capítulo 9

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O crepúsculo tornava-se cada vez mais púrpura a cada passo que davam. Florian andava devagar, as mãos nos bolsos, um cigarro atrás da orelha. Jac quase saltitava, seus saltos demorando um segundo a mais para encostar no chão. Ele era bem mais alto que ela e andava com confiança, mas descontraído. Ela o seguia, sentindo-se segura com sua presença.

— Então, Jacqueline, você é muito amiga de Florence?

— Sim, é claro. Apesar de termos nos conhecido há pouco tempo. — Ela segurou brevemente a respiração. — A propósito, pode me chamar de Jac, se quiser. Todos me chamam assim.

— Eu gosto do seu nome, Jacqueline. E não gosto de ser igual a todos.

— Você não é. Nem um pouco.

Ele a olhou de cima, ela levantou os olhos. Desaceleraram os passos gradativamente. Jac se aproximou um pouco mais, mas Florian apenas sorriu, colocando uma mão em sua bochecha.

— Seus pais não vão gostar que você se atrase.

— Eu não moro com eles. Me mudei para a casa dos meus tios. — Ali estava ela de novo, a sombra de tristeza. Florian, que olhava-a com atenção, notou a mudança, mas não a pressionou por mais respostas.

— Então não é daqui?

— Não, sou argelina.

Ele engoliu em seco. Argelinos não eram muito bem-vindos na França, especialmente por aqueles mais conservadores, e seus pais faziam parte desse grupo. Isso despertou nele um senso de proteção que nem mesmo sabia que tinha. Jac o olhava com expectativa, talvez esperando saber se seria rejeitada ou não.

— Não ouvi o sotaque — brincou.

— Acho que o perdi. Vim para cá com oito anos. Às vezes me esqueço de onde sou, mudaram até meu sobrenome.

— Por quê?

— Para me passar por francesa. Agora, eu uso o sobrenome do meu tio, que é francês de verdade.

— Qual é o sobrenome do seu tio?

— Bourgeois.

— E qual é o seu verdadeiro?

— Ameur.

— É lindo. Combina com você.

Ela deu um sorriso triste. Algo se apertou no peito de Florian.

— Jacqueline, gostaria de ir ao cinema comigo?

O rosto dela se iluminou e ela deu um riso de descrença antes de responder:

— É claro! Eu adoraria!

O rapaz sorriu e assentiu, voltando a andar. Jacqueline começou a falar sobre os filmes que viu, que vai ver e os que gostaria de ver. Sua tagarelice o confortou. O silêncio dela o incomodava.

Chegando à porta da casa dela, Florian a parou e tomou alguns segundos para admirá-la. Cabelos curtos e escuros como carvão, doces olhos castanhos e dentes que, mesmo tortos, eram adoráveis. Sem falar nas covinhas.

Ele a beijou. Antes que pudesse dizer qualquer coisa. Antes que pudesse pensar.

Se separaram quase tão rápido como se juntaram. Um brilho perpassou os olhos de Jac. Ela o pegou pelas lapelas e o puxou para outro beijo, mais intenso e apaixonado.

Florian deslizou uma das mãos da nuca para a cintura dela, já que Jac parecia precisar de apoio para ficar na ponta dos pés. Ela tocou a pele lisa e recém-barbeada de seu rosto, acariciou seu pescoço.

Ele já havia beijado outras garotas. Garotas que seriam consideradas mais bonitas ou experientes. Mas, naquele momento, só havia Jac, e Jac era sua garota dos sonhos.

Marion Le Foy para Garotos e Garotas Onde histórias criam vida. Descubra agora