Talvez você ache que entrar para um novo colégio em plena adolescência seja desafiador. É claro que é. Agora imagine ser uma jovem de dezesseis anos, ter tido apenas aulas particulares e, de repente, seus pais decidirem te enviar para um lugar que, há um ano atrás, só admitia meninos.
Infelizmente, essa era a atual realidade de Florence Faure. E, nessa nova atmosfera, ela mal conseguia respirar.
Os pequenos saltos de suas botas estavam consideravelmente escorregadios contra as pedras da rua, o que a fazia andar rigidamente, de joelhos esticados. Ela apertava e esfregava a tira de sua bolsa de couro traspassada enquanto mordia os lábios e pensava "Será que trouxe todos os livros?"
Ao se aproximar de uma esquina, parou de súbito. Os portões de ferro do Liceu Marion Le Foy, ou M.L.F, se erguiam imponentes a menos de 60 metros. Incontáveis meninos conversavam, riam, fumavam e, basicamente, dominavam o pátio e os arredores amplos do lugar. Por mais que não admitisse, Florence sentiu-se intimidada.
Um assovio soou às suas costas, e então uma bicicleta em alta velocidade a cortou, tão próxima que seus cabelos acobreados se bagunçaram um pouco. Ela rapidamente os prendeu, constrangida.
- Ah, olá.
Seu corpo todo deu um pequeno pulo, e ela se sentiu a garota mais patética existente. Parecia um animal acuado, se assustando por quase nada.
- Oi - disse, forçando-se a virar o pescoço, mas sem olhar diretamente para o garoto atrás dela.
- Você... vai entrar? - pigarreou.
- Ah, não.
Ele assentiu, meio desconcertado, e prosseguiu. Ela o observou ultrapassá-la enquanto continuava ali, parada na esquina. Um suspiro saiu de seus lábios antes que pudesse ser contido.
- Meu Deus, não acredito que vamos estudar com esses...
-... príncipes!
-... ogros! Jac, você está vendo o mesmo que eu? Aqueles imbecis estão se socando.
- E continuam bonitos mesmo assim! Pare de julgar tanto os outros, Mila.
Duas meninas apareceram na rua paralela, de braços dados. Uma tinha cabelos escuros bem curtos e franja, e a outra usava os cabelos cor de trigo num coque. Uma sorria, exibindo dentes tortos e covinhas e a outra sacudia a cabeça, aparentando indignação. Logo ficou bem claro quem era Jac e quem era Mila.
Florence coçou a garganta e se preparou para o primeiro ato de coragem que tomaria no dia.
- Com licença. Olá.
As duas a olharam e ela congelou por um breve momento. Teria que falar, agora. Antes que pudesse fazer seu pedido de resgate e escolta, porém, a suposta Jac interrompeu-a:
- Você também vai estudar aqui?
- Vou sim.
- Graças a Deus, pensei que eu e Mila acabaríamos sozinhas aqui.
- Como se isso fosse ser um problema para você - resmungou a loura intimidante enquanto Florence se aproximava. - Prazer, sou Mila.
- E eu sou Jacqueline, mas me chamam de Jac.
- Florence.
- Bom, acho melhor irmos entrando porque...
Um outro garoto passou de bicicleta e dirigiu um "Oi, gracinha" para Mila. Péssima ideia. Uma maçã bem vermelha e surpreendentemente grande foi atirada em sua direção. Quando atingiu as costelas do rapaz, ele gemeu e quase caiu.
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Marion Le Foy para Garotos e Garotas
RomanceO liceu Marion Le Foy finalmente abriu suas portas para as garotas e Florence Faure foi uma das poucas selecionadas para entrar no primeiro ano do ensino médio do tão disputado colégio. Lá, ela e outras vinte e nove meninas lidarão com os desafios...