capítulo 3

183 19 9
                                    

- E então, como foi o primeiro dia?

A família Faure estava reunida, jantando na pequena cozinha da casa. Florian comia de cabeça baixa, contrariado. Florence precisou responder:

- Bom. E diferente.

- Falaram com o tio de vocês?

- Não consegui. Devia estar ocupado com a entrada de todas essas garotas - disse Florian, e Florence o olhou, um pouco ofendida. Pelo jeito que ele falara, parecia um problema.

- E você cuidou de sua irmã, Florian? - o pai perguntou. Florence respondeu essa pergunta mentalmente com um "Não. Bem longe disso".

- Ela sabe se cuidar sozinha.

A garota cerrou as sobrancelhas, descrente com a audácia do irmão. Se tivesse respondido isso ao seu pai, com certeza estaria com as bochechas latejando.

Apesar de ter soado como um insulto, era verdade, aparentemente. Florian permanecera afastado dela durante todo o tempo, envergonhado ou coisa parecida. E não procurara saber se ela precisava de ajuda em momento algum.

A conversa se encerrou por ali. Depois de lavarem os pratos, os irmãos subiram para ir dormir. Florence evitou qualquer tipo de proximidade com Florian. Se ele queria distância, então a teria.

φ

No segundo dia de aula, Florence já se sentia menos tensa. Havia menos olhares, menos pressão e mais familiaridade pelo local. Jac parecia especialmente radiante.

- Hoje teremos educação física!

O nervosismo de Florence voltou como uma enxaqueca. Ela tinha esquecido da aula, mas lembrava muito bem do uniforme.

- Está tudo bem, Flo? Parece que chupou limão azedo.

- Teremos que usar aqueles shorts minúsculos, não é? E aquelas blusas coladas...

- Relaxe, Flo. Ninguém vai reparar se sua calcinha ou seu sutiã estiver aparecendo. Os garotos são loucos por futebol.

- Como você sabe que vamos jogar futebol?

- Com certeza vai ser um esporte assim. Qualquer coisa que envolva bolas e chutes e coisas agressivas e desnecessárias.

Florence se conformou um pouco. E, quando chegou a hora da aula, percebeu que não precisaria se preocupar com olhares em sua direção. Afinal, Louise estava ali.

Seu cabelo castanho encaracolado estava preso num rabo de cavalo que ia até sua cintura. E que cintura. O uniforme que Florence considerava feio até então parecia uma peça de alta costura no corpo curvilíneo da garota. Sua pele marrom brilhava, mas não com suor, e sim com algum tipo de magia que ela escondia. Sem falar dos olhos castanhos charmosos, cobertos por cílios longuíssimos.

- Meu Deus, não temos chance nenhuma contra ela - suspirou Jac, exalando admiração. - Parece uma sereia.

Alice se juntou a ela, ajeitando os óculos. Seus shorts eram os mais longos, quase pareciam bermudas, as meias que usavam subiam quase até o joelho. Louise disse alguma coisa que a fez rir e elas foram até onde o professor estava, no centro do ginásio.

Mila, Jac e Flo seguiram-nas. As cinco eram as únicas na quadra. Os meninos chegaram de uma vez só, em bando. Louis estava mais atrás, os lábios ainda túmidos e arroxeados.

Marion Le Foy para Garotos e Garotas Onde histórias criam vida. Descubra agora