konoha - ela respondeu odiando o Uchiha - papai vamos voltar ?
- Não, claro que não querida, o tour só começou, você precisa aprender muito da lavoura ainda sim ? Logo será com Sakura que você irá negociar as hortaliças que você nos vende - internamente Sakura revirou os olhos só precisava sair de perto do Uchiha.
Ela se sentia envergonhada pelo beijo, não por ele estar sem camisa, e lhe lançar um olhar para seduzi-la.
Ela um bastardo, se queria ver a Haruno sem graça ele conseguiu. Apesar da triste notícia a lembrança do beijo também não a ajudou a dormir.
Os três saíram cavalgando e sasuke se aproximou da cerca, visto que sakura ficou para trás.
- Não adiantar ser uma Diaba e depois ficar toda encabulada - Sasuke disse baixo, como se dissesse a si mesmo, mas claro que ela ouviu.
- Quem disse que estou encabulada? É só calor...
- É calor ou saudade do meu beijo ? - ele disse convencido, Karin disse que ele deveria tentar descobrir se ela também nutria algum sentimento.
- Escuta aqui seu atrevido - ela disse brava, os olhos verdes chegavam a faiscar - só porque você me beijo não significa que eu pensei nele a noite toda. - ela colocou a mão na boca como se freiasse o que já havia dito mas era tarde de mais.
Sasuke só conseguiu sorrir perante a afirmação. Karin tinha razão, alguma vontade havia dentro da Haruno e sabendo disso Sasuke lutaria até sua última gosta de sangue para conquista-la.

... do que dois voando

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